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Equidade de mulheres na ciência oceânica é tema de debate
O seminário “Equidade de Mulheres na ciência oceânica: iniciativas para mudanças efetivas” evento, realizado na última segunda-feira (9), debateu a presença feminina no mundo científico e em especial na área de oceano. Esse foi o segundo seminário sobre Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) na Década do Oceano e tem por objetivo disseminar os princípios de diversidade que integram a agenda da Década, proclamada pela Organização das Nações Unidas (ONU) entre 2021-2030. O evento foi organizado pelo Comitê de Assessoramento da Década no Brasil, que é coordenado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
De acordo com a coordenadora da pós-graduação em Jornalismo Científico do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), Germana Barata, dados das Nações Unidas indicam que, no atual ritmo, as mulheres devem levar 99,5 anos, quase um século, para alcançar a igualdade de gênero. “O que podemos fazer para acelerar esse processo?”, questionou ao abrir o seminário. A pesquisadora dividiu a mediação do debate com a bióloga Jana Del Favero, pesquisadora de pós-doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Números - A bióloga Jacqueline Leta, pesquisadora sobre ciência e gênero apresentou números recentes sobre a desigualdade de gênero em diversas áreas da ciência, com olhar especial para a produção de artigos científicos. “Ainda não há dados específicos sobre ciência no mar e oceanografia - esse é um desafio para um futuro trabalho”, ressaltou a pesquisadora.
A bióloga citou dados sobre países europeus que mostram como a presença de mulheres cientistas diminui conforme os níveis da carreira acadêmica aumentam. “De cada 100 alunos que entram nos cursos de graduação da Europa, 55 são mulheres. À medida em que aumenta o nível acadêmico, até chegar aos professores titulares, há uma inversão. A cada 100 professores titulares, 75 são homens”, disse.
Segundo Leta, há diversas barreiras relacionadas ao fazer científico e ao mundo acadêmico para as mulheres: “Não é possível pensar em equidade sem de fato pensar na origem desse problema. Um deles é a questão dos estereótipos que muitas vezes são construídos já no ensino básico, de que a ciência não é carreira para meninas, por exemplo”. Outro ponto que ela ressaltou foi sobre paridade de licença maternidade para homens e mulheres.
Experiências - A oceanógrafa Mariana Andrade relatou a experiência do movimento Liga das Mulheres pelo Oceano, da qual integra a secretaria executiva. “Procuramos criar espaços para discutir como melhorar o ecossistema para as mulheres nas ciências do mar, para pesquisadoras, pescadoras e demais pessoas que fazem parte dessa rede. Queremos elevar e reconhecer o papel dessas mulheres”, explicou Andrade. Fundada há três anos, a Liga tem 2.500 integrantes e uma das ações de destaque o prêmio Marta Vannucci para Mulheres na Ciência do Oceano, para valorizar e reconhecer o trabalho das pesquisadoras brasileiras nas ciências do mar. “Criamos duas categorias, a de Cientista Inspiração, para pesquisadoras mais sênior, que são indicadas, e a de Jovem Cientista, dedicada às cientistas de até 35 anos que estão começando a carreira”, observou Andrade.
As premiações incentivam as mulheres cientistas a perceberem o valor de seu trabalho.
Parentalidade - A bióloga Fernanda Staniscuask professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) falou sobre parentalidade na academia e abordou a história do premiado projeto Parent in Science, do qual é fundadora e que foi responsável pela inclusão do campo de licença maternidade no Currículo Lattes. A medida adotada em 2021 permite que as agências de fomento considerem a pausa na hora de analisar o currículo das pesquisadoras.
“Dados mostram que a chegada dos filhos influencia as carreiras de homens e mulheres de maneira diferente e há um impacto maior para as mulheres”, ressaltou Staniscuask. A professora relatou que muitas pesquisadoras que interrompem a carreira e têm queda na produtividade, como no número de artigos publicados. “Essa queda é até esperada logo após a chegada do filho, mas ela continua se acentuando depois por falta de políticas de apoio”, disse. Segundo ela, o problema pode virar um círculo vicioso: se a pesquisadora publica menos artigos, consegue menos apoio para novos estudos.
Assédio em embarcações – A bióloga Catarina Marcolin, professora da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), apresentou dados sobre assédio nas embarcações. A pesquisa, objeto de mestrado, defendido pela pesquisadora Michele Maia na UFSB, foi efetuada após relatos. Os pesquisadores disponibilizam um formulário online para pessoas que já ficaram embarcadas para estudar, pesquisar ou trabalhar. “Nosso objetivo foi observar a desigualdade vivenciada por mulheres”, explicou Marcolin. Ao todo, foram coletadas 260 respostas válidas. Dessas, 75% relataram sofrer algum tipo de assédio e 83% eram mulheres. Os dados sinalizaram que as mulheres sofreram quatro vezes mais assédio do que os homens (12,4% contra 3,1%).
Outras experiências sobre Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) na Década do Oceano foram compartilhadas no primeiro seminário sobre o tema, realizado no dia 5 de maio. Na ocasião, os convidados apresentaram a história dos DEI na ONU, como implementá-los e casos de sucesso.
Assista à íntegra dos eventos sobre Equidade de gênero neste link e sobre Diversidade, Equidade e Inclusão neste link.