Notícias
Para ministra, adesão do Brasil à organização europeia não será contaminada pela disputa política
Foto: Raul Vasconcelos
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, avalia que o Acordo de Acessão do Brasil à Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (CERN) não enfrentará resistência para ser aprovado pelo Congresso Nacional. Segundo ela, o Parlamento tem demonstrado “empatia” com os temas relacionados à ciência, tecnologia e inovação, e a disputa política não deverá contaminar a associação do Brasil ao maior e mais avançado centro científico do mundo.
“No Congresso Nacional, há um apelo muito grande pelo significado e o impacto da pesquisa científica e do desenvolvimento tecnológico para o país. Portanto, não acredito que a adesão do Brasil ao CERN vá se confundir com a correlação de forças e a disputa política. No momento mais recente, o histórico do Congresso foi de defender o interesse da ciência”, disse a ministra em declaração à imprensa em Genebra, na Suíça, após visita à organização.
Ela lembrou a celeridade com que o Congresso aprovou o PLN enviado pelo governo para recompor de forma integral o Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico. “Quando se tratou do orçamento da ciência, sempre houve empatia e mobilização suprapartidária em torno disso.”
CERN
Localizada na fronteira entre a Suíça e a França, a Organização Europeia para Pesquisa Nuclear é uma infraestrutura de pesquisa voltada para física de altas energias. Entre os grandes feitos, estão a comprovação do bóson de Higgs ou “partícula de Deus”; a construção do LHC, o mais potente acelerador de partículas do planeta; a invenção do World Wide Web (www); além de experimentos e descobertas sobre a origem do universo.
O LHC funciona dentro de um túnel de 27 quilômetros a cem metros abaixo do solo, onde as partículas são aceleradas a uma velocidade próxima à da luz, produzindo 1 bilhão de colisões por segundo. O experimento levou mais de dez anos para ser concluído até a primeira volta, em 2011. Com ele, os cientistas tentam responder os mistérios que envolvem o surgimento do universo e reproduziram as condições dos instantes seguintes ao Big Bang.
Criado em 1954, logo após a Segunda Guerra Mundial, o CERN começou com uma colaboração internacional entre 12 países. Hoje, possui 23 estados-membros plenos e oito associados. Em 2010, a organização estendeu a possibilidade de países não-europeus se tornarem membros associados. Com um volume histórico de cooperação científica, o Brasil iniciou os trâmites que resultaram na assinatura do Acordo de Acessão, em 2022. Para ser ratificado, o acordo precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo presidente da República.
De acordo com a ministra, a associação ao CERN integra a estratégia de ampliar o acesso do Brasil a infraestruturas globais de pesquisa. Para aderir à organização, o país precisa contribuir com US$ 12 milhões por ano – valor que, segundo a ministra, não compromete o financiamento e traz enormes benefícios para a ciência brasileira.
“Esta parceria será de grande importância para a comunidade científica brasileira, mas, principalmente, para a indústria nacional de base inovadora. É prioridade do governo do presidente Lula a reindustrialização em novas bases, com o objetivo de promover e apoiar o desenvolvimento tecnológico e a inovação nas empresas nacionais”, disse a ministra.
Para além do mistério que cerca a existência do universo, a ciência produzida no CERN permite o desenvolvimento de experimentos que oferecem soluções para a saúde, a indústria e o meio ambiente. A partir do grande acelerador LHC, outros empreendimentos científicos foram construídos. Um deles é o Sirius, que funciona no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP).
Os dois aceleradores já possuem acordo de cooperação, mas a associação do Brasil ao CERN vai elevar a transferência de tecnologia para outro patamar. Grande parte das tecnologias desenvolvidas pela organização acontece em parceria com a indústria por meio de contratos de pesquisa e desenvolvimento e de fornecimento de serviços e matéria-prima. Para se ter uma ideia, os investimentos do CERN com contratos e encomendas junto à indústria alcançaram cerca de US$ 500 milhões nos últimos anos. Se aprovada, a adesão vai permitir a participação das empresas brasileiras nos contratos com o CERN, além de assegurar o acesso de pesquisadores e cientistas à organização, ampliando a formação de recursos humanos altamente qualificados, o que é importante para a reindustrialização do país.
Minerais estratégicos
Outra vantagem da associação do Brasil à Organização Europeia para Pesquisa Nuclear é o acesso do país a matérias-primas especiais, como o nióbio, largamente utilizado para a fabricação de ímas. Em vez de adquirir o minério em sua forma natural, o CERN opta pelo produto final para aplicação em seus componentes. “O Brasil tem todo o interesse em absorver a tecnologia utilizada na fabricação das ligas de nióbio, titânio e cobre em vez de ser apenas um exportador de matéria-prima”, ressaltou a ministra Luciana Santos.
Confira a versão podcast dessa matéria!