Notícias
Pesquisadores do Instituto Mamirauá descobrem duas novas espécies de insetos na Amazônia
Pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), organização social ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), registraram duas novas espécies de insetos encontradas na Amazônia: um grilo (Oecanthus buxixu) e uma esperança predadora (Spinaraptor taja). Ambos foram adicionados à vasta lista de espécies que habitam a Floresta Amazônica, considerada a região mais biodiversa do planeta.
O grilo foi descoberto na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amaña, no município de Maraã (AM). "Os grilos Oecanthus, popularmente chamados de grilos-arborícolas, são facilmente distinguidos dos demais grilos pelo corpo verde-pálido e asas transparentes, com regiões do espelho e da harpa bem desenvolvidas", explicou o biólogo e pesquisador do IDSM, Riuler Corrêa Acosta.
No total, o gênero Oecanthus possui mais de 70 espécies de grilos distribuídas pelo mundo, mas esta é a segunda descoberta na Amazônia. Para definir como um novo inseto, Acosta esclareceu que o processo se assemelhou a um "jogo dos 7 erros".
"Para identificar uma nova espécie, é necessário ter conhecimento de toda a literatura já publicada. A partir disso, fazemos comparações entre o material coletado e o que já é conhecido, buscando semelhanças ou diferenças em suas características externas e internas", detalhou Acosta.
Assim, a descoberta do grilo foi realizada com base em características morfológicas externas e internas, destacando-se a ausência de manchas nas antenas, a sinalização acústica dos machos e a morfologia do complexo fálico.
"Durante o cortejo, os machos produzem sons através do atrito entre as asas e expõem uma glândula localizada na parte superior do tórax como um presente nupcial, prolongando a cópula enquanto a fêmea se alimenta do fluido secretado", explicou Acosta.
O nome científico buxixu faz referência à planta Climedia japurensis, popularmente chamada de "buxixu", onde a espécie costuma ser encontrada, alimentando-se de frutos e folhas.
Esperança predadora
A esperança predadora, encontrada nas proximidades de Manaus (AM), faz parte de um novo gênero, que inclui outras quatro espécies. O nome do gênero vem do latim: spina (espinho) + raptor (ladrão), significando "ladrão de espinhos".
"Esse inseto se destaca pelo corpo longo e estreito, pela forma da terminália (estrutura responsável pela cópula) e pelas pernas anteriores, que possuem longos espinhos", esclareceu o biólogo e pesquisador do Mamirauá, Diego Mendes.
A espécie é encontrada principalmente em áreas próximas a corpos d'água com plantas da família Araceae, conhecidas popularmente como "tajás", o que inspirou o nome científico da esperança. "Quando encontrei o inseto pela primeira vez, durante uma madrugada em uma floresta próxima a um igarapé em Manaus, soube imediatamente que se tratava de uma descoberta", disse Mendes.
Segundo o pesquisador, por se tratar de uma espécie nova, formalizar sua descrição foi um processo desafiador. “Somente anos depois, compreendi que essa esperança habita em agrupamentos de plantas conhecidas popularmente como tajás, próximas a cursos d'água, o que inspirou o nome da nova espécie”, explicou Mendes.
Entre as principais características do inseto estão sua rotina noturna e sua alimentação de pequenos insetos que caça na vegetação. "Os espinhos nas pernas são usados para capturar e segurar as presas enquanto a esperança as devora", concluiu Mendes.
Embora pouco conhecidos pelo público, ambos os insetos desempenham um papel crucial na cadeia alimentar e no ecossistema. Algumas espécies de grilos, por exemplo, atuam como dispersores de sementes no solo das florestas.