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Laboratórios de Campanha da RedeVírus MCTI recebem R$ 12 milhões para fase II do projeto
Foto: Odjair Baena - ASCOM/MCTI
Os 13 laboratórios de campanha da RedeVírus MCTI recebem até o final do mês de junho um novo aporte financeiro de R$ 12 milhões para a continuidade do projeto por mais 15 meses. O início da fase II ocorre simultaneamente quando o conjunto de laboratórios está prestes a atingir a marca de 600 mil testes diagnóstico de Covid-19. O número é 50% superior ao contratado em 2020 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), que envolvia a realização de 400 mil testes moleculares.
Com números positivos e contribuindo para ampliar a capacidade nacional de testagem do Sistema Único de Saúde (SUS) os Laboratórios de Campanha da RedeVírus MCTI foram e estão sendo muito importantes principalmente, em momentos de pico da doença. A principal contribuição da rede está na pesquisa para desenvolvimento de novos testes diagnóstico, na formação de recursos humanos, e na estruturação do trabalho dos laboratórios centrais dos estados, os Lacens, o que ocorreu no início da pandemia.
A constituição de uma rede de laboratórios de campanha integra a estratégia do MCTI para o enfrentamento da pandemia. As ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação foram iniciadas em 2020.
A infraestrutura de pesquisa e as competências instaladas permitiram constituir a rede de laboratórios de pesquisa de 13 universidades públicas nas cinco regiões geográficas do País, que totalizam 58 pontos de coleta de amostras. A rede está sob a coordenação do professor André Massensini, do Núcleo de Neurociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Nos momentos de pico, como em dezembro de 2020 e em junho de 2021, os laboratórios chegaram a processar cerca quatro mil testes por dia. Todas as amostras são provenientes da rede pública de saúde e registrados no GAL (Gerenciador de Ambiente Laboratorial) do Ministério da Saúde.
Os laboratórios são qualificados com biossegurança nível NB2 e NB3 e estão articulados com as instâncias competentes nos estados. Além disso, a realização dos testes moleculares de diagnósticos da Covid-19 permitiu o monitoramento de novas variantes virais do SARS-CoV-2, pois os dados foram compartilhados com outra subrede da RedeVírus dedicada ao sequenciamento genômico. “Os laboratórios de campanha estão fazendo a testagem e, paralelamente, oferecendo suporte para a parte de sequenciamento e genômica das variantes”, explica Massensini.
Os resultados positivos são encaminhados à Rede Corona-Ômica que faz a vigilância em relação às variantes do vírus que estão circulando, especialmente na fase II. Mesmo com a grande maioria da população vacinada, há uma parcela não vacinada e chances de novas variantes circularem. “É importante do ponto de vista de saúde pública e de política de saúde. Se não houver estudos de acompanhamento científico que indiquem o que está acontecendo com a doença, fica muito difícil para o governo tomar as decisões saber onde aplicar os recursos”, explica o coordenador. “Queremos contribuir para deixar a sociedade esclarecida e tranquilizada e que os órgãos governamentais tenham o máximo de informações embasadas de fato em conhecimento científico gerado por laboratórios de pesquisa para as tomadas de decisões de saúde pública”, complementa.
Dez desses laboratórios também têm capacidade operacional para realizar avaliação simultânea em indivíduos utilizando o diagnóstico molecular e o diagnóstico por meio de sensores biofotônicos e inteligência artificial.
Leia os principais trechos da entrevista com o coordenador a rede:
Em que medida os laboratórios de campanha auxiliaram a rede pública de saúde?
