Notícias
Brasil também pode ser líder em proteínas alternativas, apontam especialistas no setor
Foto: Rodrigo Cabral
A secretária de Políticas e Programas Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Marcia Barbosa, reuniu-se nesta terça-feira (27) com o fundador e presidente da organização não-governamental The Good Food Institute (GFI), Bruce Friedrich, e o diretor de Alimentos do Futuro do Fundo Bezos Earth, Andy Jarvis, para falar sobre as possibilidades de sinergias em pesquisa, desenvolvimento e inovação em sistemas alimentares, em especial, proteínas alternativas.
O GFI é uma organização sem fins lucrativos que se propõe a acelerar o desenvolvimento do setor de proteínas alternativas e trabalha em parceria com o fundo criado por Jeff Bezos, que, entre outras ações, apoia a transformação de sistemas alimentares. As duas instituições internacionais estão no Brasil para conhecer o sistema brasileiro de ciência e tecnologia e visitar institutos e órgãos governamentais relacionados à produção de alimentos.
Proteínas alternativas é o nome dado aos alimentos que substituem a carne, utilizando, como base, vegetais ou aquelas produzidas em laboratório a partir de células animais.
Responsável pelas áreas de pesquisa do MCTI, incluindo temas como mudança climática, segurança alimentar, bioeconomia e biodiversidade, a secretaria Marcia Barbosa destacou que o Brasil, uma potência agropecuária, necessita fazer uma transição para adotar em larga escala a agricultura de baixo carbono e, paralelamente, migrar para a utilização de biosinsumos.
“Temos que utilizar a biodiversidade para a produção de bioprodutos. Um país com as dimensões do Brasil precisa ser mais autossustentável em algumas áreas”, comentou. Além disso, ela falou sobre a capacidade de pesquisa instalada no país, como a do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), para a aplicação de biologia sintética no desenvolvimento de plataforma microbianas. A delegação visitou as instalações unidade vinculada ao MCTI na segunda-feira (26).
Marcia Barbosa destacou ainda a segurança alimentar e o meio ambiente são dois pilares importantes de pesquisa, desenvolvimento e inovação, e que ambos estão conectados. Como exemplo, citou o projeto ‘Cadeias produtivas da bioeconomia’ do MCTI, que trabalha com produtos da biodiversidade dos biomas para agregar valor e renda às comunidades locais. Ela mencionou também a inciativa em pesquisa na área de foodtech cujo edital, lançado com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), contemplou investimentos para sistemas alimentares contemporâneos, novos ingredientes, proteínas alternativas e novas tecnologias de alimentos.
De líder em produção de proteína animal para proteína alternativa
Para o fundador e presidente global do GFI, Bruce Friedrich, o Brasil, que já é um líder global na produção de grãos e importante fornecedor de proteína animal, pode ser muito promissor na produção de proteínas alternativas. Na visão de Friedrich, pastas ministeriais, como o MCTI e o Ministério da Agricultura, e empresas de pesquisa públicas, como a Embrapa, estão atuando em novos e inovadores caminhos. “Há muitas empresas no Brasil que também estão buscando valores econômicos para as companhias, sustentabilidade e segurança alimentar por meio de novos caminhos de produzir ovos, leite e carne. Não há país mais promissor que o Brasil”, afirmou Friedrich.
O diretor de Alimentos do Futuro do Fundo Bezos Earth, Andy Jarvis, relatou que as áreas de interesse para prospecção de projetos envolvem rastreabilidade de produtos, bioeconomia e proteínas alternativas. Segundo Jarvis, são poucos os países que estão acelerando a transição para produção de baixo carbono e que o Brasil tem potencial de liderar.
O presidente do GFI no Brasil, Gustavo Guadagnini, descreve o Brasil como uma potência científica nesse setor, que dispõe dos requisitos para atuar na produção agropecuária e de processamento de alimentos. Segundo ele, isso pode atrair mais investimentos para a formação profissional e científica de maneira que o país também possa se tornar um exportar de inovação em alimentos. “Temos o potencial de liderar esse setor. Tenho certeza que o MCTI vai ter um dos papéis mais importantes nesse ecossistema de proteínas alternativas, que é levar a nossa ciência para o máximo daquilo que ela consegue alcançar do ponto de vista de desenvolvimento de produto, de novos ingredientes e processos, de ganho de escala e, com isso, ajudar a indústria brasileira a se tornar lider desse setor”, relatou Guadagnini.
Ele lembrou que, segundo pesquisa executada pelo GFI, o Brasil importa matéria-prima para produção de proteínas alternativas. “Ao mesmo tempo que o Brasil é o maior produtor de proteína do mundo, ainda importamos proteína de ervilha da Europa, do Canadá ou da China para fazer esse tipo de produto, porque não temos pesquisa suficiente nas plantas brasileiras em geral”, explicou.
Para o presidente do GFI no Brasil, novas pesquisas em andamento com a soja e o feijão ou ingredientes da biodiversidade brasileira podem contribuir para o desenvolvimento de produtos que atendam às demandas nacionais.
Veja fotos da reunião no link.