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Trajetória e trabalho em química levam cientista brasileira a conquistar prêmio internacional na Holanda
A cientista Márcia Foster Mesko, da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), no Rio Grande do Sul, foi premiada pela União Internacional de Química Pura e Aplicada neste domingo (20) em Haia, na Holanda, durante o congresso internacional da área. Ela foi a única pesquisadora da América Latina selecionada neste ano para receber a distinção de “Mulheres Notáveis na Química ou Engenharia Química”.
“Estou super feliz e honrada de estar aqui representando meu país e minha universidade. Esse prêmio é parte do reconhecimento da trajetória, da carreira científica em si”, afirmou a pesquisadora.
A lista global de 12 pesquisadoras que foram contempladas com o prêmio foi anunciada em fevereiro, no Dia das Mulheres e Meninas na Ciência. As demais agraciadas são da Itália, Alemanha, China, Cingapura, Estados Unidos, Índia, Bélgica, Reino Unido e Japão. A seleção considerou a excelência em pesquisa básica ou aplicada, realizações em ensino ou educação e demonstração de liderança ou gerência na química. A indicação das candidatas é feita por outros profissionais da área.
Antes da professora gaúcha, duas brasileiras receberam a distinção. Em 2011, na primeira edição do prêmio, a professora Vanderlan Bolzani, da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp), e em 2017, a professora Yvonne Mascarenhas, da Universidade de São Paulo (USP).
Trajetória profissional pioneira
Márcia Mesko atua no Centro de Ciências Químicas, Farmacêuticas e de Alimentos da UFPEL desde 2009 e ficou surpresa quando recebeu a indicação ao prêmio no início deste ano. Ela é de uma universidade que não está localizada em um grande centro urbano e em um curso relativamente recente. “Eu imaginava pessoas com uma carreira mais consolidada, pesquisadoras seniores”, relatou à época.
Mesko deseja que o prêmio ajude a abrir os caminhos para cientistas brasileiras e latino-americanas e salienta que esta é mais uma oportunidade para falar sobre mulheres na ciência. “Que a gente tenha cada vez mais espaço”, afirma. “Quando pensamos em equidade de gênero temos que considerar que nossa população feminina de cientistas é muito grande e esperamos que essas mulheres liderem mais pesquisas. Espero que as outras não tenham as mesmas dificuldades que eu tive”, explica sobre os desafios e barreiras que precisou superar.
Integrante da Academia Brasileira de Ciências (ABC) desde 2020, Mesko possui trajetória profissional bastante ativa, com atuação pioneira, e vencedora de diversos prêmios nacionais e internacionais. Além do ensino, onde é responsável por formar ao menos 20 mestres e doutores, dedica-se à pesquisa, sendo bolsista de produtividade nível 1C do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e a atividades de extensão.
Na Anvisa, Marcia Mesko foi a química responsável na farmacopeia, o código oficial farmacêutico do país, onde se estabelecem os requisitos mínimos de qualidade para insumos farmacêuticos, medicamentos e produtos para a saúde. À época, atuou na revisão dos métodos oficiais para controle de qualidade para medicamentos e insumos. Também foi pesquisadora convidada do Inmetro, onde contribuiu para a implementação de certificados de rastreabilidade para os padrões, algo relevante do ponto de vista industrial para melhorar e baixar custos nos processos de controle de qualidade.
“Essas atividades foram tomando uma proporção maior do que eu imaginava na formação de recursos humanos, temas interessantes e diferenciados de outros grupos no Brasil e no mundo. Acredito que tudo isso tenha contribuído, além da temática de mulheres na ciência.”
Em 2012, recebeu o prêmio da L’Oreal Unesco Mulheres na Ciência como jovem pesquisadora e considera que esse momento modificou sua trajetória pela visibilidade que ampliou os contatos científicos para estabelecer redes de pesquisa. “Isso me fez repensar o meu papel como pesquisadora, o quanto é importante formar novas pesquisadoras e impulsionar outras colegas para esse ambiente”, relata Mesko.
A partir daquele momento, a pesquisadora passou a se envolver mais em atividades voltadas para promover a participação feminina na ciência, organizar eventos de posicionamentos sobre a temática e reuniões para agregar novas percepções. “Acredito que esse conjunto levou a esse perfil para o prêmio”.
Halogênios
O grupo de pesquisa que Mesko lidera atualmente é inovador no Brasil. Os pesquisadores desenvolvem métodos para determinar halogênios em baixas concentrações. Halogênios são elementos químicos, como iodo, flúor, cloro, bromo, em que poucos grupos de pesquisa concentram atenção. “É a determinação elementar que pode ser essencial ou tóxica, dependendo da dose”, sintetiza Mesko sobre a análise da presença desses elementos.
O método pode ser aplicado para uma infinidade de áreas, como alimentos, ambiental, cosméticos, medicamentos, algas na Antártica, material biológico - como urina, cabelo e unha. Como exemplo, pode-se detectar flúor em graxas utilizadas em estações de esqui ou em cosméticos, que podem causar alergias. “Temos mostrado resultados inéditos com esses elementos. Por exemplo, elevadas concentrações de flúor em maquiagens. Isso pode causar alergias. Não tem legislação sobre isso em âmbito mundial. Vemos crianças usando maquiagem e não há legislação”, exemplifica a pesquisadora.
Mesko também relata a experiência com estudos para determinar iodo em alimentos. O elemento químico é importante para o bom funcionamento da glândula tireóide, mas pode causar problemas em doses altas ou muito baixas. As mudanças alimentares, por exemplo, levaram à alteração na quantidade de iodo que deve ser acrescentada ao sal de cozinha, por exemplo.