Notícias
“Mulheres são eficientes e precisam ocupar posições de altos cargos”, afirma pesquisadora brasileira laureada por prêmio Mulheres na Ciência
A pesquisadora brasileira Suzana Nunes recebeu na quinta-feira (15), em Paris, um dos prêmios mais prestigiados voltados à promoção da igualdade de gênero e ao incentivo de jovens e meninas no campo científico. Ela foi uma das cinco vencedoras da 25ª edição do prêmio internacional L'Oréal - Unesco para Mulheres na Ciência.
“O prêmio é uma inspiração muito grande”, expressou a pesquisadora sobre as possibilidades do impacto do prêmio para mulheres e meninas.
“Nasci no Brasil, e a ciência me levou para a Alemanha e, depois, para Árabia Saudita, onde resido há 13 anos”, afirmou Suzana Nunes durante o discurso na cerimônia em que recebeu o prêmio. Ela representou a região dos Países Árabes e a África.
Suzana iniciou a carreira na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e, atualmente, é professora de Química, Ciências Ambientais e Engenharia e vice-reitora de Assuntos Docentes e Acadêmicos da Universidade de Ciência e Tecnologia King Abdullah (KAUST), na Arábia Saudita.
A secretária de Políticas e Programas Estratégicos do MCTI, Marcia Barbosa participou da cerimônia representando a ministra Luciana Santos. “É um momento de comemorar as mulheres na ciência. Neste ano, foram homenageadas mulheres que realizaram descobertas em meio ambiente, matemática, teoria de cordas, dessalinizacao e uso de inteligência artificial em cura de doenças”, comentou Marcia Barbosa, que foi laureada em 2013 pelas descobertas das anomalias da água.
Ela também destacou os apelos e preocupações que foram expressados durante a cerimônia sobre as dificuldades da inserção feminina nas carreiras científicas em alguns países. “Em paralelo, ouvimos depoimentos de mulheres que tiveram que sair de seus países em momentos de crise”, alertou.
Trajetória
Durante a cerimônia, a pesquiadora Suzana Nunes relatou que foi trabalhar no Oriente Médido para integrar uma universidade internacional com mais de cem nacionalidades para ensinar aos homens e mulheres de forma igualitária. “Isso mostra que a ciência não tem gênero nem fronteira, quando se trata de trabalhar em conjunto. Nós somos confrontados a tantos desafios no mundo, o clima, a perda da biodiversidade, precisamos agir”, falou.
A pesquisadora falou ainda sobre como seu trabalho na área química contribui para o desenvolvimento de soluções para um mundo mais sustentável, especialmente em uma região liderada pela indústria petroquímica.
“O meu trabalho diz respeito à sustentabilidade, eu sou química, trabalho com a ciência da matéria e minha forma de contribuir é desenvolver membranas, tecnologias que podem ser usadas em direção a um mundo mais sustentável. Mas é preciso realmente agir, o mais rápido possível, e as mulheres devem fazer parte dessa solução. É essencial. É preciso juntar soluções de diferentes países, diferentes ideias de homens e mulheres”, afirmou.
A pesquisadora desenvolve novos materiais poliméricos para sistemas de separação duráveis com fraco consumo de energia e fracas emissões. São membranas mais eficientes e de alta precisão para aplicações destinadas a fração de pequenas moléculas ao fracionamento do óleo e de produtos farmacêuticos ou ainda à purificação da água. As membranas funcionam como peneiras muito finas, com poros 100 mil vezes menores do que um fio de cabelo, utilizadas para separar produtos.
Após o recebimento do prêmio, a pesquisadora falou com MCTI. Leia a entrevista:
Em seu discurso a senhora destacou que a ciência a levou para a Alemanha e para o projeto da universidade internacional na Arábia Saudita. Qual sua avaliação sobre o potencial da ciência para inserção das mulheres em altos cargos?
É conhecido que se tem um número relativamente bom de mulheres estudantes em engenharia, matemática, química, fisica, e esse número está crescendo. Mas o número de mulheres em altos cargos é muito menor. Isso ainda é um problema. Temos que ser otimistas e temos muitos bons exemplos de pessoas assumindo cargos importantes. O mais importante é que essas pessoas serão a demonstração que mulheres são eficientes e precisam participar de uma forma equivalente aos homens em posições de altos cargos. Eu sou otimista e acho que vai melhorar, precisa melhorar.
Outro aspecto que senhora enfatizou foi seu trabalho como química, que está contribuindo para o desenvolvimento de novas ferramentas para a transição energética. Qual a contribuição dessa tecnologia para as diversas áreas da economia?
Meu grande objetivo é contribuir para uma transição das tecnologias de separação que temos hoje para uma economia completamente sustentável. E, para isso, nós precisamos não só atuar com captura de CO2,no final do processo, mas agir desde o início de forma que possamos substituir alguns dos processos industriais que custam muita energia. Na indústria química e petroquímica, 50% do gasto de energia é para processos de separações, separação de mistura complexa de petróleo, seja purificação de um remédio, de água que não pode ser descartada em rios e mares. Para isso, a membrama pode ser um método muito eficiente. Essa é a minha esperança que contribua.
Assista à transmissão da cerimônia de entrega do prêmio abaixo:
Confira a versão podcast dessa matéria!