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21ª SNCT
Unidades vinculadas se unem para mostrar a força da Amazônia
Ocupando metade do território nacional e abrigando grande variedade de fauna e flora, a Amazônia é um dos mais importantes biomas do país. Buscando levar uma pequena parte dela para o Cerrado de Brasília, o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM) e o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) se uniram pela primeira vez montaram um mega estande com seus principais projetos e realizações na 21ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT).
“Além do tamanho da Amazônia, nós devemos considerar sua importância para o equilíbrio ambiental global. Nós temos a maior biodiversidade do planeta, regulando o clima, a umidade, o ciclo hidrológico, influenciando as chuvas nas regiões do Brasil, nas regiões da América do Sul. A Amazônia funciona como um sumidouro de carbono, absorvendo CO₂ e ajudando a mitigar as mudanças climáticas”, ressaltou a subsecretária de Ciência e Tecnologia para a Amazônia do MCTI, Tanara Lauschner.
A Amazônia se estende por 5 milhões de km² e é composta pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), cerca de 30 milhões de espécies de animais vivem na região, embora muitas ainda não tenham sido encontradas ou estudadas.
Considerando a grandiosidade do bioma, a subsecretária destacou que o MCTI tem papel fundamental para a preservação da Amazônia. “Para pensar em soluções sustentáveis para os desafios amazônicos e para o desenvolvimento social, precisamos pensar na ciência, tecnologia e inovação, com iniciativas como o monitoramento por satélite, inteligência artificial, sensores ambientais e tecnologias sociais. Todas essas são ações que envolvem ciência e inovação para o desenvolvimento da região”.
Além dos estados brasileiros, a Amazônia ainda se estende pelos vizinhos Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.
A cara da Amazônia
Referência mundial em Biologia Tropical, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) realiza pesquisas e levantamentos da fauna e da flora da região, além de usar a ciência e a tecnologia para expandir, de forma sustentável, o uso dos recursos naturais pelos brasileiros.
“Hoje, o papel do Inpa, como um instituto de pesquisa que está no coração da Amazônia, é monitorar as mudanças climáticas, analisar como isso afeta o bioma e a população, entender os caminhos que estamos seguindo e propor soluções. O Instituto é a cara da Amazônia”, explicou o coordenador de extensão do Inpa, George Rebelo.
Entre os principais projetos do instituto está o Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (The Large Scale Biosphere-Atmosphere Research Program in the Amazon, LBA), que auxilia na especialização de pesquisadores. “Nós já ajudamos a formar muita gente que hoje têm um protagonismo fundamental para a educação científica da Amazônia”, complementou Rebelo.
Até 2023, o INPA já havia formado mais de 850 mestres e doutores pelo programa, além de produzir mais de 150 pesquisas de “ciência de ponta” em parceria com cerca de 280 instituições nacionais e internacionais.
O instituto também conta com o “Bosque da Ciência”, um museu vivo que abriga diferentes tipos de animais, plantas e fungos, exibindo as pesquisas do Inpa em exposições tecnológicas.
“O Bosque da Ciência nasce da necessidade de compartilhar o acúmulo de informações guardadas, muitas vezes sendo compartilhada apenas cientificamente entre instituições. Hoje, queremos socializar o conhecimento e buscar a popularização da ciência por meio de ações e projetos de educação ambiental”, explicou o chefe do museu vivo, Jorge Lobato.
Para a SNCT, os pesquisadores trouxeram uma pequena amostra do museu vivo, com uma grande diversidade de insetos e livros sobre as pesquisas do instituto.
Além da sua sede em Manaus (AM), o INPA ainda conta com outros quatro núcleos de pesquisa nos estados do Acre, Roraima, Pará e Rondônia.
As águas do Mamirauá
O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM) trouxe destaque para seus principais projetos na feira, em especial aqueles que se relacionam com o Rio Tefé.
A bióloga Bianca Darski explica a relação do instituto com as águas escuras. “A água permeia tudo o que nós fazemos. Nossa sede fica em Tefé, uma região onde a água pode subir até mais de 10 metros todos os anos e tudo gira em torno disso”, contou.
Apontando para o Pirarucu suspenso do teto do estande, a bióloga cita o manejo do Pirarucu como um dos destaques do instituto. “Este ano, o instituto completou 25 anos e, com isso, 25 anos de manejo do Pirarucu, espécie que saiu da zona de extinção em nossa região. Muitas comunidades ribeirinhas têm na pesca do Pirarucu uma fonte de renda importante”, explicou.
Porém, a relação do Mamirauá com a água está ameaçada.
Com a crise climática, Tefé tem vivenciado estiagem severa e aquecimento das águas, situação que resultou na morte de centenas de botos.
Em 2023, cerca de 209 botos vermelhos e tucuxis morreram devido ao calor e à seca. Este ano, o número caiu para 44. Para a SNCT, o instituto trouxe um aquecedor de água para que os visitantes pudessem sentir a temperatura extrema que o lago atingiu.
A estiagem também impactou as populações ribeirinhas, que precisaram de kits de purificação fornecidos pelo Mamirauá para consumir a água barrenta.
“A Amazônia apresenta uma diversidade de rios com águas pretas, brancas e claras, cada uma com desafios específicos em relação a sedimentos, contaminantes e microrganismos”, explica Darski.
A história do Goeldi
Com o objetivo de resgatar os 12 mil anos de história da Amazônia, o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) trouxe para a SNCT peças importantes e o projeto “Replicando o Passado”, que é feito em colaboração com ceramistas locais.
Com variadas peças, a instituição tem o maior acervo sobre a região existente. “Nós somos a instituição de pesquisa mais antiga da Amazônia. Nossos registros calculam cerca de 4 milhões e meio de itens sobre a Amazônia a partir de todos os assuntos possíveis”, explicou o coordenador de Museologia do MPEG, Emanoel Fernandes de Oliveira Junior.
Porém, segundo o pesquisador, o museu não recupera apenas peças históricas, como também faz com que elas conversem com a população. “Esse conhecimento tradicional, esse conhecimento originário a respeito da região, precisa ser apresentado para os locais e, para isso, nós desenvolvemos trabalhos de tecnologia social e de divulgação científica para isso”, finaliza.
Redução do desmatamento
Outro tema de destaque na Amazônia é o desmatamento, que, segundo o Projeto do Sistema de Monitoramento dos Biomas Brasileiros (BiomasBR), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao MCTI, caiu 30,6% em 2024 em relação ao ano anterior.
De acordo com o instituto, a taxa estimada foi de 6.288 km2, o menor índice dos últimos nove anos. O número demonstra uma desaceleração no avanço do desmatamento, um reflexo das políticas ambientais recentes e os esforços governamentais para a preservação do bioma.
O anúncio foi feito na última quarta-feira (06), em coletiva no Palácio do Planalto, com as ministras da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, e do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.
“É possível fazer um cálculo, ainda que de forma simplificada, mas usando dados da literatura científica (referência) que essa taxa de decréscimo do desmatamento vai estar refletida no próximo Inventário Nacional de Gases de Efeito de Estufa. O Brasil dá sinais ao mundo de que política de proteção dos seus biomas se faz com ações”, ressaltou Luciana Santos.
Anualmente, o INPE mapeia o desmatamento dos biomas brasileiros através da análise de imagens de satélite, com a taxa anual servindo como indicador para políticas públicas.