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Mercados de carbono podem financiar investimentos verdes no Brasil, aponta estudo da Rede CLIMA/MCTI
Os pesquisadores de economia da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede CLIMA), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), simularam cenários de financiamento de estratégias de investimentos verde por meio de precificação de carbono no Brasil. As projeções sugerem que, ao adicionar a taxação de carbono como forma de financiamento dos investimentos, os custos da taxação seriam compensados pelo aumento do nível de atividade econômica com os investimentos. O resultado indica aumento do PIB e do emprego, e redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE).
“São medidas de investimento setoriais necessárias para a redução de emissões. Adotar tecnologias que reduzem emissões, modificar o processo produtivo, reduzir a necessidade de combustíveis fósseis, entre outros, tem um custo. Para empresas adotarem esse investimento, que em geral está um pouco acima do investimento médio, precisa de incentivo. E esse incentivo pode advir da participação em um mercado de carbono”, explica o coordenador da Subrede Economia da Rede CLIMA e professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Edson Domingues. “É um mecanismo para baratear o investimento e a redução de emissões”, complementa.
O estudo ‘Financiamento de Estratégias de Investimento por meio de Mercados de Carbono no Brasil’ e outros que avaliaram os impactos da pandemia de Covid-19 na economia brasileira, produzidos no âmbito da Rede Vírus com apoio a Rede CLIMA, estão disponíveis aqui. A ideia é que os resultados possam contribuir para a tomada de decisão por parte do Governo Federal.
O ponto de partida do grupo de pesquisadores foram os resultados do projeto Opções de Mitigação de Emissões de Gases de Efeito Estufa em Setores-Chave do Brasil, concluído em 2017 pelo MCTI, que elencou os principais setores econômicos do Brasil associados às emissões, como a indústria, a produção de energia que utiliza combustíveis fósseis e a produção agropecuária, entre outros.
Segundo descrito no estudo, precificar o carbono emitido é visto como maneira eficaz de reduzir o volume de emissões por imputar um desestímulo financeiro ao emissor. Além disso, o processo encoraja empresas a mudarem seus processos de produção. Os investimentos cumpririam o duplo papel de promover a retomada do crescimento ao mesmo tempo em que reduziriam as emissões. Por isso, a opção de mercado de carbono é viável como política de mitigação de GEE para promover a retomada do crescimento econômico pós pandemia.
“O modelo consegue trabalhar com duas questões: o carbono precificado, como um produto da economia, representando uma receita potencial para os setores que estiverem vendendo créditos e reduzindo emissões; e, por outro lado, o investimento, gerando aumento da produção”, explica Domingues.
Para chegar aos resultados, o grupo de pesquisa utilizou o modelo computacional BeGreen (Brazilian Energy and Greenhouse Gas Emissions General Equilibrium Model), que possui um módulo ambiental. Por meio dele, os pesquisadores conseguem realizar projeções de políticas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE), projeções de taxação do carbono sobre emissões oriundas de atividades e uso de combustíveis. “É um modelo econômico bem detalhado da economia brasileira acoplado a um modelo ambiental que contempla as emissões, como o Inventário Nacional”, explica Domingues.
O grupo simulou dois cenários macroeconômicos. Em um deles há imposição de taxação, porém o valor arrecadado não é revertido para investimento, o que leva à queda da atividade econômica e de aumento de custos sobre os setores intensivos em emissões. Nesse cenário haveria retração acumulada do PIB em 7% no ano de 2030.
No segundo cenário, ocorre simultaneamente a taxação sobre as emissões e o pacote de investimentos verdes. As projeções foram realizadas considerando o horizonte temporal de 10 anos. Nesse cenário, o pacote de investimentos verdes levaria ao aumento da renda das famílias, somado ao aumento na taxa de retorno do capital, que elevaria o investimento e a taxa de crescimento do estoque de capital, resultaria no aumento acumulado do PIB de 4,1% em 2030 em relação ao cenário de referência. A taxação do carbono permitiria uma retração acumulada nas emissões em 11,4% no ano de 2030. Setores econômicos como o de Edificações, Pesquisa e Desenvolvimento, Cimento, Transporte de Passageiros, Obras de infraestrutura, Serviços para a construção e Artefatos de cimento e gesso, aparecem como os mais beneficiados.
Saiba mais: A Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede CLIMA) do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovações (MCTI), reúne pesquisadores em 17 subredes e mobilizou-se para projetar cenários de recuperação econômica, considerando a descarbonização de setores produtivos e o desmatamento zero no bioma Amazônia. No total, os estudos entregaram oito relatórios, nos quais os pesquisadores mensuraram os impactos econômicos das medidas sanitárias, ações econômicas necessárias envolvendo investimentos verdes e do desmatamento zero, como estratégias de crescimento sustentável para a recuperação da economia no cenário pós-covid.