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Laboratórios da RedeVírus MCTI recebem vírus inativado da varíola símia para controle de teste diagnóstico RT-PCR
Imagem laboratorial do vírus MonkeyPox positivo isolado em cultura de células com 72 horas e aumento em 10 vezes / Foto: Laboratório de Virologia do ICB/USP
Dez laboratórios que integram a RedeVírus MCTI já receberam protocolo, reagentes e o vírus inativado da varíola símia (monkeypox), que é utilizado para controle positivo de diagnóstico molecular pelo método de RT-PCR. O kit foi organizado para que todos os laboratórios integrantes da Rede, localizados em todas as regiões do país, tenham à disposição as informações básicas para efetuar o diagnóstico da doença. Alguns laboratórios ainda estão efetuando as requisições. Os Laboratórios Centrais dos Estados (LACENs) também poderão solicitar o controle positivo.
“É um primeiro passo para uma resposta emergencial”, avalia o professor Edison Durigon, coordenador do Laboratório de Virologia Clínica e Molecular do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), sobre o preparo do kit. O laboratório integra a RedeVírus MCTI e foi responsável por produzir o vírus SARS-CoV-2 em larga escala e distribuir amostras para centros de diagnóstico e de pesquisas do país durante a pandemia. O vírus foi cultivado em escala no laboratório do ICB-USP que tem nível de biossegurança para manipular esse tipo de patógeno.
Dados do Ministério da Saúde de sexta-feira (9), indicam que 218 casos da varíola símia foram confirmados no Brasil e outros 94 casos suspeitos estão sob investigação. A situação epidemiológica no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde, é de 8.290 casos registrados em 58 países. A organização planeja reavaliar se o surto constitui uma emergência de saúde pública de interesse internacional.
O laboratório de virologia do ICB-USP também testou o protocolo de diagnóstico e os reagentes (primers e sondas), encaminhados pela Rede de Testes Diagnósticos da RedeVírus MCTI, que serão utilizados para a identificação do vírus. De acordo com a coordenadora da Rede, a professora Ana Paula Salles Moura Fernandes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o material ficará à disposição dos laboratórios interessados. Além disso, os pesquisadores produziram insumos mais acessíveis para realizar o diagnóstico e pretendem iniciar estudos para desenvolver um teste de diagnóstico rápido.
Rede Previr - Durigon integra a RedeVírus MCTI e é um dos coordenadores da Rede Nacional de Vigilância de Vírus em Animais Silvestres (Rede Previr). A rede de pesquisa envolve oito instituições-chave e cerca de 50 pesquisadores. Instituída pelo MCTI, a Previr dedica-se à vigilância epidemiológica de patógenos em animais silvestres com potencial de emergência para as pessoas. Neste ano, a Previr recebeu R$ 6 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) para a Fase II do projeto "Rede Nacional de Vigilância Epidemiológica de Coronavírus SARS-CoV-2 e outros Patógenos Emergentes em Morcegos, Aves e outros Reservatórios Silvestres no contexto de One Health". O recurso permitirá a continuidade das atividades de vigilância epidemiológica ativa, consolidação da rede de monitoramento de SARS-COV-2 por mais 36 meses.
O vírus inativado em laboratório, por métodos químicos, não apresenta riscos. O material biológico será utilizado como controle de diagnóstico. “Esse controle é muito importante para os laboratórios terem confiança no diagnóstico”, explica o pesquisador. Muitos laboratórios ainda estão solicitando o envio do material.
As medidas são importantes para ter mais laboratórios aptos a apoiar o sistema de saúde, de modo que esteja preparado para diagnosticar rapidamente e internar os pacientes, pois a doença se assemelha a catapora e varicela. Segundo Durigon, ao terem em mãos também um protocolo definido pela literatura, os laboratórios poderão adquirir os insumos. Por serem importados, alguns itens podem demorar até 30 dias para serem entregues. Vale destacar que o vírus inativado para o controle positivo apresenta alto custo.
“É um número significativo para uma doença que não existia há cerca de dois meses. É nova em termos de disseminação e espalhamento”, alerta Durigon.
A transmissão do vírus monkeypox, por contato com gotículas e secreções, é mais lenta e, inicialmente, a doença ficou restrita a alguns grupos. No entanto, segundo o pesquisador, na Espanha já foram registrados os primeiros casos de infecção hospitalar e a doença começa a ganhar um outro aspecto. “É muito importante tomar medidas preventivas com vírus desse tipo”, alerta.
Cultivo em célula - De acordo com o pesquisador, a amostra do monkeypox que foi cultivada em célula no laboratório foi coletada há cerca de duas semanas de um paciente internado no Hospital no Emílio Ribas, em São Paulo (SP). O Instituto Adolfo Lutz encaminhou para o Instituto de Medicina Tropical da USP, que fez o primeiro cultivo. “Assim que eles conseguiram confirmar o cultivo e a sequência, automaticamente nos contataram, por causa da RedeVírus, para que fizéssemos a multiplicação e a distribuição para os laboratórios do país”, detalha Durigon.
O vírus foi então multiplicado, reconfirmada a sequência genômica, um procedimento científico habitual para ter certeza de que não houve nenhum tipo de contaminação durante o cultivo. Hoje, o vírus cultivado e distribuído em pequenos tubos que contém 1ml que estão conservados em nitrogênio líquido (-173 oC).
Vírus ativo para pesquisa - Em outra frente, o laboratório de virologia mantém o vírus ativo, que está conservado em nitrogênio líquido e será remetido para os laboratórios de nível de biossegurança 3 (NB-3), que possuem acesso restrito e intensificação de práticas de segurança. Esse material será utilizado em pesquisa e desenvolvimento de testes para diagnóstico rápido da doença, vacinas e medicamentos, entre outras necessidades de pesquisa para preencher lacunas de conhecimento. “Para testar algumas drogas, precisa do vírus cultivado em células para que esses medicamentos interfiram na replicação desse vírus. Para ensaios de vacina também precisa do nível 3, com o vírus crescendo, para fazer os ensaios com animais de laboratórios”, detalha Durigon.
Os laboratórios NB3 possuem infraestrutura apropriada de biossegurança recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para lidar com vírus infecciosos, como a Covid-19, e outros microorganismos. Os locais serão destinados à pesquisa e inovação no desenvolvimento de vacinas, tratamentos e estudos do vírus SARS-CoV2 e outras viroses emergentes e reemergentes.
Atualmente, estão em funcionamento ativo pelo menos oito laboratórios desse nível de biossegurança nas cidades de São Paulo, Campinas, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Recife e Belém.
Uma iniciativa do MCTI busca ampliar o número para 18 unidades, sendo que dois já foram inaugurados. A Chamada Pública MCTI/Finep/Infraestrutura NB-3 foi uma ação conjunta entre Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCTI) e da Secretaria de Pesquisa e Formação Científica do MCTI e recebeu um investimento total de R$ 34 milhões. Ao todo, foram aprovados 18 projetos de 14 instituições nas cinco regiões do país.