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Pesquisadores da RedeVírus MCTI monitoram influenza aviária em animais silvestres
Parque Nacional da Lagoa do Peixe, no sul do Rio Grande do Sul, principal hotspot de aves migratórias oriundas do Hemisfério Norte. Foto: Antônio Coimbra de Brum
Os integrantes da Rede Vírus MCTI reuniram-se nesta sexta-feira (10/03) para avaliar o atual cenário envolvendo a influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1). Os pesquisadores apresentaram o trabalho de vigilância de animais silvestres envolvendo o patógeno, que recentemente foi registrado em diversos países da América do Sul, e deverão estabelecer as ações e recomendações no âmbito da ciência e tecnologia do Brasil para o enfrentamento. A reunião contou com a participação da secretária de Políticas e Programas Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (SEPPE/MCTI), Marcia Barbosa.
“O Brasil está em alerta pelo risco de introdução do vírus da influenza aviária por meio das aves silvestres. Os resultados do projeto de pesquisa têm sido compartilhados com o objetivo de contribuir com a vigilância que vem sendo executada pelos órgãos pertinentes em razão do monitoramento de influenza aviária”, afirmou a secretária.
Os resultados têm sido compartilhados com os ministérios da Agricultura e da Saúde.
A RedeVírus MCTI é um fórum de renomados especialistas que assessoram a pasta ministerial em viroses emergentes e reemergentes. O grupo foi constituído em 2020 para enfrentar a pandemia causada pelo SARS-CoV-2 e construiu estratégia envolvendo vacinas, testes de diagnóstico, monitoramento de sequenciamento genômico, e redes de monitoramento de aves silvestres para detectar vírus com potencial zoonótico, além de redes de monitoramento de águas residuais.
Rede Previr MCTI realiza busca ativa de H5N1 em aves migratórias - A Rede Previr MCTI unificou, fortaleceu e ampliou atuação em âmbito nacional da vigilância epidemiológica de patógenos em animais silvestres com potencial zoonótico, ou seja, que podem ser transmitidas para seres humanos. Desde o início das atividades, os pesquisadores coletaram 7,5 mil amostras de morcegos e aves.
A partir do segundo semestre do ano passado, os pesquisadores passaram a atuar com mais ênfase na busca ativa do vírus influenza aviária (H5N1) em aves silvestres. Introduzido no continente americano a partir da América do Norte por aves silvestres provenientes da Europa, estima-se que, em novembro de 2021, o patógeno motivou o abate de 58 milhões de aves para limitar a propagação do vírus só nos Estados Unidos.
A partir de outubro de 2022, as expedições foram intensificadas em decorrência da migração das aves silvestres do Hemisfério Norte para o Sul. “Todos os anos temos esse fenômeno natural. Em novembro, cerca de cinco milhões de aves migram do Hemisfério Norte para o Sul em busca de alimentos e abrigo”, relata o co-coordenador da Rede Previr MCTI, Edison Luiz Durigon, que é chefe do Departamento de Microbiologia da Universidade de São Paulo (USP).
As aves ficam por aqui até meados de abril, quando iniciam o caminho de regresso.
O reforço ocorreu especialmente na região do Pantanal do Mato Grosso, Espírito Santo, Pernambuco, Maranhão, Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Os locais escolhidos envolvem as rotas migratórias do Atlântico, na faixa litorânea, e da América Central, na parte do Pantanal.
Entre os pontos selecionados pelos pesquisadores está o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, no sul do Rio Grande do Sul. O local é o maior hotspot dessas aves migratórias e ponto de parada obrigatória mesmo para aquelas que utilizam rotas migratórias que passam pela Amazônia ou pelo Nordeste.
De acordo com os dados da Rede Previr, desde agosto do ano passado foram coletadas 602 amostras de 43 indivíduos de seis espécies de aves migratórias e de uma residente. Uma amostra de Calidris fusicollis testou positivo para o vírus da influenza de baixa patogenicidade, conforme sequenciamento publicado em boletim da Rede Previr. As amostras coletadas no Mato Grosso, Espírito Santo, Pernambuco e Maranhão foram negativas para influenza.
“A Rede Previr está fazendo um papel muito importante que é de monitorar as aves migratórias. A qualquer suspeita nós comunicamos imediatamente o Ministério da Agricultura, que é o órgão responsável por atuar na influenza aviária”, explica Durigon.
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) é o órgão responsável pelo serviço oficial de vigilância e emergências sanitárias. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frangos e o maior exportador de carne de frango, com cerca de 35% das exportações mundiais. Aves silvestres migratórias e residentes são apontadas como as principais disseminadoras do vírus no ambiente. Por isso, o contato com aves silvestres deve ser evitado. A aplicação de medidas de biosseguridade deve ser observada rigorosamente para evitar a introdução do vírus nas granjas.
O mapa de alertas da FAO indica que, além da América do Norte, já foram registrados casos de influenza aviária na América Central e em países da América do Sul, como Peru, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Venezuela, Argentina e Uruguai. Nos Estados Unidos, segundo Durigon, há um sistema estruturado há duas décadas com cerca de 30 centros de monitoramento e, anualmente, 60 mil aves silvestres são amostradas para controle de potenciais patógenos. O monitoramento ativo foi o responsável por embasar ações drásticas para conter a disseminação do vírus.
Infecção de mamíferos – Durigon estuda o vírus Influenza há cerca de 30 anos e relata que a influenza aviária é, historicamente, um vírus de aves, como patos, gansos e outras aves aquáticas. As aves silvestres eram os grandes reservatórios, mas não ficavam doentes. “A partir do ano passado, o vírus sofreu uma mutação. Eram dois vírus H5N8 com H5N1 que foram se replicando e passou a ser mais agressivo para aves silvestres, passou a matar aves, o que antes não fazia. E começou a infectar mamíferos”, afirma Durigon.
A preocupação atual dos pesquisadores sobre a H5N1 em relação aos mamíferos é o número de espécies contaminadas e a mortalidade registrada em alguns locais.
Os casos registrados até hoje de humanos contaminados foram de transmissão direta entre aves e humanos, e de modo acidental. “Temos que tomar muito cuidado. Por isso, é muito importante monitorar e bloquear isso. Temos que intervir. Só consegue intervir se soubermos o que está acontecendo, ou seja, monitorando e tendo diagnóstico”, conclui.
Série ‘Ciência pelo Brasil’ - A primeira reportagem destacou os avanços proporcionados pela rede Corona-Ômica, responsável pela vigilância genômica do vírus que depositou mais de 70 mil genomas no GISAID, tornou-se referência e fomentou outras redes pelo Brasil, treinou profissionais e tem como desafios atuar no sequenciamento genômico de outros vírus e bactérias.
A segunda reportagem abordou a estratégia adotada pelo MCTI para pesquisa e desenvolvimento de vacinas e medicamentos antivirais que aproximou a academia da iniciativa privada, um caminho para vencer barreiras na produção nacional de Ingrediente Farmacêuticos Ativos (IFAs).
A terceira reportagem abordou o monitoramento de animais silvestres com potencial zoonótico.