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MCTI apresenta riscos e vulnerabilidades à mudança do clima em temas-chave para o Nordeste
Mapas da Dimensão Disponibilidade Hídrica com as diferenças entre projeções de clima futuro e simulações de clima presente em porcentagem.
Os principais resultados dos estudos de Impactos, Vulnerabilidades e Adaptação (IVA) à mudança do clima para o Nordeste foram apresentados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), na terça-feira (21), para os representantes dos governos estaduais e instituições com atuação na região. Os estudos foram realizados no âmbito da Quarta Comunicação Nacional (4CN) do Brasil à Convenção do Clima UNFCCC, documento cuja elaboração é coordenada pela pasta.
“Os cenários futuros indicam agravamento do balanço hídrico na região”, explicou o supervisor dos estudos de IVA da 4CN, Diogo Santos. O balanço hídrico considera a disponibilidade e a demanda.
O ciclo de reuniões técnicas realizados ao longo do mês de setembro se encerra com os eventos na região Sudeste, nos dias 23 e 24/09. O objetivo de compartilhar o conhecimento técnico-científico é para que os estudos possam subsidiar o planejamento e a integração de políticas públicas, com um melhor entendimento sobre o que é prioritário e o que pode ser feito em relação à adaptação à mudança do clima de cada região.
A elaboração dos estudos de IVA da 4CN envolveu 118 especialistas de 114 instituições, e contemplou quatro grandes eixos estratégicos: seguranças hídrica, energética, alimentar e socioambiental. De acordo com os pesquisadores, a abordagem integradora utilizada é a mais adequada para demostrar a interconexão das seguranças com foco na integração das políticas públicas.
Para a região Nordeste, de acordo com as projeções que consideram os níveis de aquecimento global, os mapas da dimensão disponibilidade hídrica futura (ISHmc) apresentam cenários preocupantes, em especial para a Caatinga. Além da tendência de redução das vazões dos rios e da intensificação dos períodos de seca, há perspectiva de aumento da demanda pela população e por irrigação.
“O mapa apresenta manchas mais escuras em vários pontos, no entanto para o Nordeste é algo importante a ser observado, especialmente em áreas urbanas com maior adensamento populacional e nos locais que demandam maior uso de água para irrigação”, explicou Santos.
A questão da água também afeta a segurança energética, pois os cenários indicam a redução do potencial de geração hidroelétrica e a necessidade de intensificar a diversificação da matriz elétrica por fontes renováveis, como eólica e solar. Atualmente, o Nordeste concentra o maior parque eólico brasileiro.
Com relação à segurança alimentar, os estudos consideraram a produtividade e áreas aptas à produção por tipo de cultivo, para conhecer os impactos da mudança do clima sobre a produção de alimentos, com base em projeções de longo prazo, como a do zoneamento agrícola de risco climático. Cerca de 35% da área de agricultura familiar encontra-se na Caatinga e, de acordo com os especialistas, a presença importante da agricultura familiar implica em alta vulnerabilidade à mudança do clima, tanto em termos do abastecimento de alimentos para consumo como para subsistência.
“Destaques para a Caatinga envolvem as perdas que já vem sendo observadas devido às secas e a forte presença da agricultura familiar, cuja produção atende a demanda de consumo doméstico. Qualquer impacto na agricultura familiar afeta a segurança alimentar do país”, afirmou Santos.
Organizados na linha do tempo, os impactos relacionados à mudança do clima já observados na região demonstram a frequência com que a população lida com secas e inundações. Em 2009 cerca de 110 mil pessoas foram atingidas por inundações no Ceará, em 2013 chuvas intensas atingiram as regiões metropolitanas de João Pessoa e Recife. A seca de 2012 provocou impacto direto na vida e economia de cerca de 30 milhões de pessoas. Em 2016, 24% dos municípios do semiárido reportaram surgimento e/ou aumento de áreas de desertificação e os cenários futuros indicam a intensificação desse processo.
“O aumento da precipitação não significa chuvas regulares. Muitas vezes são chuvas irregulares ou concentradas em poucos dias, com períodos de secas entre elas. Essas chuvas intensas são as que produzem desastres naturais”, analisou o coordenador técnico-científico da Rede CLIMA para os estudos de IVA da 4CN, José Marengo.
Ao abordar os resultados identificados na segurança socioambiental, os pesquisadores destacaram como a vulnerabilidade social presente na região condiciona os riscos climáticos de maneira transversal. A alta incidência de alagamentos, enxurradas e inundações em aglomerados urbanos, sobretudo, devido à urbanização precária.
Saiba mais: As reuniões técnicas regionais são promovidas pelo MCTI, que coordena a elaboração das Comunicações Nacionais do Brasil à UNFCCC. A elaboração e submissão desse documento é um compromisso assumido pelo governo brasileiro em 1994, ao ratificar a adesão do país à Convenção do Clima. O envio dos dados atualizados deve ocorrer a cada quatro anos, conforme determina as regras do acordo internacional para países em desenvolvimento. O projeto executado pelo MCTI, por meio da Coordenação-Geral de Ciência do Clima e Sustentabilidade (CGCL), conta com financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês), e tem o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) como agência implementadora.
Acesse aqui o documento da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à UNFCCC.
Acesse aqui a Revista Sustentabilidade em Debate publicada pela Universidade de Brasília (UnB) e leia os artigos científicos que embasaram os estudos de IVA da Quarta Comunicação Nacional.