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MCTI defende cooperação institucional e incentivo a projetos transversais para enfrentar os desafios globais
Foto: David Alves
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) defendeu o fortalecimento da cooperação institucional e o investimento em projetos transversais para enfrentar os desafios globais durante a abertura da 1ª Conferência para uma Amazônia que Queremos do Painel Científico para a Amazônia. A secretária de Políticas e Programas Estratégicos do MCTI, Marcia Barbosa, representou a ministra Luciana Santos no evento, realizado nesta quarta-feira (8), em Belém (PA). A cidade é candidata a sede da COP 30, que será realizada em 2025.
“A ciência do século 21 é coletiva, é diversa, é plural. O MCTI vai incentivar projetos transversais”, afirmou Barbosa em seu discurso.
A Conferência é a primeira reunião presencial desde a constituição do Painel, em 2019. De acordo com os organizadores, o objetivo é promover o diálogo entre diferentes setores da sociedade para estimular o avanço da ciência e o desenvolvimento sustentável na Amazônia. O painel de abertura abordou as questões mais urgentes para uma agenda de desenvolvimento sustentável da Amazônia, em direção a uma bioeconomia florestal permanente.
A secretária Marcia Barbosa mencionou projetos financiados pelo MCTI que estão em andamento e destacou que a área de bioeconomia terá mais relevância na estrutura ministerial e iniciativas já executadas deverão ser ampliadas. Além disso, destacou a necessidade de haver escalonamento dos projetos para enfrentar os atuais desafios. “A questão que nos é feita aqui é dividida em duas tarefas. Precisamos escalonar para ser grande e nos preparar para enfrentar esses novos cenários”, explicou.
Alterações climáticas e desenvolvimento sustentável, entre outros, são os desafios globais contemporâneos que requerem ações conjuntas e coordenadas. As soluções envolvem necessariamente a cooperação interinstitucional para que os melhores resultados sejam alcançados. Além disso, os grandes desafios em matéria de clima e meio ambiente, e os relacionados com outros Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), tornaram-se mais presentes na agenda política em todos os domínios, incluindo, naturalmente, na agenda da ciência, tecnologia e inovação.
Entre os projetos citado pela secretária estão o Observatório de Torre Alta da Amazônia (ATTO), que estuda processos de grande e pequena escala, que vão desde como a floresta e o solo influenciam os gases de efeito estufa, aerossóis, mistura de ar e nuvens, a química do solo, microbiologia e biodiversidade. O Programa Cadeias Produtivas da Bioeconomia MCTI, que fomenta a pesquisa científica, o desenvolvimento tecnológico e a inovação, agregando valor aos produtos da biodiversidade brasileira. O projeto centrado na sustentabilidade produtiva e na melhoria da qualidade de vida das populações locais trabalha, na região amazônica, com as cadeias produtivas do açaí, cupuaçu e pirarucu.
Outro projeto mencionado foi o Providence, que promoveu um avanço na forma de monitoramento da biodiversidade nas florestas tropicais, desenvolvendo e implantando uma tecnologia que integra, pela primeira vez, o reconhecimento de espécies por meio de técnicas de áudio e imagem em um único módulo de hardware. Instalado na Reserva Mamirauá, no Amazonas, o projeto está permitindo a identificação de mais espécies do que qualquer outra tecnologia disponível, com identificação automática em tempo real e baixo consumo de energia.
Busca por soluções
O governador do Pará, Helder Barbalho, afirmou que o estado se apresenta para construir soluções que sejam sustentáveis ambientalmente e socialmente de modo sintonizado. Ele argumentou que toda e qualquer solução precisa conciliar a lógica de manter a floresta em pé e atender as pessoas. “É o maior bioma tropical do planeta e 29 milhões de pessoas que moram nessa região”, afirmou.
Barbalho também citou dados econômicos gerados pela bioeconomia, mas apenas 0,2% são provenientes do maior bioma do Brasil. Ele defendeu que a floresta seja um ativo econômico e considerada uma “commodity global”.
O pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), Carlos Nobre, falou sobre a importância de restaurar pelo menos 50 milhões de hectares em todos os países amazônicos. O desafio lançado no ano passado durante a COP 27, no Egito, envolve dois arcos de restauração florestal. “Mais de 20 milhões de hectares desmatados estão em terras indígenas, áreas de conservação e terras devolutas”, citou Nobre. “Se houver sucesso [na regeneração florestal], serão removidos 500 milhões de toneladas de gás carbono”, complementou.
O pesquisador explicou que um dos eixos do painel científico é a busca por soluções, considerando e atendendo os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), em relação a remediar e restaurar a biodiversidade, desenvolver uma nova bioeconomia e empoderar as populações da Amazônia. Nobre afirmou que o Painel deve definir os temas emergentes e prioritários, quais serão os policy briefings que serão lançados nas próximas COPs. E defendeu investimentos em ciência e tecnologia e a necessidade de aproximação da bioindústria. Ao final dos debates, Nobre comentou que o Painel vai buscar ampliar as discussões além dos setores acadêmicos.
Ao destacar a contribuição do Painel como orientador das ações, o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, João Paulo Capobianco, afirmou que a ciência deve ser o pilar fundamental para as políticas públicas. “Não é possível avançar em políticas consistentes sem as evidências da ciência para construir cenários consistentes”, disse.
As evidências científicas fortalecem as capacidades para avaliar e prever novos cenários, ou seja, norteiam as ações futuras e possibilitam a antecipação. Segundo ele, isso é o que justifica o sucesso do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), que reduziu o desmatamento. “Temos que ter capacidade de análises de tendências com a melhor ciência disponível”, afirmou o secretário-executivo do MMA.