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“Agenda de adaptação à mudança do clima é prioridade indiscutível”, afirma coordenador-geral de Ciência do Clima do MCTI
Foto: Freepik
A plataforma AdaptaBrasil MCTI promove nesta terça-feira (19) e quarta-feira (20) um curso direcionado às equipes das secretarias estaduais de meio ambiente com o objetivo de capacitar os técnicos para utilização da ferramenta que oferece informações sobre nível de impacto e riscos climáticos para apoiar a elaboração de planos de adaptação à mudança do clima. O pedido do curso partiu da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema).
Na abertura do curso, o coordenador-geral de Ciência do Clima do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Márcio Rojas, destacou um trecho do Sumário para Formuladores de Políticas do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC). Ao abordar mudanças e impactos observados, o documento aponta que as alterações generalizadas e rápidas estão em andamento na atmosfera, oceano, criosfera e biosfera, e que isso está levando a extremos climáticos, causando impactos e perdas. O documento ressalta que as comunidades vulneráveis, que menos contribuíram historicamente para a mudança atual do clima, são afetadas de forma desproporcional.
Em outro trecho, ao mencionar os desafios de mitigação, alerta que, de acordo com as contribuições dos países anunciadas até 2021 para redução das emissões de gases de efeito estufa, é provável que o aquecimento exceda 1.5°C durante o século 21 e torne mais difícil limitar o aquecimento abaixo de 2°C.
“No passado, contávamos com a mitigação. Infelizmente o esforço em mitigação não é mais suficiente”, afirmou Rojas.
Segundo ele, o Brasil tem desafios adicionais, por ser um país em desenvolvimento e com questões como a desigualdade social, que se sobrepõe à mudança do clima. “Nesse contexto, a agenda de adaptação se coloca como uma prioridade indiscutível”, complementou.
O coordenador-geral da plataforma AdaptaBrasil MCTI e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Jean Ometto, destacou que as questões climáticas são “absolutamente centrais” para o Brasil. Segundo ele, a demanda por compreender o que está acontecendo com o clima aumentou, e a plataforma é uma ferramenta que contribui para mapear o nível de impacto e de risco climático às quais o Brasil está exposto, permitindo compreender as diferentes vulnerabilidades em nível regional.
“Hoje, há regiões do país com situação de seca e outras com eventos de extremos de precipitação”, exemplificou. “Vamos tratar do risco de impacto para que as opções e estratégias de adaptação possam ser avaliadas e elaboradas. A adaptação não vai resolver tudo, mas temos que adaptar”, pontuou Ometto. “As variações climáticas estão mais constantes e mais profundas. Temos que caminhar nessa agenda científica e política, e conseguir enfrentar os potenciais impactos que as mudanças climáticas estão impondo.”
Demanda dos estados
Samanta Della Bella, da Secretaria de Meio Ambiente de Pernambuco e que coordena, ao lado de Minas Gerais, a Câmara Técnica de Clima da Abema, salientou a necessidade de os estados se aprofundarem sobre as vulnerabilidades em relação à mudança do clima. “Precisamos de apoio e conhecimento para o desenvolvimento de ações de adaptação”, afirmou.
Ela acredita que a plataforma é um recurso de apoio e que pode auxiliar os entes subnacionais no desenvolvimento de planos de adaptação. “Os estados e os municípios têm um papel importante para lidar com o aumento de fenômenos extremos”, concluiu.
Sobre a plataforma AdaptaBrasil
A plataforma apresenta níveis de risco climático a partir de cálculos que consideram três dimensões: ameaça climática, exposição e vulnerabilidade. As informações sobre riscos climáticos são fundamentais para a tomada de decisão e para o planejamento de médio e longo prazos. Há indicadores e análises de risco para todos os 5.570 municípios brasileiros sobre os recursos hídricos, seguranças energética e alimentar, infraestrutura (portos), saúde (malária) e desastres geo-hidrológicos.
No cronograma de trabalho, o próximo tema a ser incorporado será o de impactos econômicos da mudança do clima no Brasil. O setor de saúde deverá receber informações sobre a incidência de doenças vetoriais, como dengue e febre amarela. O setor de infraestrutura será incrementado com dados sobre ferrovias e rodovias.