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AdaptaBrasil caracteriza municípios do Rio Grande do Sul com alto risco climático
Imagem: AdaptaBrasil
Municípios do Rio Grande do Sul que foram gravemente afetados por inundações, enxurradas e alagamentos estão caracterizados com níveis que variam de ‘Médio’ a ‘Muito Alto’ para risco de desastres geo-hidrológicos na plataforma AdaptaBrasil. Porto Alegre, Eldorado do Sul, Canoas, Guaíba, Novo Hamburgo, Estrela e Encantado, por exemplo, estão caracterizados com os mais altos graus na caracterização de Ameaça e Exposição.
“O intervalo entre esses três estágios, médio, alto e muito alto, é pequeno. Esses níveis merecem o mais alto grau de atenção. Além disso, os resultados não devem ser considerados de modo isolado, sem a visão dos níveis de indicadores que compõem o risco final”, afirma o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e responsável pelos indicadores socioeconômicos da plataforma, Gustavo Arcoverde.
Navegando na AdaptaBrasil é possível observar que Eldorado do Sul, que ficou com 90% do território inundado, está caracterizado na plataforma com indicadores de Ameaça Alto (0,72), de Exposição de Muito Alto (0,83) e de Vulnerabilidade em nível Baixo (0,30), resultando em índice composto Alto (0,75). O município de Porto Alegre está caracterizado com índice de Ameaça Muito Alto (0,82) e de Exposição também como Muito Alto (0,94). Contudo, a Vulnerabilidade (0,03) é Muito Baixa, considerando os indicadores de alta Capacidade Adaptativa, o que leva a um baixo índice composto (0,26).
“O fato de o risco climático estar em um nível baixo não significa que a localidade esteja imune a eventos climáticos extremos e seus impactos. É importante entender que um risco baixo indica apenas uma probabilidade menor de impacto, dado os fatores considerados na composição do índice, principalmente a capacidade adaptativa”, esclarece o pesquisador do Inpe e responsável pelos indicadores climáticos da plataforma, Lincoln Muniz Alves. “Mesmo em áreas com risco climático baixo, é crucial continuar monitorando e implementando medidas de adaptação à mudança do clima para proteger as pessoas e o ambiente”, complementa.
Dos 497 municípios gaúchos, 165 (33%) estão com índice de risco climático que variam de Médio a Muito Alto na plataforma AdaptaBrasil. Os indicadores de Vulnerabilidade variam de Médio a Muito Alto em 386 municípios (77% do total). Já os indicadores de Exposição e Ameaça climática colocam no mesmo nível de risco, respectivamente, 85 (17%) e 117 (23%) dos municípios gaúchos.
A equipe técnica ressalta que a plataforma não faz previsões e não emite alertas. A finalidade é oferecer diagnóstico do risco da situação presente e de projeções baseadas em cenários climáticos.
“O apoio da plataforma para a construção de um plano de ação de adaptação, para que possa aumentar a resiliência e reduzir a vulnerabilidade às ameaças climáticas, passa por apresentar um conjunto viável de indicadores que contemple todo o Brasil, com representação em nível municipal e recorte temporal mais próximo possível com a atualidade”, explica Arcoverde.
Segundo o pesquisador, os indicadores são construídos a partir de dados oficiais disponíveis que são normalizados para todo o país e compostos em diferentes níveis de informação, culminando em um valor de risco climático municipal. “Os indicadores não foram construídos para retratar toda a complexidade da realidade, mas para indicar características sociais e ambientais que, relativamente a todo o contexto brasileiro, podem ser alvo de atenção e ações de adaptação”, analisa. Arcoverde destaca que o uso da plataforma, seja para a compreensão dos indicadores ou como subsídio para tomadas de decisão deve passar por uma visão estratégica. “É necessário considerar outras variáveis correlatas aos indicadores, e circunstâncias e peculiaridades locais e temporais em que não é possível retratar com dados oficiais para todo o território nacional”, complementa.
Metodologia - A abordagem metodológica que embasa o trabalho técnico-científico da plataforma AdaptaBrasil é internacionalmente aceita e recomendada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC). A ‘flor de risco’ considera as seguintes dimensões: ameaças climáticas (onde constam as variáveis climáticas, como precipitação e temperatura), exposição (indicador que considera moradias em ambiente de risco e densidade demográfica) e vulnerabilidade (considerando sensibilidade e capacidade adaptativa).
A Vulnerabilidade, por sua vez, considera os aspectos de Capacidade Adaptativa, uma composição de indicadores que envolve capacidades municipais, governança e gestão, renda e políticas setoriais, e de Sensibilidade, que contempla condições socioeconômicas e demografia da população, por exemplo.
Os dados de Vulnerabilidade e Exposição são provenientes de bases de dados oficiais. As variáveis climáticas e os riscos associados de longo prazo que estão na Ameaça são calculados a partir de modelos climáticos considerando décadas. Segundo os técnicos essa é a abordagem mais coerente para deflagrar padrões de mudança climática.
Além da incorporação de novos setores estratégicos e complementação dos atuais, a equipe técnica destaca que sempre que houver possibilidades de aprimoramentos, seja por atualização ou novos dados disponíveis para o cálculo das componentes (ameaça, vulnerabilidade e exposição), as melhorias são realizadas. “As informações sobre padrões de chuva extrema e a avaliação de riscos são continuamente aprimoradas para refletir melhor a realidade”, explica o coordenador científico da plataforma, Jean Ometto. Um dos aprimoramentos previstos é a atualização dos dados climáticos a partir dos modelos climáticos globais acoplados do CMIP6 e os dados socioeconômicos do Censo Demográfico de 2022.
Clique aqui para acessar os dados das cidades do Rio Grande do Sul. Consulte a descrição metodológica, fontes de dados detalhados para cada setor, e vídeos tutoriais disponíveis na AdaptaBrasil. Interessados em participar dos cursos devem manifestar interesse por meio do formulário de contato.