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Sociedade brasileira considera as mudanças climáticas como um perigo grave, aponta pesquisa do CGEE
Imagem: CGEE
De quase dois mil brasileiros, 95,4% deles afirmam ter ciência de que as mudanças climáticas estão acontecendo, e, desses, mais da metade considera que o fenômeno global representa um grave perigo para a população brasileira. Estes dados, levantados pela pesquisa "Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no Brasil 2023", do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), por demanda do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), são alguns dos achados dessa publicação, lançada na tarde desta quarta-feira (15), na sede do Centro.
A líder do estudo, Adriana Badaró, destaca o quanto a população entende a importância desse tema e a relação das mudanças climáticas com ciência e tecnologia (C&T). No entanto, ela lembra do espaço que ainda existe para que o assunto seja melhor explorado e que a sociedade seja mais bem informada sobre o real impacto no seu dia-a-dia. "As mudanças climáticas e os seus efeitos na sociedade são algo que há décadas já vêm sido reportado e, ao longo do tempo, a gente tem percebido a importância de que a sociedade se engaje mais, desde o cidadão diretamente impactado até os mais altos escalões que tem influência", afirma.
A opinião é corroborada pelo coordenador do Observatório interdisciplinar InCiTe, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Yurij Castelfranchi. "O negacionismo climático, que foi fortíssimo nos Estados Unidos e no norte da Europa, nunca foi no Brasil. Ele é liderado por forças poderosas no Brasil, mas a porcentagem de pessoas que dizem que as mudanças climáticas não existem, é uma das menores do mundo. Muitas pessoas, porém, foram vulneráveis à desinformação e dizem que existe, mas não é causada pelos humanos”, explica.
No que diz respeito ao acesso às informações relacionadas ao tema ciência e tecnologia, cinco a cada dez brasileiros relataram se deparar frequentemente com notícias falsas. No entanto, cerca de 60% afirmaram que não compartilham informações caso não tenham certeza de sua veracidade e 40% que somente acreditam em uma informação se ela for validada por mais de uma fonte. Castelfranchi acrescenta que é importantíssimo entender quem são os mais vulneráveis à desinformação e o porquê. “Aqueles grupos de pessoas que dizem que não checam informações são enormemente mais vulneráveis a dizer que as mudanças climáticas não existem. São poucos no Brasil, mas nós temos lá o porquê e podemos ativar campanhas específicas. Se você corrigir com fact checking as fake news de mudanças climáticas, não vai resolver, porque justamente as pessoas que não vão acessar as agências de fact checking é quem acredita nisso, então tem que ter outra prática", disse.
Em 2023, os temas que mais interessaram o brasileiro foram medicina e saúde; meio ambiente; e religião, todos com taxas acima de 70%, enquanto C&T se manteve em cerca de 60%, superando assuntos populares como esportes e cultura. Esses resultados sugerem a tendência de estabilidade no interesse da população em temáticas relacionadas à C&T em comparação aos anos passados, com exceção da política, que apresentou aumento expressivo.
Houve, ainda, um aumento expressivo quanto ao conhecimento de instituições de pesquisa, de 9% em 2019 para 17,9% em 2023. Em contrapartida, o percentual de pessoas que conseguiram lembrar o nome de cientistas ou instituições de pesquisa científica brasileiras ficou entre os menores da América Latina, ao ponto de a maioria dos indivíduos com título de ensino superior também não conseguir mencionar um pesquisador ou entidade, nem a própria alma mater.
As redes sociais se consolidaram como principal meio de divulgação científica, sendo que mais de um terço dos entrevistados afirmaram que frequentemente buscam informações nelas. Castelfranchi afirma que as redes têm linguagem cativante e que ampliam o acesso a informações, mas que elas ainda não alcançam a todos, pois repercutem apenas entre os nichos aos quais pertencem os divulgadores científicos e jornalistas. "Os divulgadores têm um ideário de pensar que eles divulgam para o público em geral, mas muitos divulgadores não veem que os 10 milhões de seguidores que eles têm são clones deles. Então, ele não está alcançando o público geral, está atingindo um grande público do grupo dele”, acrescentou.
O presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu Moreira, destacou a importância de ouvir a população e elaborar políticas públicas com base no documento. “Desde a primeira pesquisa, tenho certeza, que se as opiniões da maioria do povo brasileiro fossem levadas em conta nas políticas públicas sobre ciência, tecnologia e educação, nós estaríamos em uma situação muito melhor hoje, inclusive em relação a mudanças climáticas, porque a população brasileira tem a sensibilidade de perceber que essa é uma questão séria e que devia ter políticas públicas adequadas para enfrentá-las, mas, às vezes, os governantes não têm a sensibilidade que a população brasileira tem", disse.
Parte de uma série histórica de pesquisas, para a construção da edição de 2023, foram entrevistadas 1931 pessoas maiores de 16 anos, com cotas de gênero, idade, escolaridade, renda e local de moradia, em todas as regiões do Brasil. Foi levada em conta, também, a comparabilidade com indicadores medidos em outros países como China, Estados Unidos, Japão e Índia.
Participaram do evento, ainda, o diretor-presidente do CGEE, Fernando Rizzo; o diretor do CGEE e secretário adjunto da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, Anderson Gomes; a diretora da popularização de C&T e educação científica do MCTI, Juana Nunes; a superintendente de Comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF), Thaiane Moreira; e o assessor técnico do CGEE, Marcelo Paiva.
Assista por este link a transmissão pelo canal do YouTube do CGEE. Acesse o site da pesquisa por este link e faça sua própria análise. Confira, pelo site do CGEE, o estudo e o resumo executivo apresentados durante o lançamento.
Fonte: Ascom/CGEE