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Estudo demonstra que terceira dose da vacina contra covid-19 é mais eficaz na proteção contra variante Ômicron
Pesquisadores da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) demonstraram que a aplicação de três doses ou mais da vacina contra covid-19 produzem aumento das respostas imunes e reduzem a suscetibilidade à variante Ômicron. O estudo que está publicado na edição de fevereiro do periódico científico internacional Journal of Medical Virology , um dos mais renomados da área e com alto fator de impacto, contou com dados provenientes dos projetos Laboratórios de Campanha e da Rede Corona-ÔmicaMCTI, ambos desenvolvidos no âmbito da RedeVírus do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
O objetivo da pesquisa foi compreender o que determina a suscetibilidade do indivíduo à Ômicron em um cenário de ampla vacinação, considerando como vacinados aqueles que receberam pelo menos uma dose.
Entre janeiro e março de 2022, o grupo acompanhou 286 pacientes, sendo 109 homens e 177 mulheres), com idades variando de 7 meses a 84 anos, na cidade de Barreiras, no extremo Oeste baiano. O estudo foi coordenado pelo biomédico e professor do Centro das Ciências Biológicas e da Saúde da UFOB, Jaime Henrique Amorim, e é objeto de estudo da doutoranda e primeira autora do artigo, Jéssica Pires Farias. O artigo é assinado por 20 pesquisadores de dez instituições.
“Dentro deste número amostral há diferença significativa entre os subgrupos. A amostra, de uma população de uma cidade, tem significância estatística e é robusta o suficiente para levar à conclusão”, explica Amorim sobre as evidências clínica e laboratorial, mostrada pelo número de doentes. Segundo Amorim, no grupo estudado, mais de 80 infectados não tinham tomado a terceira dose da vacina.
Os pesquisadores investigaram a dinâmica da resposta imune de indivíduos com agravos respiratórios que não foram vacinados e que receberam pelo menos uma das doses das vacinas contra a Covid-19 (Astrazeneca, Coronavac, Janssen e Pfizer).
Foram coletados 286 swabs de nasofaringe e 239 amostras de sangue, bem como informações de histórico de vacinação contra a Covid-19. O Ensaio Imunoenzimático (ELISA) foi utilizado para determinar os níveis séricos de anticorpos antivirais. Testes de neutralização foram realizados na Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), utilizando as linhagens Wuhan e Ômicron. As técnicas de RT-qPCR e sequenciamento genético foram utilizados na UFOB para determinação do diagnóstico e variante circulante, respectivamente.
Os resultados indicaram que a redução no número de indivíduos infectados só reduziu no grupo que recebeu três doses da vacina. A suscetibilidade dos indivíduos à variante Ômicron, dominante no grupo e período da realização do estudo, diminuiu de fato após a terceira dose. O coordenador do estudo relata que o efeito da terceira dose da vacina foi observado independentemente das formulações vacinais.
A pesquisa também mostra que essa suscetibilidade reduzida foi baseada em uma resposta imune aumentada, com níveis mais altos de anticorpos antivirais séricos, incluindo aqueles capazes de neutralizar o vírus e impedir a infecção.
“Quem tem até segunda dose vacinal apenas neutraliza bem vírus mais antigos, como os de Wuhan, selvagem. A capacidade de neutralizar Ômicron só vem com a terceira dose. Por isso, é essencial tomar [a dose de] reforço”, avalia Amorim.
Importância e perspectivas futuras - Para o coordenador-geral de Ciências da Saúde, Agrárias e Biotecnológicas do MCTI, Thiago Moraes, ao ser publicado em uma revista de alto impacto científico da área, o estudo demonstra a excelência científica dos trabalhos desenvolvidos no âmbito da RedeVírus MCTI. Moraes destaca que a publicada evidencia a importância do contínuo fomento aos estudos para acompanhamento da Covid-19.
“Esses dados são de grande importância para que o Ministério da Saúde tenha dados científicos robustos para monitorar a doença, bem como, planejar esquema de vacinação”, destacou Moraes.
De acordo com Jessica Pires Farias, os achados da pesquisa apoiam as atuais políticas de saúde pública baseadas na administração contínua de três ou mais doses de vacina tanto para prevenção da doença e suas sequelas quanto para o surgimento de novas variantes do SARS-CoV-2 capazes de escapar da imunidade induzida pelas formulações vacinais em uso atualmente no Brasil. “Deixar de atender aos chamados para reforço com doses adicionais torna os indivíduos susceptíveis, pois as doses de reforço modulam a resposta imune para um status com maior capacidade de controlar o vírus e proteger o indivíduo”, explicou Farias.
A pesquisadora também encoraja a reformulação das vacinas administradas para contemplar as Variantes de Preocupação, as chamadas VOCs, e reduzir a possibilidade de escape vacinal.
Entre os objetivos do grupo está a continuidade da investigação utilizando as próximas doses vacinais e englobar as subvariantes da Ômicron.
Financiamento
- A pesquisa contou com apoio financeiro do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Instituto Serrapilheira, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).