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Demora na adoção de medidas de adaptação à mudança do clima pode resultar na perda da janela de oportunidade, alertam cientistas
Foto: Luara Baggi
Cientistas brasileiros que integram o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) alertam que a demora na adoção de medidas de adaptação à mudança do clima pode resultar na perda de janela de oportunidade. As observações foram feitas na quarta-feira (08) durante a apresentação de dados e metodologias sobre a ciência para a adaptação. As informações vão embasar a elaboração do Plano Clima - Adaptação do Brasil.
A reunião técnica ‘A ciência para a adaptação’, realizada em Brasília, contou com a participação de mais de 70 representantes de 25 instituições, incluindo os ministérios que compõem o grupo técnico de trabalho interministerial, que vai coordenar a elaboração da estratégia geral, e de instituições que participarão da elaboração dos planos setoriais.
“Quanto mais tempo demorarmos para tomar uma decisão, maior será a chance de interferência de eventos climáticos e de perdermos a janela de oportunidade”, afirmou a arquiteta e urbanista, Maria Fernanda Lemos.
Tecnologias e soluções existentes podem perder a validade, pois os impactos do aumento da média global da temperatura não são proporcionais. A frequência e a intensidade dos eventos não são lineares ao aumento da temperatura.
Professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), que coordenou o capítulo de América do Sul e América Central no último relatório do IPCC e atua em diversas iniciativas nacionais e internacionais envolvendo cidades, Maria Fernanda Lemos abriu sua apresentação afirmando que “adaptar começa reduzindo desigualdades”. Sem isso, há o risco de continuar a reproduzir vulnerabilidades. “A distribuição dos riscos e dos impactos é muito desigual no planeta e no nosso país. A solução é distribuir de forma justa as soluções que existem”, afirmou.
Ela destacou ainda que o mundo não está preparado para lidar com as mudanças e que as deficiências históricas podem ser uma oportunidade para que os investimentos em prioridades, como saneamento, no caso do Brasil, sejam feitos considerando a perspectiva da mudança do clima em adaptação. “Prefiro acreditar que seja uma oportunidade para que os investimentos sejam feitos de modo adaptado”, avaliou.
O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e membro do IPCC, Jean Ometto, apresentou as evidências científicas consolidadas sobre os impactos da mudança do clima sobre os diversos sistemas, como produção agrícola, energia, ecossistemas e o modo de vida das pessoas. “Para pensar a adaptação é preciso conhecer como está mudando o padrão de precipitação, a distribuição de temperatura, a variação de aumento do nível do mar”, explicou.
Segundo ele, as mudanças produzem efeitos e impactos diferentes em cada região do mundo e também para o Brasil, que tem dimensões continentais. Como exemplo, Ometto citou que, para a Amazônia, a perspectiva de aumento de temperatura indica tendência de secar, enquanto em parte do norte da África, as chuvas podem aumentar. “As nossas ações de adaptação precisam considerar as peculiaridades regionais”, afirmou.
A pesquisadora do Inpe e especialista em modelagem climática, Mári Firpo, expôs as mudanças observadas no Brasil nas últimas décadas e afirmou que as anomalias de temperatura e precipitação não são iguais em todas as regiões. Enquanto áreas do país estão enfrentando mais dias secos, em outras houve aumento do volume de precipitação. “Os dados demonstram o quanto o clima já mudou e a necessidade de adaptação.”
Contribuição da ciência
Na abertura, a secretária Nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Ana Toni, destacou que o Plano Clima é um trabalho coletivo, importante e fundamental para o país, acrescentando que o tema adaptação foi amplamente discutido na pré-COP, reunião preparatória realizada em Abu Dhabi, e também será durante a COP 28. “Está claro que a contribuição que este grupo poderá oferecer para o Brasil chegar na COP 30 com um plano estruturado, robusto será muito importante”, afirmou.
O coordenador-geral de Ciência do Clima do MCTI, Márcio Rojas, mencionou dados divulgados na quarta-feira (08) pelo Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da União Europeia apontando que o ano de 2023 deverá ser o mais quente em 125 mil anos. “O momento de hoje é para fazemos uma pausa e ouvir o que a ciência tem nos dito.”
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