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MCTI assina acordo de acessão do Brasil como membro na Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN)
O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, astronauta Marcos Pontes, assinou nesta quinta-feira (3), em Meyrin, na fronteira Franco-Suiça, o acordo de acessão do Brasil como Membro Associado da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN). “Esse acordo é uma espera de 12 anos da comunidade científica e também do setor produtivo no Brasil. Essa participação no CERN tem um investimento anual que vai ser coberto pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Certamente é um investimento com altíssimo retorno para o país e tem implicações positivas muito boas para o futuro da ciência, da tecnologia e das inovações no país”, destacou o ministro do MCTI.
A organização é reconhecida pela pesquisa em física de altas energias e é considerada um dos maiores e mais avançados centros científicos do mundo. O CERN conta com 23 estados membros plenos, 9 países associados e 3 países com status de observadores, contando com a participação de milhares de cientistas de mais de uma centena de nacionalidades. Os maiores feitos do CERN incluem a comprovação do bóson de Higgs (“partícula de Deus”), construção do LHC (Grande Colisor Hadrônico), maior e mais potente acelerador de partículas do mundo, a invenção da World Wide Web (www), em 1989, e experimentos e descobertas sobre a antimatéria.
“É extremamente importante essa nossa participação por diversos aspectos. O primeiro aspecto é o científico, a possiblidade de intercâmbio de pesquisadores, a possibilidade dos nossos pesquisadores brasileiros poderem utilizar as instalações de pesquisa do CERN, trabalhar com cientistas de praticamente todo o mundo e muitos outros pontos importantes que vai apoiar o desenvolvimento de tecnologias avançadas em diversos setores”, afirma Marcos Pontes.
“Outro ponto importante é para o setor produtivo. Nós temos no Brasil o Sirius que foi desenvolvido 87% pela indústria nacional. Essas mesmas indústrias, e todo parque que apoia, poderão participar agora com o CERN, fornecendo equipamento para as expansões do CERN e as manutenções previstas em todo sistema”, finaliza o ministro destacando que neste aspecto haverá consequências importantes como a geração de empregos, geração de renda para o país e a qualificação da indústria nacional.
Grande parte das tecnologias utilizadas no CERN são desenvolvidas em parceria com a indústria, por meio de contratos de pesquisa e desenvolvimento (P&D), fornecimento de serviço e de materiais. Com a acessão do Brasil, empresas brasileiras poderão participar das licitações de contratos disponibilizadas pela organização. Segundo relatórios anuais, os gastos com contratos e encomendas junto à indústria alcançaram nos últimos anos, em média, cerca de US$ 500 milhões.
Startups
Além das soluções para a comunidade científica e para o setor produtivo do país, o acordo também será importante para as startups, empresas de base tecnológica que oferecem soluções para problemas do cotidiano. O ministro Marcos Pontes destacou como essas empresas poderão utilizar deste acordo firmado com o CERN. “Indústrias ou pequenas empresas que podem participar desse mercado fornecendo soluções rápidas que certamente também podem ser aplicadas nessa parceria”.
O CERN apoia atividades de empreendedorismo e startups, por meio de uma rede de Centros de Incubação de Empresas (Business Incubation Centre – BIC), criada em 2016. Essa rede conta atualmente com nove centros espalhados por diversos países da Europa e visa levar as tecnologias inovadoras do CERN do conceito técnico à realidade do mercado. Até o momento, são 29 startups e spinoffs usando totalmente ou parcialmente as tecnologias e conhecimentos do CERN, em áreas de medicina, aeroespacial, segurança, indústria 4.0, tecnologias emergentes, entre outras
Brasil no CERN
A comunidade científica brasileira participa dos trabalhos do CERN desde a sua criação, em 1954. Segundo dados da organização, em 2019, 112 pesquisadores brasileiros utilizaram a infraestrutura do CERN para desenvolver seus estudos, número maior que a de alguns membros plenos do centro. Entre os países não-membros, o Brasil foi o 4º que mais enviou pesquisadores aos experimentos do CERN, ficando apenas atrás da China, Canadá e Coreia do Sul. O Brasil passa a ser, ainda, o único país das Américas e do hemisfério sul a ser membro da organização.
Com a acessão do Brasil, pesquisadores, cientistas e outros profissionais brasileiros poderão ter acesso prioritário a postos de direção, estágios científicos de longa duração, e cursos de curta duração. Além das oportunidades para a comunidade científica brasileira, a associação permitirá ao governo brasileiro participar da agenda científica internacional no mais alto nível, trazendo não somente ganhos científicos, mas também econômicos e sociais de longo prazo, fortalecendo a posição do Brasil no cenário científico, tecnológico e de inovação mundial.
A parceria poderá, ainda, beneficiar o Sirius, acelerador de partículas vinculado ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM/MCTI), unidade de pesquisa vinculada ao ministério. O Sirius é a maior infraestrutura científica já construída no Brasil, incluindo acelerador de partículas de tecnologia nacional.
Por dispor de indústria competitiva e com acesso a matérias-primas especiais, especialmente o nióbio, o Brasil reúne condições para desenvolver cooperação importante com o CERN, já que os ímãs utilizados em seus experimentos possuem como componentes majoritários ligas de nióbio e titânio. Um dos principais objetivos da parceria recém-estabelecida com o CNPEM/MCTI seria o de colaborar e transferir conhecimentos técnicos para a fabricação de filamentos de nióbio e titânio para utilização em seus respectivos aceleradores.
No campo da popularização da ciência, o CERN também oferece programas de curta duração para professores de física do ensino médio, onde é dado a eles uma visão das pesquisas de fronteira realizadas naquela instituição. Conforme dados da organização, desde 2006, cerca de 10.000 professores já passaram por esse tipo de treinamento pelo CERN. Parte desses programas são abertos a todos os países, entretanto existem alguns, mais especializados, cuja prioridade é dada aos estados membros plenos e membros associados.
Além das áreas de física de altas energias, o CERN trabalha com aplicações relevantes para os campos da medicina (terapia do câncer baseada em acelerador, imagens, etc.), tecnologia da informação (ciência de dados, computação em nuvem, etc.), indústria 4.0, energia e meio ambiente. Essas são excelentes janelas de oportunidades para a transferência de conhecimento e tecnologia entre o CERN e o país.