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Retomadas pesquisas nos laboratórios da Estação Antártica Comandante Ferraz
A Operação Antártica (Operantar) de número 40, realizada entre outubro de 2021 e abril de 2022, quando os navios polares regressarão ao Brasil, marca a volta das pesquisas de campo nos laboratórios da nova Estação Antártica Comandante Ferraz. Pela primeira vez, os pesquisadores brasileiros puderam utilizar os 14 laboratórios internos que foram concebidos e implementados pelo Programa Ciência Antártica, coordenado e financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), por meio da Secretaria de Pesquisa e Formação Científica (SEPEF). Na área externa, há outros três laboratórios.
Após a inauguração da nova estação em 2020, por questões de segurança, devido à pandemia, e por consenso entre a comunidade científica e os gestores do programa, as pesquisas de campo na estação foram suspensas. Mas isso não interrompeu outros aspectos das investigações e da produção científica. O Programa Antártico Brasileiro (Proantar) existe desde 1982. Em quatro décadas, as pesquisas nunca foram interrompidas, mesmo após o incêndio de 2012 que destruiu as instalações. Neste caso, a pesquisa de campo foi intensificada nos acampamentos e nos navios.
Na Antártida, as pesquisas de campo do Brasil podem ser realizadas em três áreas: nos laboratórios da estação, nos acampamentos e nos navios polares. Neste verão, a operação ainda foi restrita para atender os protocolos de segurança. Por isso, apenas 80 cientistas puderem embarcar para o continente gelado. Eles ficaram divididos entre dois acampamentos externos, realizados em Fields, navios de pesquisa e na estação, que acomodou 32 pesquisadores. Historicamente, em média, cada Operantar mobiliza cerca de 250 cientistas.
“A estação brasileira é uma das mais modernas na Antártica e oferece maior espaço destinado aos laboratórios”, explica a coordenadora de Mar e Antártica, Andrea Cruz. A servidora acompanhou a operação neste verão. Cruz explica que o planejamento da infraestrutura científica foi realizado em conjunto com os representantes da comunidade científica e dentro das diretrizes estabelecidas pelo Comitê Nacional de Pesquisas Antárticas (Conapa).
O investimento de cerca de R$2 milhões do MCTI para equipar os laboratórios da estação eliminou o traslado de equipamentos que desfalcavam os laboratórios dos institutos de pesquisa no Brasil de 8 a 9 meses e ainda envolviam riscos de danos durante o transporte, em especial pela passagem no Estreito de Drake, onde as ondas podem atingir 10 metros. “O volume de material que era necessário levar para a estação era grande e, devido a logística, que é complexa, precisava ser encaminhado em agosto para retornar em abril do ano seguinte”, conta Cruz. “Os pesquisadores fizeram parte das decisões, quais laboratórios, o tipo de piso, o tipo de bancada”, relata a coordenadora.
Infraestrutura otimiza fases de pesquisa
O pesquisador da área de microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Luiz Rosa, que liderou a montagem dos laboratórios em conjunto com dois outros pesquisadores na Operantar 39, explica que a infraestrutura foi concebida em alinhamento ao planejamento estratégico do Programa Antártico Brasileiro, e para atender a todas as linhas de pesquisa do Programa Ciência Antártica, de modo a otimizar os recursos. “Tem todos os equipamentos para o pesquisador executar todas as fases da pesquisa”, avalia o pesquisador.
Foram implementados laboratórios específicos, como química, o qual atende aos pesquisadores tanto da área de química terrestre quanto da oceanografia; biologia micromolecular para extrair DNA de qualquer organismo; microbiologia que atende os pesquisadores que trabalham com microorganismos, como fungos, vírus, bactérias, microalgas; laboratórios de bioensaios que são flexíveis para atender diferentes linhas de pesquisa; laboratórios com tanques que permitem estudar crio, peixes, algas; entre outros.
Segundo Luiz Rosa, o incremento na infraestrutura na estação tem potencial para otimizar a pesquisa e aumentar a qualidade da produção científica. “O Tratado Antártico diz que para país membro, como é o caso do Brasil, ter direito de voto e de voz, precisa executar pesquisa de alta qualidade”, explica Rosa sobre as possibilidades que são abertas a partir da nova infraestrutura. “O que é qualidade? É publicar em revistas de alto impacto, gerar bioproduto de interesse biotecnológico e do Brasil. Vamos conseguir gerar de forma mais adequada e rápida”, complementa.
Teste na prática
Quando embarcou para a Operantar 40, o planejamento do pesquisador da área de biotecnologia da Universidade Católica de Brasília (UCB), Marcelo Ramada, era de realizar a coleta do material botânico e preparar as amostras para o retorno ao Brasil. Ramada, que estuda a capacidade de sobrevivência de musgos em condições adversas, conseguiu fazer mais. “Os laboratórios se mostraram essenciais para desenvolver o projeto. Encontramos laboratórios bem montados para o trabalho inicial, que é coletar o material botânico, identificar, extrair informações genéticas e cultivar essas plantas”, explica o pesquisador que conseguiu desenvolver todas as fases da pesquisa de campo, que correspondem por cerca de 40% do trabalho. As demais fases são realizadas no Brasil e no exterior com equipamentos muito específicos.
Ramada estuda como os musgos antárticos conseguem responder a diferentes situações, e tem a expectativa de encontrar novas moléculas e insights evolutivos que possam ser aplicados para combater novos micro-organismos, tanto em uso agropecuário, como o combate a pragas, e novas informações genéticas e metabólicas que possam contribuir para desenvolver plantas resistentes a eventos climáticos extremos como secas ou geadas.