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MCTI apresenta ações em pesquisa que conectam meio ambiente e saúde
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), em conjunto com a Academia Nacional de Medicina (ANM), realizou na quinta-feira (24) o simpósio ‘Saúde e Sustentabilidade Ambiental - Contribuições da Ciência Brasileira’ com o objetivo de contribuir com o processo de diálogo e compartilhar as contribuições da ciência brasileira e das instituições participantes sobre a interface entre a saúde humana e o meio ambiente.
Na palestra de abertura, o secretário de Pesquisa e Formação Científica do MCTI, Marcelo Morales, que é médico e acadêmico da ANM, afirmou que as previsões do impacto das mudanças climáticas, em especial para a região amazônica, apontam para um clima mais quente e com redução na quantidade de chuvas nas próximas três décadas. “O monitoramento do bioma Amazônico e dos demais biomas é de suma importância para o aprofundamento da compreensão do papel da biodiversidade em um sistema terrestre em mudança”, destacou ao apresentar os eixos de trabalho do programa Ciência para Sustentabilidade alavancados pela pasta ministerial que abrangem biodiversidade, monitoramento de emissões, desenvolvimento social e bioeconomia.
“Agradecemos ao acadêmico Marcelo Morales que tem feito um trabalho bastante profundo e incansável. Nós agradecemos em nome da comunidade científica”, afirmou o presidente da ANM, Acadêmico Francisco Sampaio. A instituição científica-cultural, fundada em 1829, integra e atua na evolução da medicina no Brasil.
Vigilância epidemiológica - O coordenador da Rede Nacional de Vigilância de Vírus em Animais Silvestres (Rede Previr), Edison Durigon, abordou o conceito “One Health” e monitoramento ambiental na Covid-19. Segundo o professor da Universidade de São Paulo (USP), cerca de 70% das zoonoses afetam as pessoas. Durigon apresentou os dados da rede de pesquisa, criada em 2020 pelo MCTI, que se dedica à vigilância epidemiológica de patógenos em animais silvestres com potencial de emergência para as pessoas. O monitoramento é realizado nas cinco regiões do País e é uma das estratégias financiadas pelo MCTI para o combate à pandemia da Covid-19. São monitorados aves e morcegos. De acordo com os dados apresentados, até o momento, foram coletadas amostras de quase 3.740 mil morcegos e 4.686 mil aves. As análises laboratoriais são executadas nos centros de triagem na USP e na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). De 1.023 amostras de animais testados, 122 morcegos foram positivos para coronavírus, sendo a maioria do tipo alfa. A Covid-19 é provocada por coronavírus do tipo beta. “Todos os dados estão à disposição para consulta, esse é um compromisso social que temos”, afirmou o professor.
Monitoramento da Floresta Amazônica – O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA/MCTI), Carlos Alberto Quesada, apresentou o programa AmazonFACE e a relevância nacional e global de conhecer os processos pelos quais a maior floresta tropical do mundo está vivendo. “Pequenos processos ecológicos que ocorrem em uma folha, podem ser escalonados na dimensão regional, global. Daí a importância de estudar esses processos”, explicou de modo didático o pesquisador sobre o impacto que as mudanças na floresta têm no ciclo hidrológico.
Segundo Quesada, a Floresta Amazônica é a mais estudada no mundo, com mais de 16 mil espécies de árvores. As pesquisas em campo, com monitoramento de pontos há mais de 30 anos, indicam que a floresta está perdendo capacidade de absorção de carbono e não cresce mais na mesma velocidade. A principal hipótese é de que isso esteja relacionado às mudanças climáticas.
No entanto, os melhores modelos climáticos, ainda não testados em campo, indicam que o aumento de carbono na atmosfera poderia induzir ao crescimento da floresta. Para testar essa hipótese o projeto AmazonFACE vai construir uma estrutura em meio à floresta para aumentar a concentração de carbono na atmosfera, das atuais 400 partes por milhão para 600 partes por milhão, ao longo de 10 anos. O experimento, que é considerado o maior laboratório ao ar livre, se propõe responder como a floresta vai reagir e quais as medidas de adaptação que precisam ser tomadas. “O Amazon FACE perpassa as questões climáticas. Qualquer mudança na maior floresta tropical no mundo vai impactar as populações que vivem na Amazônia e as comunidades que ficam fora, com impacto na geração de energia, migração de populações, mudanças na incidência de vetores. E o agronegócio pode ser fortemente afetado pela alteração do regime de chuvas”, explicou o pesquisador.
Laboratórios científicos em áreas remotas da Amazônia - O diretor do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (Instituto Mamirauá/MCTI), João Valsecchi do Amaral, falou sobre a importância do trabalho desenvolvido no âmbito do Sistema Amazônico de Laboratórios Satélites (SALAS/MCTI), que prevê a criação de 50 laboratórios científicos em áreas remotas da Amazônica oriental, central e ocidental. As estruturas de apoio se dividem em bases terrestres e flutuantes com espaços de laboratórios e acomodações adequadas para permanência de pesquisadores por longo tempo em áreas remotas. Pelo menos três estruturas já estão em funcionamento com 16 pesquisas em andamento, como o laboratório flutuante Vitória-Régia, cujos pesquisadores a bordo estão estudando epidemiologia de onças-pintadas na várzea da Amazônia Central. “Esses laboratórios estarão em áreas remotas e pouco acessadas pela comunidade científica. É uma ação inovadora e que deve impactar a produção do conhecimento sobre a região”, explicou.
Coleções da biodiversidade brasileira – O pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM/MCTI), Kleber Franchini, abordou como projetos sobre biodiversidade pode alimentar outros projetos que envolvem a produção sustentável de bioativos. Franchini apresentou a estrutura de pesquisa disponível no CNPEM, as novas áreas de pesquisa e a busca global por novas moléculas para a produção de fármacos “O que nos diferencia nesse processo é utilizar coleções químicas da biodiversidade brasileira”, explicou o pesquisador enfatizando como a infraestrutura proporcionada pelo SALAS/MCTI pode proporcionar acesso. Atualmente, 50 moléculas estão em estudo. Temos que entender o que tem nos biomas, fazer o manejo adequado e as comunidades locais precisam participar do processo.
Após a apresentação de painéis, seguiu-se discussão dos acadêmicos.
Confira abaixo a íntegra do Simpósio.