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Informe Circular - CâmaraPox/Rede Vírus MCTI – nº01/2022
Casos de infecção por “ monkeypox vírus”, também conhecido como “varíola dos macacos” foram registrados no Reino Unido, Portugal, Espanha e Estados Unidos em maio de 2022. A RedeVírus MCTI está atenta, acompanhando a literatura em relação a estes casos. Não há registros de varíola dos macacos no Brasil.
O monkeypox vírus é endêmico na África, embora casos esporádicos já tenham sido relatados nos Estados Unidos, após a importação de roedores, hospedeiros naturais desses vírus. O nome deriva da espécie em que a doença foi inicialmente descrita em 1958. A literatura relata que a transmissão do monkeypox vírus ocorre após contato com animais infectados. A transmissão entre seres humanos pode acontecer após contato direto com lesões ou secreções corporais. A transmissão por superfícies e objetos contaminados é possível. O vírus penetra no organismo por pequenas lesões na pele (mesmo que não visíveis), pelo trato respiratório ou por mucosas (olho, nariz e boca). Nota-se também que a proximidade física com indivíduos contaminados é um evento importante para que haja transmissão. Não parece haver ainda evidência de transmissão sexual (ie. pelo sêmen ou outros fluídos genitais), mas mais provavelmente a transmissão pode acontecer pela proximidade com lesões ou por via respiratória durante o contato sexual.
Uma vez havendo contato com um caso suspeito, o tempo para início da doença varia entre 5-21 dias (mais provavelmente entre 7-14 dias). Os sintomas iniciais são de uma infecção viral sistêmica inespecífica (febre, mialgia, lombalgia, calafrios e prostração) que evolui com lesões epiteliais, especialmente pele. As lesões se iniciam 1 a 3 dias após o início da febre e começam com uma erupção cutânea que comumente se inicia na face e dissemina pelo corpo. As lesões cutâneas evoluem para lesões vesiculosas que se escarificam, assemelhando, portanto, a quadros de varicela (catapora). As lesões são em geral múltiplas e se curam entre 2 e 4 semanas. Chama atenção a presença de linfadenopatia que pode ser extensa e precoce. De forma geral o prognóstico é bom e o cuidado geral e paliativo das lesões é o tratamento para os casos não complicados. As lesões e o escarificado das lesões são contagiosas e o vírus é bastante resistente na natureza, sugerindo cuidados extras com roupas de vestuário, cama e banho de um indivíduo infectado.
Além do diagnóstico diferencial com varicela (catapora), as lesões podem se assemelhar nas fases iniciais com as lesões secundárias de sífilis, mas a evolução é diferente com presença de linfadenopatia. No Brasil ocorre a vaccínia bovina, causada pelo “ vaccínia vírus” , e cujos sintomas e lesões na pele são muito semelhantes ao quadro descrito para a varíola dos macacos. A vaccínia bovina, portanto, é um diagnóstico a ser diferenciado no contexto epidemiológico apropriado. As lesões de herpes (labial, genital ou zoster) se assemelham àquelas da varíola dos macacos e podem ser consideradas no diagnóstico diferencial. Nesse momento, casos potenciais de varíola dos macacos devem ser suspeitados em indivíduos retornando de viagem do exterior, com lesões de pele características (vesículo-pustulosas múltiplas que escarificam) e linfadenopatia, sem história de contato com outros indivíduos que tiveram varicela (catapora). Boa parte dos indivíduos que tiveram a doença nos países afetados eram homens jovens e que fazem sexo com homens. A suspeição diagnóstica nesse momento deve ser maior nesse grupo, mas não há evidência de transmissão sexual direta.
A confirmação diagnóstica se dá por testes moleculares (RT-PCR) que detectam sequências específicas do vírus em amostras do paciente. Deve haver cuidado ao se obter essas amostras e as mesmas transportadas em recipiente lacrado e desinfectado na parte externa, devido ao potencial infeccioso dos mesmos. Neste sentido, as amostras devem ser enviadas ao LACEN de referência da localidade.
A vacina contra a varíola (formulada com vaccínia vírus) provavelmente protege contra infecções causadas por monkeypox vírus, uma vez que existe sorologia cruzada entre os vírus do gênero Orthopoxvirus . No entanto, desde as décadas de 70-80, com a erradicação da varíola, a vacinação em massa foi interrompida. Não há medicamentos de rotina usados contra infecções causadas por monkeypox vírus. Não é recomendado debridar as lesões epiteliais causadas por este vírus, uma vez que infecções secundárias bacterianas podem ocorrer. Debridar lesões aumenta o risco de transmissão, uma vez que partículas virais são detectadas nas mesmas. O fato de poder haver transmissão respiratória também recomenda o uso de EPI respiratório ao lidar com esses pacientes.
Referências:
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