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Plataforma única busca expandir acesso e utilização de dados científicos sobre o Atlântico
Tão grande quanto a dimensão do oceano Atlântico é a quantidade de dados científicos a respeito dele que estão armazenados em diferentes centros distribuídos por países banhados por suas águas. Para que essas informações sejam mais facilmente acessadas e possam oferecer utilização prática para diferentes áreas na forma de subsídios à tomada de decisão, uma iniciativa busca padronizar e reunir em um único endereço todas as informações científicas disponíveis.
A iniciativa é liderada pela cientista Olga Sato, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), e conta com 16 países engajados, entre eles Brasil, Reino Unido e Estados Unidos. A oceanógrafa brasileira apresentou os resultados do projeto aos participantes da sessão sobre Dados do workshop do Evento Científico do de Pesquisa do Atlântico 2022.
O evento científico foi promovido pelo Brasil e pelos Estados Unidos, em colaboração com a Comissão Europeia e parceiros reunidos na Aliança de Todo o Atlântico, e organizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI) e o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), e pela Agência Nacional de Administração Atmosférica e Oceano dos Estados Unidos da America (NOAA). O Fórum científico é preparatório para o encontro ministerial do All-Atlantic Forum 2022, que será realizado em Washington (DC), em julho (12-14). Na ocasião, os parceiros do Atlântico assinarão a nova declaração da Aliança de Pesquisa e Inovação para o Todo o Atlântico (All-Atlantic Ocean Research and Innovation Alliance Declaration), que pavimenta o caminho para o futuro do esforço cooperativo da Aliança.
“A comunidade científica oceanográfica tem feito esforço ao longo das décadas em coletar dados. Na prática, os pesquisadores fazem suas pesquisas, trabalham, publicam e, na maioria, os dados ficam guardados”, explica Olga. Segundo a pesquisadora, desde a década de 1990, o hemisfério norte tem criado iniciativas de bancos de dados oceanográficos globais, como os disponibilizados pela NOAA e Copernicus Marine Service, que têm mantido esforços para tratar e unificar, estabelecer critérios de controle de qualidade e distribuir as informações. Nos últimos anos, também tem crescido o número de iniciativas com foco no estudo do Atlântico.
“A iniciativa do Projeto AANCHOR é fazer com que esses dados cheguem aos pesquisadores em qualquer região do mundo e tentar aproveitar o que já tem, unificando”, afirma Olga. O objetivo é que esses dados existentes possam ser tratados, padronizados e passem por um sistema de qualidade para serem disponibilizados em um espaço referencial. A pesquisadora avalia que é um anseio da comunidade científica que deseja que seu trabalho possa tornar-se uma ferramenta de uso prático.
O grupo de pesquisadores de diversos países engajados no projeto começou, em 2020, a identificar os principais centros de dados em funcionamento, e os desafios que precisam ser superados para padronização e tratamento dos dados. O roadmap All-Atlantic Ocean Data Space, que será entregue em setembro deste ano, vai apresentar onde estão os centros, quais devem ser os protocolos, e será acompanhado de um artigo para oferecer subsídios para tomadores de decisão em todos os níveis.
“É importante que as decisões sejam baseadas em evidências científicas. Os tomadores de decisão, em especial na região costeira, têm que considerar um planejamento de longo termo”, avalia Olga. Em questão está o fato de que o oceano tem papel relevante no cenário de mudanças climáticas, que podem alterar correntes, temperatura, aumento do nível do mar. Os países banhados a leste e oeste pelo Atlântico tem interesse direto em ter informações a respeito.
Por outro lado, a professora indica que um dos desafios da área oceanográfica atualmente é fomentar a formação de profissionais que saibam tratar e analisar dados, além de criar a cultura de compartilhamento de dados junto aos pesquisadores. Para a pesquisadora, a Década das Nações Unidas da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, que se estende até 2030, é uma oportunidade para conscientização sobre esses aspectos. Entre os desafios que precisam ser enfrentados está a criação de um protocolo comum, que envolve desde unidades de medida.
“Nós não queremos criar um novo centro de dados, mas criar uma metodologia que vai favorecer a troca. Há décadas de dados coletados que não foram disponibilizados em lugar nenhum”, relata a oceanógrafa. A ferramenta All Atlantic Ocean Data Space pretende ser um facilitador e uma referência, que permita trocas regionais.
Poluição marinha emergente - O grupo de cientistas estabeleceu como foco científico para o primeiro momento os dados que envolvem poluição marinha emergente. “É um tópico grande que envolve desde derramamento de óleo no mar, como a proliferação de algas nocivas”, analisa a professora. Essas algas ‘roubam’ o oxigênio da água e afetam os cardumes, gerando implicações na pesca. De acordo com Olga, com informações de modo antecipado, sobre quando e onde essas algas podem se proliferar, por exemplo, as comunidades podem modificar as estratégias para manter sua subsistência. “Vai ter muitas aplicações”, conclui.
O evento científico encerrou-se na quinta-feira (2) com a apresentação dos principais resultados alcançados com o workshop interativo, iniciado na terça-feira (31), e que envolveu 16 diferentes sessões. Cada uma das salas contou especialistas renomados de diversos países que integram a Aliança do Atlântico.
Diversos cientistas brasileiros participaram do evento como especialistas ou relatores científicos das sessões. O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE/MCTI), Paulo Nobre, abriu os trabalhos da sessão, “Oceano e Clima”. Na sessão de “Ecossistemas”, a pesquisadora do Instituto Oceanográfico da USP, Mary Gasalla, foi a relatora científica. A Monica Costa, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), foi a especialista designada para a sessão “Poluição”. A sala que abordou o tema “Aquicultura e Pesca” contou com o especialista da Universidade do Estado de São Paulo (UNESP), Wagner Valenti. A sessão sobre “Cultura Oceânica” foi aberta pela pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), Carina Oliveira. A sessão de “Engajamento” contou com o pesquisador José Muelbert, Universidade Federal do Rio Grande (FURG), como relator científico. A Mariana Veras foi relatora da sessão dedicada ao Brasil e sua visão da pesquisa oceânica atlântica. O evento recebeu quase 500 inscrições de pesquisadores e pesquisadoras em oceano de diferentes países, em especial aqueles que margeiam o Atlântico.
Assista à íntegra do Diálogo Científico realizada no dia (02), neste link em inglês, e neste link com tradução para o português.
Assista ao vídeo e compreenda melhor a Aliança para Pesquisa e Inovação do Atlântico, acesse neste link.
Saiba mais em: https://allatlantic2022.com/