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Roedores usaram tocas subterrâneas para sobreviver a queimadas no Pantanal, aponta pesquisa
Rato-da-cana (Holochilus chacarius) no momento em encontrado dentro da toca parcialmente submersa com água. Foto: Marcos Ardevino
Um estudo conduzido por pesquisadores da Rede Pantanal/PPBio-MCTI demonstrou que uma espécie de roedor de pequeno porte, o rato-da-cana (Holochilus chacarius), foi capaz de sobreviver a queimadas no bioma usando tocas subterrâneas alagadas. O estudo foi publicado na revista internacional Therya Notes, especializada em mamíferos, e tem participação de seis pesquisadores de cinco instituições brasileiras.
O biólogo Thiago Semedo, mestre em Zoologia pela Universidade Federal do Mato Grosso, e coordenador do estudo, explica que os achados demonstram a importância desses abrigos para a sobrevivência de espécies menores e de pouca mobilidade do Pantanal. Os dados também são relevantes para ações de recolonização da fauna de áreas atingidas por incêndios.
“Através de ferramentas como a genética, por exemplo, é possível verificar se as futuras gerações de roedores (e outros animais) possuem parentesco com os sobreviventes das áreas dizimadas pelo fogo ou não. Com esse tipo de monitoramento e informações, seria possível aprimorar os esforços de conservação das espécies pantaneiras, em especial os pequenos mamíferos, essenciais para a manutenção dos ecossistemas”, afirma.
Segundo ele, o estudo trouxe uma nova pista sobre os locais em que o rato-da-cana pode ser encontrado no Pantanal e revela um comportamento da espécie até então desconhecido. “Considerando que as mudanças climáticas deverão afetar a fauna pantaneira, através do aumento da ocorrência de climas extremos, estudar a sobrevivência das espécies durante eventos como estiagem e incêndios pode ajudar a prever com mais exatidão os impactos dessas mudanças sobre os animais, além de melhorar os planos de ação para mitigação dos efeitos negativos sobre a fauna”.
Os pesquisadores conduziram os estudos no município de Poconé (MT) entre agosto e setembro de 2020, período em que grandes incêndios atingiram o Pantanal brasileiro. Uma rede de pesquisa chamada Mogu Matá, termo de origem Guató, tribo indígena do Pantanal, que significa urubu de cabeça amarela, foi criada com a finalidade de estimar a mortalidade de animais causadas pelos incêndios e encontrar sobreviventes.
O estudo foi realizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal (INPP); instituição em fase de estruturação para se tornar uma unidade de pesquisa do MCTI; Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros – (ICMBio); Embrapa Pantanal; Universidade Federal de Viçosa (UFV), e a Universidade Nacional de Córdoba - Argentina
A íntegra da pesquisa pode ser vista no link http://mastozoologiamexicana.com/ojs/index.php/theryanotes/article/view/149/204
Rede Pantanal de Pesquisa
Com o impacto das queimadas no Pantanal em 2020, pesquisadores de mais de 20 instituições formaram uma rede para usar a ciência e tecnologia na criação de estratégias para prevenir e mitigar os efeitos dos incêndios no bioma. Com apoio do MCTI – Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, por meio da FINEP, empresa pública do MCTI, a Rede Pantanal de Pesquisa PPBIO conta com investimento de R$ 1,6 milhão até novembro de 2022 e a atuação conjunta de três sub-redes que compartilham informações em tempo real.