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Relatório especial sobre mudança do clima e cidades vai abordar ‘custo da inação’
Foto: Divulgação IPCC
O Relatório Especial sobre Mudança do Clima e Cidades abordará, entre outros itens, o custo da inação em relação à mudança do clima e o planejamento de relocações forçadas de populações em situações de crise. Os tópicos foram incorporados à pauta do relatório durante a 61a Sessão do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), realizada em Sófia, na Bulgária, na semana passada. A delegação brasileira foi composta por representantes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério das Relações Exteriores (MRE). No total, participaram mais de 230 delegados de 114 governos.
“Foi uma demanda brasileira inserir o custo da inação no escopo do relatório e com a qual os demais países concordaram”, afirmou o coordenador-geral de Ciência do Clima do MCTI, Márcio Rojas.
“Por influência do Brasil, o planejamento de relocações forçadas de populações em situações de crise e o cálculo de custos de inação também serão incorporados à pauta do relatório”, declarou o representante do Departamento de Clima do MRE, Pedro Ivo Ferraz da Silva.
Na avaliação de Silva, a aprovação do escopo do relatório especial sobre cidades e mudança do clima foi o principal resultado da 61a sessão do IPCC. “Trata-se de um tema absolutamente essencial, haja vista o impacto cada vez maior de eventos climáticos extremos em ambientes urbanos, a exemplo do que vimos no Rio Grande do Sul”, afirmou. “O relatório especial analisará tópicos de suma importância para tomadores de decisão, como a resiliência de infraestruturas físicas, a importância de políticas sociais como estratégia de adaptação à mudança do clima e a criação de sistemas robustos de reparação de perdas e danos, sobretudo em países em desenvolvimento”, complementou.
O esboço acordado inclui tendências, desafios e oportunidades para cidades em um clima em mudança, as ações e soluções para reduzir riscos e emissões urbanas, como facilitar e acelerar mudanças no contexto das cidades e soluções. O comunicado do IPCC destaca que o relatório especial será de imensa relevância para a implementação de ações climáticas eficazes nas cidades.
Segundo Rojas, a aprovação de alguns dos tópicos suscitaram muitas discussões. Entre os exemplos estão o item sobre o papel das cidades nas metas de neutralidade de carbono e o item que abordou questões relacionadas a práticas de ‘má-adaptação’, que envolvem adoção de medidas que podem desencadear malefícios porque aumentam as emissões ou por outros fatores. Outro aspecto muito debatido foi o ‘social tipping points’, que abordará de que forma as mudanças na sociedade, no comportamento e no consumo, por exemplo, contribuem para a questão climática das cidades. “Avançar nas questões sociais será importante, do ponto de vista do relatório”, avaliou Rojas.
O próximo passo será a seleção de pesquisadores e a posterior redação do relatório. “Dada a grande variedade e a qualidade de especialistas que temos no Brasil, estou seguro de que o País estará bem representado”, destacou Silva.
As cidades e a crise climática - A decisão sobre elaborar o relatório especial sobre mudança do clima e cidades foi tomada ainda no âmbito do Sexto Ciclo de Avaliação, que se encerrou em 2023. Atualmente, 57% população global vive nas cidades e a projeção da ONU é de que o número aumente para 6,3 bilhões de pessoas, ou 68% da população global em 2050.
De acordo com estudo ONU Habitat, no âmbito global as cidades são responsáveis por cerca de 70% do consumo primário de energia e 60% das emissões globais de gases de efeito estufa. Mesmo assim, a maioria dos países ainda não exploram esses elementos nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). No Brasil, os dados do Censo de 2022 revelaram que 61% da população se concentra em áreas urbanas, o que representa 124,1 milhões de pessoas.
Além da aprovação do escopo para o Relatório Especial sobre Mudança do Clima e Cidades, a sessão do IPCC aprovou o escopo para o Relatório Metodológico sobre Inventários para Forçantes Climáticas de Curta Duração. Os documentos integrarão a série de relatórios do Sétimo Ciclo de Avaliação (AR7) do órgão científico.
A expectativa era de que a sessão também aprovasse o cronograma dos relatórios do AR7, contudo alguns países defenderam rever a proposta de datas. A próxima sessão, prevista para 2027, deverá voltar ao tópico.