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Mudança do clima: aumento das temperaturas e redução das chuvas são observadas e projetadas no Centro-Oeste
O conjunto dos principais resultados dos estudos de Impactos, Vulnerabilidades e Adaptação (IVA) à mudança do Clima da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à UNFCCC com ênfase para os estados que compõem a região Centro-Oeste foram apresentados pelo MCTI - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações na sexta-feira (10). O objetivo de compartilhar o conhecimento técnico-científico é que os estudos possam subsidiar o planejamento e a integração de políticas públicas, com um melhor entendimento sobre o que é prioritário e o que pode ser feito em relação à adaptação à mudança do clima na região.
A elaboração dos estudos envolveu 118 especialistas de 114 instituições, e contemplou quatro grandes eixos estratégicos: seguranças hídrica, energética, alimentar e socioambiental. De acordo com os pesquisadores, a abordagem integradora utilizada é a mais adequada para demostrar a interconexão das seguranças com foco na integração das políticas públicas.
“Entendemos que a integração das políticas públicas é o foco central e uma contribuição particular da Quarta Comunicação Nacional. Isso é para evitar que uma política interfira negativamente em outra em decorrência de processos institucionais de tomada de decisão baseados em setores que são independentes”, explica o professor e coordenador técnico-científico da Rede de Mudanças Ambientais Globais (Rede CLIMA) do MCTI para os estudos de IVA da 4CN, Marcel Bursztyn.
Mudanças regionais observadas e cenários - A mudança do clima não incide apenas no aumento da temperatura, mas também na variabilidade da precipitação. Esses aspectos impactam diretamente os eixos estratégicos, e são mais perceptíveis pela população quando se manifestam em eventos extremos, seja pelo excesso ou escassez de chuvas, ondas de calor e ocorrência de incêndios.
De acordo com os dados climáticos observados entre 1980 e 2018, grande parte do Centro-Oeste já vivencia um aumento de temperatura de até 0,5 oC por década. “São valores superiores à média global. Em particular a região de Goiás, na qual essa taxa de aumento da temperatura média atinge valores ainda mais elevados”, explica o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE/MCTI), Lincoln Alves. Outro aspecto observado é o aumento no número de dias com temperaturas máximas extremas que aumentou em cerca de 30% em grande parte do Brasil, incluindo a região Centro-Oeste.
Em relação as chuvas, Alves destaca que já se observa mudanças regionais significativas, em particular no total de precipitação anual em grande parte da região e um aumento na ocorrência de eventos extremos, como secas que têm impactos em vários setores estratégicos. “Esse é o raio-X de evidências da mudança do clima no Brasil”, afirmou Alves.
Ao projetar o futuro, há consenso em todos os modelos climáticos utilizados que a temperatura média no Brasil deve aumentar pelo menos duas vezes mais em relação ao aumento médio global. Temperaturas maiores e mudanças significativas nas precipitações para o Centro-Oeste, com probabilidade de reduções em cerca de 10% das chuvas. Toda a base de dados sobre clima para todo o território nacional está disponível para consulta no portal Projeções Climáticas (www.pclima.inpe.br).
‘Estado de atenção’ - A disponibilidade hídrica, que considera oferta e demanda de água, foi calculada considerando cenários de vazões, com base em modelagem hidrológica. O supervisor para os estudos de IVA da Quarta Comunicação Nacional, Diogo Santos, afirma que o Centro-Oeste aparece como uma região em ‘estado de atenção’ em relação à disponibilidade. “Não somente pela redução das vazões, mas também pela elevada retirada de água no cenário atual e com tendência de crescimento, principalmente pela demanda por irrigação”, analisa Santos.
Em relação à segurança energética, um dos temas abordados nos estudos foi oferta de energia hidroelétrica, que é preponderante no país e muito vulnerável à mudança do clima, e os seus impactos na matriz elétrica. Um exemplo de impacto observado relatado foi a redução do volume de água armazenada no maior reservatório de água brasileiro, Serra da Mesa, localizado ao norte de Goiás. Em 2017, o volume baixou para apenas 6% e afetou toda a bacia do rio Tocantins. “Houve um efeito cascata para a geração de energia de todas as usinas hidrelétricas instaladas ao longo da bacia, chegando até a usina de Tucuruí, que fica no Pará”, explicou Santos. Outro importante aspecto da região abordado pelos especialistas foram as vulnerabilidades dos cultivos de soja e cana-de-açúcar, matéria-prima de biocombustíveis, uma vez que o Centro-Oeste é um grande produtor.
A segurança alimentar também foi objeto dos estudos, tema estratégico para o país, tendo a região Centro-Oeste um papel relevante. Os estudos abordaram os impactos da mudança do clima na produção de alimentos, e apresentou cenários de produtividade e de zoneamento agrícola de risco climático (que considera a aptidão das áreas para o cultivo) de diferentes culturas, bem como análises de perdas agrícolas por eventos climáticos, e perdas e desperdícios ao longo da cadeia produtiva, que oferecem elementos para pensar a adaptação. Segundo os especialistas, a resposta de cada cultivo é muito diferente à mudança do clima, por apresentam diferentes sensibilidades ao estresse hídrico, dentre outros fatores.
Em relação à saúde, o aumento de dias com estresse térmico na região implica aumento de doenças cardiovasculares e respiratórias. Apesar da baixa densidade demográfica relativa da região, as cidades apresentam vulnerabilidades à ocorrência de desastres, como inundações e alagamentos devido à urbanização precária. Por fim, os biomas Cerrado e Amazônia estão susceptíveis aos impactos da mudança do clima, além das pressões de degradação que já sofrem, o que pode levar a uma piora na qualidade ambiental e perda de serviços ecossistêmicos, como de regulação climática e do ciclo da água, dentre outros. “Os ecossistemas não se adaptam na mesma velocidade da mudança do clima”, enfatizou Santos.
Agenda - Até o final de setembro serão realizadas reuniões com os representantes dos estados das cinco regiões. O ciclo de eventos iniciou pelo Sul. Para cada região estão previsos dois encontros técnicos. Na quinta-feira (09/09) a região Centro-Oeste conheceu os dados do Inventário Nacional.
Na próxima etapa, os encontros serão com os representantes da região Norte, nos dias 16 e 17/09. Nos dias 20 e 21/09, a agenda é dedicada ao Nordeste. O ciclo se encerra com os eventos na região Sudeste nos dias 23 e 24/09.
Saiba mais: As reuniões técnicas regionais são promovidas pelo MCTI, que coordena a elaboração das Comunicações Nacionais do Brasil à UNFCCC. A elaboração e submissão desse documento é um compromisso assumido pelo governo brasileiro em 1994, ao ratificar a adesão do país à Convenção do Clima. O envio dos dados atualizados deve ocorrer a cada quatro anos, conforme determina as regras do acordo internacional para países em desenvolvimento. O projeto executado pelo MCTI, por meio da Coordenação-Geral de Ciência do Clima e Sustentabilidade (CGCL), conta com financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês), e tem o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) como agência implementadora.
Acesse aqui o documento da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à UNFCCC.
Acesse aqui a Revista Sustentabilidade em Debate publicada pela Universidade de Brasília (UnB) e leia os artigos científicos que embasaram os estudos de IVA da Quarta Comunicação Nacional.