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RedeVírus MCTI: pesquisadores detectam anticorpos contra SARS-CoV-2 a partir da urina
Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que integram a RedeVírus MCTI, subrede de produção de testes de diagnósticos, conseguiram comprovar a detecção de anticorpos contra SARS-CoV-2 por meio da urina. O método é considerado uma alternativa clínica não invasiva importante, comparado ao exame sanguíneo, especialmente para momentos de surtos de doenças. O estudo financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) foi publicado na revista Science Advances na sexta-feira (13). O artigo “Detecting anti–SARS-CoV-2 antibodies in urine samples: A noninvasive and sensitive way to assay COVID-19 immune conversion” pode ser acessado neste link.
“É a primeira vez que fazemos um estudo sistemático de uma infecção respiratória e conseguimos detectar anticorpos na urina. Isso abre um campo de exploração para outras doenças, infecções, cujo diagnóstico é por meio da sorologia, e a mesma metodologia pode ser aplicada. Aplicamos à Covid, devido à situação pandêmica”, explica um dos autores do artigo, Flávio Fonseca, que é pesquisar do Laboratório de Virologia Básica e Aplicada, Departamento de Microbiologia, Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. O professor também integra o Centro de Tecnologia em Vacinas (CT Vacinas) projeto que também conta com financiamento do MCTI.
De acordo com Fonseca, a utilização da urina para detectar anticorpos apresenta vantagens em relação ao método que utiliza amostras sanguíneas, em especial nos momentos que os sistemas de saúde encontram-se pressionados por diversos fatores e em locais com pouca infraestrutura. A coleta de amostras de sangue requer equipes especializadas e treinadas, locais adequados e insumos específicos e que envolvem biossegurança para a coleta, como seringas e agulhas, além de ser um método mais invasivo, que pode encontrar resistência de alguns grupos por aspectos comportamentais, como pessoas que apresentam medo ou aversão a agulhas (aicmofobia), aspectos religiosos e culturais, e também pelo tipo de população, como crianças. “Houve um momento [durante a pandemia] em que houve desabastecimento de seringa e agulha. Esse é um insumo básico para a coleta de sangue”, relembra Fonseca.
A coleta da urina é mais fácil, pois é realizada pelo próprio paciente, não requer insumos complexos, pois basta um tubo de coleta e armazenamento, e apresenta durabilidade da amostra até ser analisada em laboratório. “É um método mais aceitável pela população, por não ser procedimento invasivo. Em momento de surto, esses aspectos somados, fazem diferença”, argumenta o professor.
O estudo comparativo foi conduzido a partir do banco de amostras de pacientes diagnosticados com a Covid-19, obtido junto à Faculdade de Medicina da UFMG, que haviam realizado o teste molecular de RT-PCR. Ou seja, o principal critério de inclusão no estudo foi a confirmação da doença. O grupo com cerca de 200 participantes realizou exames de urina e de sangue, para efetuar a comparação entre os métodos. Várias amostras foram coletadas nos dias 1, 3, 7 e 14 após o início do estudo com cada paciente e analisadas para permitir acompanhar o tempo de ‘viragem imunológica’.
A técnica ELISA (sigla para enzyme-linked immunosorbent assay, ou ensaio de imunoabsorção enzimática) permitiu detectar anticorpos do tipo IgM, que é normalmente o primeiro anticorpo a aparecer em contaminados, ou IgG, um tipo de anticorpo tardio que é associado à fase de cura ou à resposta imune de uma vacina, por exemplo. A pesquisa comprovou que é possível encontrar os dois tipos de anticorpos na urina e com sensibilidade e especificidade comparáveis aos encontrados em amostras sanguíneas. A presença de anticorpos SARS-CoV-2 na urina atingiu 94% de sensibilidade e 100% de especificidade. Quando utilizado amostra de soro, o teste atingiu 88% de sensibilidade e 100% de especificidade. “Somos capazes de detectar anticorpos na urina em níveis comparáveis ao que é encontrado no sangue”, afirma o professor.
Segundo Fonseca a comprovação efetuada pelos pesquisadores tem potencial para contribuir com os métodos utilizados para diagnósticos em saúde, em especial em países com baixa infraestrutura. “A subnotificação é um problema muito sério. Essa tecnologia pode impactar positivamente, aumentando o poder de notificação em países que têm problemas infraestruturais em relação ao diagnóstico em saúde”, afirma.
Nacionalização - A publicação em uma revista de impacto internacional de resultados de esforços de pesquisa é mais um passo da RedeVírus MCTI para atender as demandas nacionais no enfrentamento da pandemia. Uma das linhas de ação da Rede é pesquisa, desenvolvimento e inovação em testes de diagnóstico.
“A pandemia escancarou a necessidade de termos em território nacional estrutura, tecnologia e capacidades para desenvolver testes diagnósticos, insumos farmacêuticos e demais produtos que atendam às demandas brasileiras em saúde. É uma questão de soberania não ficarmos totalmente dependentes de importação”, afirmou o secretário de Pesquisa e Formação Científica do MCTI, Marcelo Morales.
O grupo da UFMG do CT Vacinas também desenvolveu teste nacional de Covid-19, que recebeu o registro da Anvisa em outubro de 2021. O kit sorológico Elisa Covid-19 IgG destaca-se por ser mais sensível do que os exames rápidos, o que evita falsos negativos. Atualmente, o teste é produzido em escala pela produzido pela Bio-Manguinhos, unidade produtora de imunobiológicos da Fiocruz.
Foi criada em fevereiro de 2020, antes mesmo da OMS declarar a pandemia. É um comitê que reúne especialistas, representantes de governo, agências de fomento do ministério, centros de pesquisa e universidades, com o objetivo de integrar iniciativas de pesquisa para combate às viroses emergentes