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ANTÁRTICA: produção científica assegura ao Brasil posição de membro consultivo no Tratado
A produção científica no continente gelado é a principal responsável por assegurar a posição do Brasil como membro consultivo do Tratado da Antártica. Instituído 1º de dezembro de 1959, esse instrumento internacional conta com 53 países signatários. Destes, 29 são considerados membros consultivos.
“A gente não pode deixar de fazer pesquisa, pois é ela que garante a nossa presença [do Brasil] no Tratado da Antártica como membro consultivo. Para termos voz, voto e veto no Tratado temos que fazer pesquisa”, destaca o pesquisador e professor do Departamento de Botânica da Universidade de Brasília (UnB), Paulo Câmara, sobre a importância geopolítica da ciência.
Neste ano, durante a 41ª Operação Antártica, cerca de 20 projetos e 130 pesquisadores estão realizando pesquisas de campo. A parte científica do Programa Antártico do Brasil é gerenciada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) em conjunto com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O Brasil aderiu ao Tratado da Antártica em 1975 e é membro consultivo desde 1983, um ano após iniciar o programa de pesquisa. Para manter-se nessa categoria é preciso observar o artigo IX, que trata do desenvolvimento de pesquisas de qualidade naquela região polar. Pelo Tratado, a Antártica é uma “reserva natural consagrada à paz e à ciência”, e proíbe até 2047 a exploração econômica de seus recursos minerais. O Protocolo de Madri também regulamenta e controla as atividades de pesquisa e de turismo no local.
A Antártica é maior que a Amazônia. Tem 14 milhões de km2. É quase 10% da área do planeta, 90% do gelo e 70% da água doce. E o Brasil é o sétimo país mais próximo desse imenso continente. “É grande demais e está perto demais para fazer de conta que não existe. Não está no livro da escola das crianças, não se fala, não está no radar das pessoas, mas tudo o que acontece lá afeta nossa vida”, explica Câmara.
A influência do continente antártico no território brasileiro é mais visível na meteorologia e, por consequência, na produção agrícola. As pesquisas brasileiras permitem melhorar previsões de tempo e clima. Os reflexos do continente antártico chegam até os trópicos e os estudos da biodiversidade permitem identificar uma série de moléculas de potencial uso na medicina, na agricultura e em vários setores da economia. Além disso, explosões solares, captadas na Antártica, podem interferir nas comunicações do Brasil.
Ampliar o conhecimento sobre a região - Para quem associa a região antártica aos pinguins, às baleias e ao gelo pode ser uma surpresa a informação de que já foram catalogadas 118 espécies de plantas por lá. Uma completamente nova foi descrita por Câmara. Ele coordena o projeto Bryoantar e com sua equipe, entre outras ações, estão aplicando a técnica de DNA ambiental para sequenciar organismos vivos que detectados no ar, na água, no solo ou no gelo. O objetivo é identificar o que é nativo da região e o que é invasor, levado pelo homem, por correntes de ar e marítimas ou aves migratórias, e que por conta das condições climáticas locais ainda não se desenvolveu. “A região da Antártica está aquecendo. É uma das regiões que mais aquece no mundo, é o dobro da média mundial. Então, haverá um momento que essas coisas que chegam conseguirão se desenvolver e ficará difícil de saber o que já estava lá e o que chegou depois”, detalha o pesquisador que defende a ideia de que é preciso conhecer para preservar.
A contribuição dessa pesquisa brasileira é descrever as espécies que compõem o inventário da região com a finalidade de monitorar, proteger e diferenciar organismos se são invasores ou se já estavam na presentes na região congelados há mais de 500 anos. “Hoje, conseguimos saber tudo o que está no ar. O que está chegando na Antártica e de onde estão chegando”, afirma Câmara.
O pesquisador destacou a capacidade operacional da Estação Antártica Comandante Ferraz que foi equipada com 17 novos laboratórios. Pela primeira vez, ele conseguiu coletar dados de modo ininterrupto também durante o inverno. O experimento ficou aos cuidados de um militar da Marinha que integra do Grupo Base e foi treinado para conduzir os procedimentos. “Um ano inteiro de coletas ininterruptas. Isso nunca havia sido feito”, expressou. O panorama de precipitação, por exemplo, é diferente.
Séries longevas de dados – O pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco, Moacyr Araújo, enfatiza a importância da longevidade do programa, que em 2022 completou 40 anos de existência. “É impossível entender o funcionamento, as implicações e as consequências de qualquer ecossistema sem o acompanhamento de longo período, pelo menos na escala decadal. De forma geral, os 40 anos do Proantar, é termos justamente a possibilidade de termos séries históricas que são mais prolongadas sobre a dinâmica daquele continente”, explica Araújo
Acompanhe a série especial de reportagens que o MCTI preparou sobre 41ª Operação Antártica e conheça melhor os projetos científicos brasileiros desenvolvidos no continente gelado.
Leia aqui a reportagem que aborda o trabalho dos pesquisadores brasileiros no continente gelado e o projeto que que avalia os impactos sobre o corpo humano.
Neste link conheça a importância para a biotecnologia sobre a maior coleção de fungos antárticos.
Aqui você conhece o projeto brasileiro que busca quantificar o plástico transportado do Pacífico para o Atlântico Sul.