Notícias
COP28: Sistema brasileiro de alertas de desastres pode servir de inspiração para outros países, afirma diretor da OMM
A previsão de eventos extremos mais frequentes e intensos indica a necessidade de reforçar as capacidades nacionais de alertas e prevenção de desastres. Durante a COP28, a Organização Meteorológica Mundial (OMM ou WMO, na sigla em inglês) reforçou a iniciativa batizada de “earling warning for all” (alertas antecipados para todos). O objetivo é que, até 2027, toda a população global seja atendida por alertas antecipados de eventos climáticos.
“A frequência e a intensidade dos fenômenos estão mudando. Podemos observar que, por isso, as pessoas precisam estar mais bem informadas a respeito em termos de planejamento de longo prazo”, afirma o diretor para redução de riscos da OMM, Cyrille Honoré.
Segundo ele, cerca de metade dos países do mundo ainda não dispõe de sistemas compatíveis com as necessidades de alerta para a população. “Esta iniciativa é para corrigir esta situação”, explica.
Além da OMM, a iniciativa envolve as agências da ONU para redução de riscos (UNDRR) e de telecomunicações (ITU), além da federação internacional da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho (IFRC), entre outras entidades apoiadoras. O trabalho envolve apoio e coordenação dos esforços dos estados-membros para lidar com os desafios científicos envolvendo previsões de clima e tempo e também com as consequências. “Esta não é uma iniciativa que pode ser resolvida apenas por meteorologistas. Mapear vulnerabilidades, exposição e lidar com os componentes sobre conhecimento de risco do país é algo que precisa de parcerias”, explica Honoré.
Os sistemas de alertas vão muito além da previsão do tempo. Trata-se de compreender as áreas potenciais de inundação e deslizamentos, de bens que podem ser afetados, conhecer a população que pode ser afetada. O diretor relata que, mesmo em países com produção de boa ciência e com capacidades técnicas, o impacto de determinadas situações ainda pode ser enorme em consequência da falta de compreensão da percepção dos riscos. Entre os desafios estão a falta de entendimento sobre o potencial de risco e a adoção de comportamentos para tentar preservar bens que levam as pessoas à morte.
“Precisamos deixar clara a mensagem a ser compreendida. Não apenas avisos sobre o que vai acontecer, que haverá ventos fortes ou chuvas torrenciais. Isso precisa ser traduzido nas consequências para as pessoas”, diz Honoré. “Precisamos ajudar as comunidades a compreender quais são os processos e como podem se preparar quando receberem um aviso”, complementa.
Enquanto sistemas de alertas antecipados já estão implementados em parte dos países, em alguns há sistemas ainda muito básicos. O diretor da OMM explica que, para emitir alertas, é preciso haver capacidades de observação e de monitoramento. Além disso, a infraestrutura de satélites e radares, tanto para implementação como para operação, é onerosa.
Modelo brasileiro pode ser inspiração
Perguntado sobre o sistema implementado no Brasil para alertas e prevenção de desastres, Honoré destaca que “provavelmente é um dos países avançados da América do Sul” e que “o modelo funciona muito bem”, por se basear em arranjos institucionais que definem responsabilidades entre múltiplas agências ou departamentos ministeriais, para que seja possível uma coordenação estreita.
“As configurações brasileiras são um pouco específicas. Foi interessante ter essa experiência a bordo”, ressalta Honoré sobre a contribuição brasileira acerca das discussões globais à frente do comitê de desastres da OMM.
Ele destaca ainda a adoção de protocolos de alerta que permitem disseminar avisos por diversos canais e também a possibilidade de executar cooperação sub-regional, apoiando países vizinhos. “Normalmente, esse é o tipo de contribuição que faz sentido. Temos centros regionais que extraem informações da escala global e fornecem produtos de orientação para os países vizinhos”, finaliza.