Configurações avançadas de cookies
Para melhorar a sua experiência na plataforma e prover serviços personalizados, utilizamos cookies.
Notícias
PRÊMIO MULHERES E CIÊNCIA
Foto: Rodrigo Cabral / MCTI
Nos corredores do Instituto Nacional de Câncer (INCA), em meio a pipetas e microscópios, encontra-se uma mulher que desafia as fronteiras da ciência e do tempo. Mariana Emerenciano Cavalcanti de Sá, premiada na categoria Estímulo do prêmio Mulheres e Ciência, área Ciências da Vida, não é apenas uma cientista brilhante. Ela é uma mãe apaixonada, uma tenista dedicada e voz ativa contra o racismo e a desigualdade.
A jornada da cientista começou cedo, impulsionada pela curiosidade e pelo incentivo dos pais. "Desde pequena, me interessava por brinquedos que remetiam a experimentos científicos", contou Mariana. A paixão pela área se intensificou com o interesse pelas disciplinas de ciências como química e biologia.
No entanto, o caminho não foi fácil. Mariana enfrentou desafios como o preconceito e a necessidade de provar constantemente sua competência. "A sensação de não pertencimento me acompanhou durante toda a minha trajetória", desabafou. “Acredito que eu tenha superado o desafio de estar me sentindo à prova o tempo todo com muito trabalho e dedicação. Talvez mais do que seria necessário, caso eu fosse um homem e não uma mulher”, finalizou.
Além disso, conciliar a maternidade com a carreira científica exigiu uma rede de apoio sólida e resiliente, composta pelo marido, família, amigos e vizinhos. "As estruturas acadêmicas ainda são muito engessadas para as mulheres que desejam conciliar a maternidade com a carreira científica", criticou.
Inspiração, motivação e resiliência
Apesar dos obstáculos, Mariana encontrou inspiração na própria mãe, uma mulher que seguiu seus sonhos mesmo diante das dificuldades. "Ela me ensinou pelo exemplo que eu também poderia alcançar meus objetivos", relatou emocionada.
Para ela, a motivação principal veio do sonho de se tornar cientista. “Eu me apaixonei por entender mais sobre câncer, especialmente câncer infantil e pela ideia de poder impactar nas chances de cura e na qualidade de vida dessas famílias, especialmente, as famílias atendidas pelo SUS”, explicou.
Além da cientista
Fora do laboratório, Mariana encontra refúgio nos esportes, na leitura e no cuidado com suas plantas. "A vivência esportiva me ajudou a ser resiliente, persistente e a trabalhar em equipe na vida profissional", revela. “Sempre acho que algumas coisas que eu consegui na carreira cientifica eu devo ao fato de ter sido uma esportista desde criança”, acrescentou com alegria.
Mas apesar de muitos prazeres, sua maior alegria é ser mãe. “É uma sensação indescritível ser mãe de dois jovens tão incríveis, uma menina de 17 anos e um menino de 15 anos. Esse amor me impulsiona todos os dias”, afirmou.
Se pudesse dar um conselho para a "Mariana" do início da carreira, ela é enérgica em dizer: “Não dê ouvidos aos que, claramente, não queriam ou não esperavam te ver neste espaço. Porém, enfrente-os, sempre com ética, bom-humor e respeito”.
Para o futuro, Mariana espera contribuir para um mundo menos desigual. “Acredito que eu esteja, de alguma forma, já vivendo este sonho ao ter co-fundado e estar no momento coordenando a comissão de Equidade, Diversidade e Inclusão do INCA”, contou com satisfação.
Câncer infantil como objeto de pesquisa
A pesquisa de Mariana se concentra em entender as alterações genéticas presentes nas células de crianças com leucemia aguda, buscando tratamentos mais eficazes e personalizados. "Quando sabemos em detalhes qual é o defeito genético que está levando aquela célula a se tornar maligna, conseguimos escolher a melhor forma de tratar e, assim, aumentar as chances de cura. Mais do que isso, também é possível evitar efeitos indesejados desnecessários nos casos que o tratamento não precisa ser tão agressivo. Isso é muito importante no câncer infantil, pois estas crianças ainda podem ter uma vida inteira pela frente", explicou. O objetivo é garantir que todas as crianças brasileiras tenham acesso ao melhor diagnóstico e tratamento disponível.
Mariana acredita que o papel da mulher na ciência é fundamental e que, no futuro, com o devido reconhecimento e livre de ameaças como o assédio, a ciência será ainda mais transformadora. Para as jovens que sonham em seguir carreira científica, deixa um conselho: "Faça por você, mas não faça somente para você".
Para a cientista, o prêmio Mulheres e Ciência representa um estímulo para continuar sonhando e abrindo novos caminhos, além de uma oportunidade de inspirar outras mulheres, especialmente as negras, a ingressarem na ciência. "Premiações como essa são fundamentais para que o nosso papel na ciência seja reconhecido e nossas contribuições não sejam apagadas", destacou.
O prêmio, que reconhece a atuação feminina na ciência, é promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Ministério das Mulheres, o British Council e o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF).
Mariana visualiza um futuro para a ciência no Brasil que seja mais inclusivo, amplo e diverso, com mais mulheres ocupando posições de liderança. Apesar dos desafios enfrentados ao longo de sua trajetória, marcados pelo racismo e pela misoginia, ela segue em frente, inspirando e transformando vidas com sua paixão pela ciência e pelo conhecimento.
“Gostaria de me lembrar de um momento engraçado, porque sei que houve muitos. Mas, ao pensar nessa pergunta, o que veio à minha mente foram os momentos em que a cor da minha pele falou mais alto do que minha dedicação e meu propósito como estudante ou profissional”, finalizou Mariana.