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Impactos à mudança do clima da região Norte envolvem resiliência da Amazônia
A perda de resiliência do bioma Amazônia, que predomina nos estados que compõem a região Norte do Brasil, destaca-se entre os principais resultados dos estudos de Impactos, Vulnerabilidades e Adaptação (IVA) à mudança do clima realizados no âmbito da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à UNFCCC. A apresentação dirigida à região foi promovida na sexta-feira (17) pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), e abordou ainda as alterações de temperatura e no regime de chuvas observadas entre 1980 e 2018, além das tendências para os cenários futuros.
“Queremos promover a solução, o planejamento para a adaptação à mudança do clima. Para isso, precisamos compreender o problema, ter um diagnóstico e um prognóstico, ou seja, o que deve acontecer nos próximos anos”, explicou o supervisor dos estudos de IVA, Diogo Santos.
O objetivo de compartilhar o conhecimento técnico-científico é que os estudos possam subsidiar o planejamento e a integração de políticas públicas, com um melhor entendimento sobre o que é prioritário e o que pode ser feito em relação à adaptação à mudança do clima de cada região.
A cor mais escura no primeiro mapa (à esquerda), demonstra a adaptabilidade do bioma Amazônia no contexto climático histórico. Nos outros três mapas, as cores mais claras indicam a resiliência no bioma de acordo com os cenários futuros, que variam conforme o nível de aquecimento global, com aumento da temperatura média de 1,5 oC, 2 oC ou 4 oC graus. A cor mais clara indica baixa resiliência, ou seja, a perda de qualidade ambiental, redução de biodiversidade e, em algumas áreas, até assumindo características que são atualmente conhecidas em outros biomas.
“Não é possível, neste momento, dizer quais serão as características futuras do bioma. Mas há a tendência de redução da qualidade ambiental do bioma. Soma-se a isso as pressões que não são provenientes da mudança do clima, como a conversão do uso da terra”, afirma Santos.
A constatação do estudo é relevante, especialmente, devido aos serviços ecossistêmicos providos pelo bioma a setores como agricultura e geração de energia para outras regiões do País. “Criar corredores ecológicos, criar áreas protegidas para que o bioma tenha mais chances de continuar a exercer as funções ecossistêmicas atuais. Além do aspecto da manutenção da biodiversidade, o bioma Amazônia tem função de regulação climática, regulação do ciclo hidrológico, conservação do solo, polinização, entre outros serviços”, explica Santos.
Os resultados dos estudos para a região Norte apontam ainda para a alteração no mapa de incidência de doenças ocasionadas por vetores (mosquitos) e no aumento de óbitos e internações por estresse térmico (WBGT) ocasionado por dias com temperaturas extremas, que já expandiu em 30%.
No plano da mudança do clima já observada, a maior parte dos estados da região vivencia aumento das temperaturas médias e em algumas regiões acima das registradas do aumento médio global, que está em 1,1oC – comparado aos níveis pré-industriais- segundo os dados mais recentes do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC).
Com relação à chuva, os pesquisadores apresentaram caracterizações baseadas em dados observacionais de que a variabilidade nos padrões de precipitação na região é muito grande e destacaram dois aspectos. “A parte oeste do bioma, onde estão os estados do Acre, Amazonas e Roraima, mostram tendência de aumento de precipitação. Em contrapartida, nas áreas ao sul e leste do bioma a tendência é de redução da chuva associada a questões de uso e cobertura do solo”, explicou o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Lincoln Alves.
Além do padrão médio, observa-se aumento no número de eventos extremos com secas e chuvas intensas em grande parte da região. A duração da estação seca tende a aumentar. “Considerando as projeções de níveis de aquecimento, os diferentes modelos indicam que para o futuro haverá intensificação das tendências observadas nas últimas décadas” afirmou Alves.
Toda a base de dados sobre clima para todo o território nacional está disponível para consulta no portal Projeções Climáticas (www.pclima.inpe.br).
A elaboração dos estudos de IVA da 4CN envolveu 118 especialistas de 114 instituições, e contemplou quatro grandes eixos estratégicos: seguranças hídrica, energética, alimentar e socioambiental. De acordo com os pesquisadores, a abordagem integradora utilizada é a mais adequada para demostrar a interconexão das seguranças com foco na integração das políticas públicas.
Agenda - Até o final de setembro serão realizadas duas reuniões técnicas direcionadas às cinco regiões. Na próxima semana, os encontros serão com os representantes da região Nordeste, nos dias 20 e 21/09. O ciclo se encerra com os eventos na região Sudeste nos dias 23 e 24/09.
O ciclo de eventos já passou pelas regiões Sul e Centro-Oeste. Ontem, quinta-feira (16/09), foi apresentado o resultado desagregado do Inventário Nacional para a região Norte.
Saiba mais: As reuniões técnicas regionais são promovidas pelo MCTI, que coordena a elaboração das Comunicações Nacionais do Brasil à UNFCCC. A elaboração e submissão desse documento é um compromisso assumido pelo governo brasileiro em 1994, ao ratificar a adesão do país à Convenção do Clima. O envio dos dados atualizados deve ocorrer a cada quatro anos, conforme determina as regras do acordo internacional para países em desenvolvimento. O projeto executado pelo MCTI, por meio da Coordenação-Geral de Ciência do Clima e Sustentabilidade (CGCL), conta com financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês), e tem o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) como agência implementadora.
Acesse aqui o documento da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à UNFCCC.
Acesse aqui a Revista Sustentabilidade em Debate publicada pela Universidade de Brasília (UnB) e leia os artigos científicos que embasaram os estudos de IVA da Quarta Comunicação Nacional.