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NOTA TÉCNICA À IMPRENSA: Resíduos de óleo encontrados em agosto no litoral do Nordeste
Pesquisadores mostram rastros do óleo em objetos tirados do mar. Foto: PELD - TAMS
A chegada de resíduos oleosos em praias do Nordeste brasileiro, observada a partir do final do mês de agosto desse ano, caracteriza-se como um evento sem relação com o derramamento de óleo ocorrido no segundo semestre de 2019.
Tal afirmação se dá com base nas análises químicas conduzidas, até o momento, a partir de amostras coletadas em praias de Pernambuco (Casa Caiada, Cupe, Catuama, Maria Farinha, Rio Doce, Bairro Novo, Milagres, Boa Viagem, Paiva e Quartel), Paraíba (Pitimbu e Jacarapé), Alagoas (Carro Quebrado) e Bahia (Ondina). Os seguintes laboratórios já conduziram análises químicas de amostras dos resíduos oleosos coletados: Laboratório de Compostos Orgânicos em Ecossistemas Costeiros e Marinhos (OrganoMAR), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); Centro de Excelência em Geoquímica, Petróleo, Energia e Meio Ambiente (LEPETRO/IGEO), da Universidade Federal da Bahia (UFBA); e Laboratório de Geoquímica Ambiental Forense (LGAF) do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM) (Marinha do Brasil), que vem a ser o laboratório forense oficial da Autoridade Marítima brasileira, para fins de investigação da origem de tais incidentes.
A partir das análises de amostras de resíduos de óleo até agora efetuadas, há indicação de que houve um novo evento, cuja hipótese mais provável aponta para um incidente envolvendo petróleo cru, proveniente do descarte de água oleosa lançada ao mar, após a lavagem de tanques de navio petroleiro, em alto mar. Os biomarcadores, ou indicadores de origem, sugerem tratar-se de petróleo produzido no Golfo do México. Tal origem foi estabelecida a partir da análise das amostras coletadas, especificamente, nas praias de Pernambuco (Boa Viagem, Paiva e Quartel) e Bahia (Ondina).
É válido mencionar que algumas pelotas de óleo foram encontradas com organismos incrustantes do gênero Lepas. Estes organismos são conhecidos como “cracas” (crustáceos), e cuja espécie encontrada vive em águas abertas. De acordo com o tamanho das cracas encontradas, já bem desenvolvidas, pode-se afirmar que essas pelotas de óleo permaneceram mais de duas semanas à deriva, no oceano, antes de encalharem na praia.
Por outro lado, amostras coletadas na praia de Itacimirim e Itapuã (Bahia) mostraram resultados correlacionáveis com o óleo de 2019. Tal fato, no entanto, não indica tratar-se de um novo derramamento, do mesmo óleo, daquele incidente. Tais amostras demonstram a existência de resíduos daquele óleo, que permaneceu nas areias das praias, ou fixado em rochas e recifes de coral próximos ao litoral, que se desprenderam por força de ventos mais fortes e de ressacas, que normalmente ocorrem na região, nessa época do ano.
Em análise muito rápida, verifica-se a complexidade do problema representado pelos derramamentos de óleo no mar, cujo enfrentamento requer vigilância e esforços constantes, os quais vem sendo continuamente empreendidos pela comunidade científica brasileira, em distintos laboratórios do País, juntamente com os órgãos governamentais envolvidos com o tema.
Destaca-se o crescente aporte de conhecimento científico sobre esse assunto, a partir de iniciativas para o desenvolvimento do “Sistema Multiusuário de Detecção, Previsão e Monitoramento de Derrame de Óleo no Mar – SisMOM-MCTI”, sob a coordenação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), caracterizando-se como decisivo e importante passo, em prol da crescente capacitação científica nacional sobre o assunto.
Adicionalmente, o Comando de Operações Marítimas e Proteção da Amazônia Azul (ComPAAz), subordinado ao Comando de Operações Navais da Marinha do Brasil, tem contribuído com a coleta, análise e classificação do tráfego marítimo de interesse e acompanha, no momento, todo o processo referente a essa nova ocorrência.
Em síntese, o conjunto de informações técnico-cientificas oferecidas pelo SisMOM-MCTI, juntamente com as informações emanadas de outros laboratórios nacionais, ademais de órgãos do Governo, constituirá ferramenta a contribuir, em futuro muito próximo, para incrementar a estrutura existente para a identificação de possíveis navios infratores e autores de crimes ambientais que venham a ser cometidos, na Amazônia Azul.
Assinatura: INPE/MCTI, UFBA, UFPE, UECE, IBAMA, CTMRJ, IEAPM e ComPAAz/ Marinha do Brasil