Notícias
PIRATA - Projeto de cooperação internacional oceanográfico celebra 25 anos com avanços científicos
Foto: Wesley Sousa (SEAPC / MCTI)
O projeto de cooperação internacional ‘Rede de Boias Ancoradas para Previsão e Pesquisa no Atlântico Tropical’ (PIRATA, na sigla em inglês), realizado por Brasil, Estados Unidos e França, completa 25 anos com avanços científicos. Os dados oceânicos e atmosféricos coletados pelas boias ancoradas em alto-mar no oceano Atlântico permitiram melhorar a definição das condições iniciais dos modelos para previsão de tempo e clima. As informações também contribuem para a aferição das estimativas de temperatura da superfície do mar, que são utilizadas para cruzamento com os dados captados por satélites, permitindo melhorar a acurácia na previsão de chuvas e de furacões. As informações são utilizadas pelos principais centros meteorológicos mundiais, mas principalmente dos Estados Unidos, Europa e Brasil.
Os resultados alcançados por mais de duas décadas de trabalho conjunto são debatidos na reunião anual dos comitês científico e gestor do projeto PIRATA. O encontro realizado em Porto de Galinhas (PE) se iniciou na segunda (3) com a presença de mais de cem pesquisadores que também integram o projeto TRIATLAS (Tropical and South Atlantic climate-based marine ecosystem predictions for sustainable management).
Nesta quinta-feira e sexta-feira (05 e 06), cerca de 20 representantes das instituições dos três países que compõem o projeto PIRATA realizam a reunião para definir as diretrizes científicas para os próximos anos. Pelo Brasil, participam a Secretaria de Pesquisa e Formação Científica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da Marinha do Brasil; da França, participam o Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), o Météo-France e o Centro Nacional para a Pesquisa Científica (CNRS); e pelos Estados Unidos, a agência de Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA). A cerimônia de abertura está disponível no canal digital do MCTI.
A rede de observações oceânicas PIRATA é a mais longeva ancorada no oceano Atlântico e reconhecida como referência para o Atlântico Tropical pelos programas científicos internacionais CLIVAR, da Espanha, e Painel de Observações Oceânicas para o Clima (OOPC). O projeto estuda a interação entre o oceano e a atmosfera no Atlântico tropical que afeta a variabilidade regional do clima em escalas sazonal, interanual e mais longas escalas de tempo.
A longevidade e periodicidade na coleta de dados oceanográficos e atmosféricos permite melhorar a estimativa de mudanças e tendências de décadas no clima. Esses aspectos são importantes no monitoramento e observação dos impactos das mudanças climáticas.
O programa de observação do Atlântico Tropical consiste de um sistema de 18 boias ancoradas por cabos de aço e nylon ao fundo do oceano. Destas, oito, que estão localizadas na porção oeste, ficam sob a responsabilidade do Brasil. A cada 10 minutos as boias coletam dados de salinidade, correntes marítimas, temperatura, radiação solar, pressão atmosférica, quantidade de gás carbônico e oxigênio dissolvido na água do mar e precipitação. As informações são transmitidas praticamente em tempo real para os centros dos países do projeto.
Dados abertos - A rede PIRATA também representa um marco para a ciência dos oceanos pela qualidade e longevidade das séries temporais de dados coletados. A série temporal de 25 anos resultou em mais de 4 milhões de conjuntos de dados primários e abertos de observação do Atlântico que estão disponíveis gratuitamente para serem utilizados por cientistas de todo o mundo. Aproximadamente 420 artigos científicos foram publicados em periódicos internacionais com corpo editorial, ou seja, os artigos submetidos são revisados por pares.
A consistência desses dados propiciou verificar a qualidade dos modelos utilizados para realizar a previsão de tempo e clima, e orientar a pesquisa para o aprimoramento dos modelos. Esses dados são considerados relevantes pelos especialistas, à medida que o Oceano Atlântico é fundamental para previsão climática mundial. Por meio dele, é possível compreender processos físicos e dinâmicos que afetam o clima nos países costeiros do Atlântico e em todo o globo.
Além do impacto no aprofundamento do conhecimento científico proporcionado pelos dados coletados e distribuídos pela rede PIRATA, os dados também são transmitidos em tempo quase-real pela rede mundial de telecomunicações meteorológicas-GTS da Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês), sendo assimilados em modelos prognósticos de tempo e clima em vários países no mundo, dentre os quais o Brasil.
Para o Brasil, o conhecimento dos processos oceânicos e atmosféricos sobre a o Oceano Atlântico Tropical possui vários impactos. Esse conhecimento amplia a capacidade em prever fenômenos climáticos de grande impacto social e na economia, como as secas que podem atingir a região Nordeste. Também agrega para a capacidade brasileira em conhecer e explorar, de forma sustentável, os recursos do mar no Atlântico Tropical. Além disso, o Projeto PIRATA se tornará a ‘espinha dorsal’ de pesquisa oceanográfica de mar aberto no Brasil, em apoio ao desenvolvimento de previsões meteoceanográficas cada vez mais precisas em suporte à formulação de políticas públicas de adaptação e mitigação às ameaças impostas pelas mudanças climáticas globais.
Investimentos e formação de novos pesquisadores - O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), investiu R$2,1 milhões nos últimos anos em apoio ao projeto. Contabiliza-se também os dias de mar no Navio de Pesquisa Hidroceanográfico Vital de Oliveira, cuja gestão é compartilhada entre MCTI e Marinha do Brasil, para a realização de Comissões Multiciências. Além de atender aos objetivos e gerar dados ambientais, o PIRATA propicia formação de recursos humanos capacitados em operar o sistema, o que amplia a capacidade nacional para desenvolver e gerenciar sistemas de observação oceanográfica. Cerca de 20 de projetos de pesquisa foram realizados e um total de 120 cientistas, técnicos e estudantes embarcados nas Comissões Oceânicas. Um comitê nacional permite que pesquisadores de universidades brasileiras participem do projeto.
"Raio-X" do oceano – Outro resultado relevante alcançado pelo projeto, por meio das comissões oceanográficas realizadas a bordo do Navio de Pesquisa Hidro Oceanográfica Vital de Oliveira, envolve o perfilamento da coluna d'água completa - da superfície até o assoalho oceânico. São coletados dados de temperatura, salinidade, Oxigênio, Carbono, nutrientes, em estações verticais de até 5 mil metros de profundidade ao longo de 2 mil quilômetros no Atlântico Tropical ao longo do meridiano 38o W, através das quais conseguem capturar uma ‘fotografia’ longitudinal da área. Os dados são utilizados para aferir os dados captados por satélites e, através de medições anuais, também para medir o grau de mudança do fluxo de calor nas correntes. Nessa profundidade, as correntes conectam as águas quentes do hemisfério Sul com o Norte e as mudanças, mesmo que lentas e sutis, ao longo do tempo permitem diagnosticar mecanismos das mudanças climáticas globais. Sondagens atmosféricas também são realizadas, completando assim um transecto observacional desde o topo da troposfera até o fundo do mar. A próxima comissão oceanográfica brasileira está planejada para ser realizada em 2023 a bordo do navio Vital de Oliveira.
Assista à transmissão da abertura neste link.