Na minha avaliação, dois pontos são importantes. Primeiro, o início de todo esse processo que envolve como os testes deveriam ser feitos. Nós acompanhamos o que a Organização Mundial da Saúde preconizou. A PCR surgiu como o exame padrão-ouro para dizer se era ou não positivado. Naquele momento, quem sabia fazer os testes, ou seja, a reação da PCR, eram os laboratórios que já realizavam isso. Tínhamos os Lacens, que são laboratórios de referência, já realizando testes para outras doenças. Mas para esses testes específicos, quem de fato padronizou e colocou para rodar no Brasil foram os laboratórios de pesquisa. E os laboratórios de campanha nasceram de um conjunto de laboratórios de pesquisa que estavam dentro de universidades públicas e já trabalhavam com esse tipo de exame. Eram reações feitas para pesquisa científica que acabaram se tornando exames que pudessem informar se a amostra tinha material genético do vírus. Esses laboratórios de campanha deram um suporte muito grande para os Lacens, para padronizar, dizendo como deveria funcionar. Isso ocorreu junto com outros grandes laboratórios, como Fiocruz e Oswaldo Cruz. Os laboratórios de campanha, dentro da RedeVírus, puderam oferecer suporte para cada região do País. Um exemplo é a UFMG que apoia o Lacen em Minas Gerais. Aqui, houve um momento em que mais da metade dos exames do estado foram feitos pelos laboratórios da Universidade. Fornecemos apoio em número de exames e no desenvolvimento dos processos, em como os exames deveriam ser realizados e ajustados para terem maior confiabilidade, o treinamento de pessoal. Então, a ideia de colocar uma equipe de cientistas, de pesquisadores para prestar esse apoio foi muito importante, especialmente no início.
Em relação aos recursos humanos, esse processo auxiliou na formação de novos pesquisadores?
O projeto de laboratórios de campanha permitiu bolsas para estudantes de pós-graduação e para doutores já formados, por meio de bolsas de pós-doutorado nas áreas correlatas, como bioquímica, imunologia, genética, virologia entre outras. Eles se aprofundaram. Nós conhecíamos biologia de vírus, biologia molecular. Mas lidar com uma pandemia é literalmente trocar a roda enquanto o carro está rodando. Então, tivemos uma oportunidade muito grande de formar recursos humanos. São várias teses, dissertações e trabalho publicados. Os doutores também aprenderam muito, pois esse treinamento é algo que não é feito normalmente. Foi feito porque a pandemia existiu. São de fato profissionais treinados para enfrentar uma situação de pandemia. Fazer o teste e a pesquisa paralelamente em uma situação de pandemia, é um aprendizado que não se tem normalmente. É uma situação muito atípica e que, portanto, dá uma geração de conhecimento enorme para todos esses pesquisadores, sejam mestres, doutores e até mesmo para nós que estamos há algum tempo na bancada.
Por meio das informações no painel dos laboratórios, vê-se que foram aplicados três diferentes tipos de testes. Como foi essa pesquisa?
O teste RT-PCR [Polimerase por Transcriptase Reversa] é o padrão-ouro, é o diagnóstico molecular aprovado pela Anvisa, nós utilizamos esse como diagnóstico.
O teste de Saliva FTIR [aplicado pelos laboratórios de campanha] está em desenvolvimento. Consiste em uma leitura fotométrica, ou seja, um espectro utilizando luz na faixa do infravermelho. A solicitação para que seja utilizado como diagnóstico está na Anvisa. Esse é um projeto no âmbito da RedeVírus, iniciado pelo professor Luis Goulart, da Universidade Federal de Uberlândia, que faleceu no ano passado de Covid-19. Os laboratórios de campanha prestam apoio ao projeto coletando as amostras de saliva e realizando os testes por inteligência artificial, nas leituras que são feitas nesse espectro fotônico. Ele fornece um traçado e um algoritmo faz análise se há ou não material genético do vírus na amostra. A equipe continua trabalhando. Esse é um teste de pesquisa.
Então, foram aplicados três testes: Saliva PCR, Saliva FTIR, e Swab PCR, que envolve coleta nasal. O PCR na saliva era para comparar com o FITR. A ideia era: o resultado da FTIR é comparável ao resultado da PCR molecular, que é o padrão-ouro, independente da amostra ser da saliva ou não? Como fica a sensibilidade e a capacidade de discriminar entre positivos e negativos.
Acompanhe os números do painel de Laboratórios de Campanha da RedeVírus MCTI neste link.