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MCTI apresenta resultados dos estudos de impactos, vulnerabilidades e adaptação para a região Sul
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) apresentou na quinta-feira (2) os principais resultados dos estudos de Impactos, Vulnerabilidades e Adaptação (IVA) à mudança do clima para a região Sul do país. Os dados constam da Quarta Comunicação Nacional (4CN) do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). O objetivo de compartilhar o conhecimento é que os estudos possam subsidiar o planejamento e a integração de políticas públicas sobre o que é prioritário e o que pode ser feito em relação à adaptação.
“Todos os esforços desse projeto estão alinhados com a missão do MCTI de garantir e promover o avanço da ciência visando o desenvolvimento sustentável, o que inclui inúmeras iniciativas para o combate à mudança do clima”, afirmou o secretário de Pesquisa e Formação Científica (SEPEF) do MCTI, Marcelo Morales.
Os coordenadores técnico-científicos da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede CLIMA) para os estudos de IVA da 4CN, professores José Marengo e Marcel Bursztyn apresentaram o entendimento acadêmico para a elaboração dos estudos, que envolveu 118 especialistas de 114 instituições, e contemplou quatro grandes eixos temáticos: seguranças hídrica, energética, alimentar e socioambiental.
“Trabalhamos com seguranças, que são mais abrangentes”, explicou Marengo, que também atuou como editor-revisor do Grupo de Trabalho I do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), lançado recentemente.
De acordo com os pesquisadores, a metodologia integradora é a mais adequada para demostrar a relação entre as diferentes partes. “A mudança climática é tão complexa que não basta sensibilizar apenas um dos setores de políticas públicas, como o setor de energia, sem sensibilizar ao mesmo tempo outros setores, como agricultura, saúde e infraestrutura”, exemplificou Bursztyn.
“Entendemos que seria importante interrelacionar os quatro eixos considerando a disponibilidade de recursos, o acesso por parte da população, como isso reflete sobre a proteção ambiental e sobre o desenvolvimento econômico”, complementou como a interdependência dos setores analisados.
Resultados - Na reunião técnica foram apresentadas a análise das mudanças climáticas observadas entre 1980 e 2018 e os cenários futuros por nível de aquecimento, considerando o aumento médio da temperatura global de 1,5oC, 2oC e 4oC.
Para a região Sul, a projeção é de aumento dos eventos extremos, que podem incluir secas, chuvas intensas e ciclones, entre outros. Os aumentos na frequência de dias com chuva acumulada acima de 100 a 150mm, que já é observado, será irregular.
“Independentemente da situação de seca, quando chove, chove muito. Um mês em particular e nos demais não chove. Em vez de produzir efeitos benéficos de irrigar, umedecer o solo, encher reservatório, essas concentrações podem produzir erosões”, analisa Marengo.
Com relação às quatro seguranças, o supervisor dos estudos de IVA, Diogo Santos, destacou a diversidade e as vulnerabilidades dos sistemas de produção agropecuária na região, que vem experimentando perdas com alguma frequência. Santos também abordou a vulnerabilidade das cidades, que se associam a todas as seguranças. Atualmente, de acordo com dados do IBGE que constam da 4CN, cerca de 85% da população brasileira vive em áreas urbanas. “O mapa apresenta que onde a vulnerabilidade urbana é maior é onde os desastres hidrogeológicos foram observados com maior concentração”, analisou.
Ao abordar a segurança energética, Santos ressaltou que a oferta de energia elétrica no Brasil é fornecida por meio do Sistema Interligado Nacional (SIN), e que, portanto, impactos na oferta em outras regiões podem afetar a região Sul, mesmo não estando em situação crítica de precipitação.
“É preciso estar atento, pois a região Sul não está isenta desse tipo de problema, como aumento de tarifas, e os eventos extremos podem causar falhas e danos na infraestrutura”, explicou. Além disso, segundo ele, o aumento da demanda por energia, em especial pela necessidade de conforto térmico, é um fator de pressão sobre o sistema.
Com relação à segurança hídrica, o supervisou ressaltou a importância de gerenciar a qualidade da água, tanto no que se refere a centros urbanos como nas áreas rurais, especialmente pela poluição difusa, como o uso de defensivos agrícolas. Santos destacou também os ecossistemas e questões relacionadas à saúde presentes nas análises da segurança socioambiental.
A coordenadora Nacional da 4CN e de Mudanças Ambientais Globais do MCTI, Lidiane Melo, abordou as opções adaptação à mudança do clima no contexto das seguranças. Melo enfatizou a importância de se combinar ações com diferentes abordagens, escalas de governança e buscar a potencialização de sinergias e a minimização de trade-offs (conflitos).
“Esses exemplos de adaptação têm caráter ilustrativo para a região. Cabe aos gestores locais analisarem as vulnerabilidades, de acordo com a realidade local, e selecionar a combinação que apresente o melhor custo-benefício”, enfatizou.
O subsídio técnico-científico gerado pelo MCTI contemplado no documento da 4CN pode ser aproveitado pelos governos subnacionais ao incorporarem as informações no momento de planejar, pois a mudança do clima é uma temática transversal. “Só seremos bem-sucedidos se estivermos todos engajados e mobilizados. É nisso que estamos trabalhando aqui no MCTI para avançar na fronteira do conhecimento e disponibilizar para os colegas”, concluiu Márcio Rojas, no encerramento do evento.
Agenda - Na próxima semana, dias 09 e 10/09, o Centro-Oeste recebe os dois dias de reuniões técnicas para tratar do Inventário Nacional de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa com dados desagregados para os estados da região e para abordar os principais resultados dos estudos de IVA também para a região. Até o final de setembro serão realizadas reuniões com os representantes dos estados das cinco regiões.
Saiba mais: As reuniões técnicas regionais são promovidas pelo MCTI, que coordena a elaboração das Comunicações Nacionais do Brasil à UNFCCC. A elaboração e submissão desse documento é um compromisso assumido pelo governo brasileiro em 1994, ao ratificar a adesão do país à Convenção do Clima. O envio dos dados atualizados deve ocorrer a cada quatro anos, conforme determina as regras do acordo internacional para países em desenvolvimento. O projeto executado pelo MCTI, por meio da Coordenação-Geral de Ciência do Clima e Sustentabilidade (CGCL), conta com financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês), e tem o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) como agência implementadora.
Acesse aqui o documento da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à UNFCCC.
Acesse aqui a Revista Sustentabilidade em Debate publicada pela Universidade de Brasília e leia os artigos científicos que embasaram os estudos de IVA da 4CN.