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Antártica: brasileiros monitoram fungos que estão afetando musgos milenares
Um dos projetos que é executado durante a 41ª Operação Antártica, é o Mycoantar, dedicado à diversidade e bioprospecção de fungos com potencial biotecnológico. O grupo de pesquisa de microbiologia polar reúne uma das maiores coleções de fungos antárticos do mundo e tem como objetivo caracterizar a distribuição, diversidade e ecologia de micro-organismos, tais como bactérias, microalgas e fungos, presentes. Além disso, seleciona micro-organismos antárticos com capacidade de produzir biomoléculas para aplicações biotecnológicas.
O trabalho se inicia ainda durante a viagem, com montagem de equipamentos e coletas de campo, onde são coletadas amostras de água e de ar para diferentes estudos. Ao chegar no continente gelado, os pesquisadores tentarão acessar ilhas para a coleta de amostras de algas, rochas, solos, neve e gelo. O condicional é importante em se tratando de Antártica, pois o trabalho em campo depende da meteorologia, mesmo durante o verão austral.
Em um vídeo do projeto ‘Antártida ou Antártica?’, que leva o tema para a sala de aula, o pesquisador detalha como é trabalho de coleta e análise de amostras.
Um dos interesses do grupo, que é liderado pelo professor Luiz Rosa, coordenador do Laboratório de Microbiologia Polar da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é a pesquisa com fungos que estão afetando tapetes de musgos milenares na Antártica. Esses tapetes de musgos podem ser considerados uma floresta em miniatura, pela quantidade de organismos que vivem neles.
Segundo Rosa, essa vegetação tem crescimento lento e, aparentemente, não desenvolveu mecanismos de defesa contra os fungos. O grupo monitora esse conjunto de fitopatógenos há alguns anos. O pesquisador explica que já identificou manchas, semelhantes a anéis, sobre os tapetes e que chegam a matar essa vegetação, de modo que o musgo entra em putrefação, em diferentes ilhas.
“O aquecimento antártico está favorecendo o aparecimento desses organismos [os fungos]. O musgo não tem mecanismos de defesa”, afirma o professor.
O monitoramento desse fenômeno tem pelo menos dois interesses diretos para o Brasil. Os pesquisadores querem caracterizar o que são, como se desenvolvem e agem. Ao desvendar os mecanismos desses fungos, os pesquisadores buscam encontrar novas substâncias que podem tornar-se fonte de desenvolvimento de bioprodutos com interesse industrial, e potencial econômico, que possam ter aplicação na agricultura, como herbicidas, e na saúde, como antibióticos.
O enfrentamento à resistência antimicrobiana é um dos maiores desafios de saúde da atualidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde, estima-se que até 2050 cerca de 10 milhões de óbitos anuais poderão ser atribuídos à falta de medicamentos capazes de combater bactérias, fungos, vírus e parasitas.
Na outra ponta, conhecer esses fungos torna-se decisivo para atuar em caso de dispersão entre continentes. Aves e correntes de ar podem fazer esses seres microscópicos alcançarem a América do Sul e atingirem cultivos agrícolas.
Acompanhe a série especial de reportagens que o MCTI preparou sobre 41ª Operação Antártica e conheça melhor os projetos científicos brasileiros desenvolvidos no continente gelado.
Leia aqui a reportagem de ontem, a jornada dos pesquisa até chegar ao continente gelado e a pesquisa que avalia os impactos sobre o corpo humano.
Na segunda-feira, vamos conhecer os desafios e a importância de estudar a confluência de correntes oceânicas.