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“Cursos de pós-graduação têm como objetivo a transformação de um indivíduo não cientista em cientista”, afirma professor
Como fortalecer os cursos de mestrado e doutorado do Brasil? A pergunta é o ponto de partida de especialistas que participaram da mesa temática “Evolução da pós-graduação no Brasil e desafios atuais”, realizada no segundo dia da 5º Conferência Nacional de CT&I, que acontece em Brasília. A mesa contou com educadores e gestores do Sistema Nacional de Pós-graduação.
A presidente da CAPES, Denise Pires de Carvalho, iniciou o debate com dados que mostram o crescimento contínuo da pós-graduação no Brasil desde a década de 1970. Hoje são mais de 4,5 mil programas distribuídos em 323 municípios, que atendem a 411 mil pós-graduandos. “O sistema expandiu e ganhou em qualidade. Isso mostra que estamos no caminho certo e que a pós-graduação é uma história de sucesso”, avalia.
A gestora pública listou os desafios que considera mais relevantes para a pós-graduação: a ampliação do número de mestres e doutores, aumentar a quantidade de programas de excelência (com notas 6 e 7), a inserção de doutores no setor produtivo não acadêmico e o enfrentamento às assimetrias regionais. “A distribuição desses programas ainda é muito desigual, há uma predominância de cursos em estados do Sul e Sudeste”, diz Denise Pires de Carvalho.
A CAPES designou uma comissão para elaborar a proposta de um novo Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) que define as diretrizes, estratégias e metas para a política do segmento no Brasil. Durante o debate, o professor da UNIFESP e presidente da comissão, Esper Cavalheiro, apresentou alguns pontos presentes no PNPG 2021-2030, que ainda está em desenvolvimento. “A premissa central é atualizar a rota do Sistema Nacional de Pós-Graduação, tomando como parâmetros os temas ainda não solucionados do nosso país e os desenvolvimentos mais recentes da CT&I”, afirmou.
O professor recomenda que o PNPG coloque o pós-graduando no centro do processo educacional. “Os cursos de pós-graduação têm como objetivo a transformação de um indivíduo não cientista em cientista”, diz Cavalheiro. Ele acredita que o foco não é a tese/dissertação ou o número de publicações científicas, mas a transformação do pós-graduando em cientista. “É preciso saber levantar questões, entender metodologias e buscar respostas adequadas para questões”, complementa.
Gênero e equidade
O presidente do Fórum Nacional de Pró-reitores de Pesquisa e Pós-graduação (FOPROP), Charles Morphy, trouxe dados sobre gênero que complementaram a análise sobre as desigualdades de cursos de mestrado e doutorado nas universidades. O Brasil possui mais mulheres que homens nos cursos de doutorado, no entanto, elas não são a maioria dos docentes em exercício. “A promoção de equidade é um item fundamental”, destaca. Nesse sentido, ele recomenda que a avaliação também inclua o impacto social dos programas. Já no campo da ciência, Morphy cita o estímulo à criação de mais cursos relacionados a tecnologias emergentes e o uso de estratégias de ciência aberta e de popularização da ciência.
A ideia de uma cesta básica de direitos básicos pautou a apresentação de Vinicius Soares, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG). “Existe um eclipse de direitos sociais para quem faz pós-graduação no Brasil”, diz o especialista. Ele argumentou que a categoria possui uma condição híbrida que deve ser levada em conta na formulação de políticas. “O pós-graduando já é um profissional formado com diploma universitário, está em uma formação continuada e ao mesmo tempo é um trabalhador, sua condição de pesquisador precisa ser reconhecida como uma atividade laboral”, explica.
Soares aponta como prioritária a continuidade dos reajustes de bolsas de pesquisa da CAPES e CNPq para atrair jovens talentos para a produção científica. O presidente da ANPG também reivindicou ações de melhorias para diminuir a evasão e aumentar a empregabilidade, além da garantia de direitos previdenciários como previdência e férias para os bolsistas.
Já a professora de Antropologia da Universidade de Santa Catarina, Miriam Pillar Grossi, apresentou a síntese das propostas feitas nas conferências preparatórias. Entre os tópicos abordados, estão o estímulo à interdisciplinaridade, a necessidade de novos modelos de avaliação, a valorização da extensão universitária, ações afirmativas e medidas para facilitar o acesso ao mercado de trabalho. Um dos destaques é a valorização de diferentes formas de saberes, como o conhecimento de comunidades tradicionais. “Precisamos abarcar a demanda de outras epistemologias e formas de transmissão de conhecimento e modos de fazer ciência”, diz a pesquisadora.
Assista à íntegra do painel na página do MCTI no Youtube
A 5ª Conferência conta com o patrocínio Master do Banco do Brasil e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), patrocínio Ouro da Positivo e patrocínio Prata da Caixa Econômica Federal e Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro).