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Mudança do clima está mais rápida e intensa, aponta relatório do IPCC
A principal mensagem do relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), divulgado mundialmente nesta segunda-feira (9), é de que a mudança do clima já está acontecendo, está mais rápida e intensa, e é resultado da ação humana (antrópica). O ‘Sumário para Formuladores de Políticas sobre a Mudança do Clima 2021: A Base da Ciência Física’, resultado do grupo de trabalho I (WG-I) do Sexto Relatório de Atualização (AR6), entre outros documentos publicados pelo WGI, apresenta informações atualizadas com evidências científicas acerca do aquecimento global. A descoberta serve para compreender o atual estado do clima, incluindo como a influência humana contribuiu para tal, e o conhecimento científico disponível para compreender as possibilidades futuras sobre a mudança do clima.
O IPCC lançou conjuntamente o Atlas Interativo, por meio do qual é possível visualizar o clima futuro com relação às temperaturas e à precipitação, a partir dos cenários de aquecimento de aumento da temperatura média global em 1,5oC, 2oC e 4oC, e acessar materiais com informações regionalizadas.
“A mensagem principal do relatório é que a mudança do clima é real e atribuída às ações humanas no sistema climático. Os resultados do relatório só reforçam com mais acurácia, dado o maior número de evidências científicas, o que os últimos relatórios do IPCC já ressaltavam”, sintetiza o pesquisador brasileiro do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE/MCTI), Lincoln Alves, que atuou como autor líder do capítulo Atlas.
O relatório do WG-I aborda o que está acontecendo com o clima, sendo que as últimas quatro décadas foram as mais quentes, desde 1850. O documento apresenta cenários, que variam de acordo com a trajetória de emissões e remoções de gases de efeito estufa (GEE), e alerta sobre a limitação dos sistemas naturais, no oceano e nos continentes, em absorver carbono da atmosfera. O texto explora os principais indutores (drivers) relacionados ao aquecimento global, aponta que as ondas de calor, ciclones tropicais das categorias três a cinco (os mais intensos) estão se tornando mais frequentes, e indica a ocorrência de eventos extremos associados, como a sobreposição de ondas de calor e de seca ou de chuvas intensas que podem resultar em desastres.
Para exemplificar a aceleração da mudança do clima, o documento informa que a temperatura do oceano tem aumentado constantemente desde 1970 e que aumento do nível do mar foi de cerca de 20 cm no período entre 1901 e 2018. Por ano, o aumento médio foi de 1,3 mm entre 1901 e 2018, 1,9 mm entre 1971 e 2006, e 3,7 mm entre 2006 e 2018.
Desde 1990, quando encerrou-se o primeiro ciclo de avaliação, o IPCC já indicava evidências da influência humana na mudança do clima. Mais tarde, apontou que a ação antrópica era provável e depois ‘altamente provável’. Agora, em 2021, o relatório científico confirma que a mudança do clima é decorrente da ação humana, ou seja, é um fato estabelecido, e que o aquecimento global está levando a mais eventos extremos.
Compreende-se por extremos climáticos eventos de secas, enchentes, ondas de frio ou calor. Explica o professor José Marengo, editor revisor do capítulo 3 do WG I, que em 2021, ondas de calor estão afetando regiões onde esses fenômenos não eram comuns, como o Canadá e a Sibéria. “Todos esses episódios são indicadores de que o clima já está mudando. São coisas que, segundo os modelos, o mundo esperaria para as próximas décadas, mas já estão acontecendo”, afirma.
Outro aspecto que o relatório explora é a constatação de que o aquecimento regional é superior de duas a três vezes à média global e que há mudanças nos padrões de chuva. “O sinal da mudança do clima já tem se mostrado nas últimas décadas, incluindo mudanças nos padrões de precipitação e aumento no número e intensidade de extremos climáticos, como secas, inundações e incêndios florestais”, descreve o pesquisador.
Ao retratar o clima atual com bastante redução de incertezas, os cientistas indicam que as variações nas características climáticas são precursoras do que pode ocorrer nas próximas décadas, se o aumento das emissões de GEE continuar. O relatório IPCC apresenta bases científicas atualizadas que comprovam aumento dos extremos climáticos. “É para dar um sinal aos governos: já está acontecendo, tem de estar preparado para isso”, afirma Marengo.
Sobre o IPCC: O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) foi estabelecido em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês) para oferecer aos líderes políticos atualizações científicas periódicas sobre mudança do clima, seus riscos e implicações, assim como disponibilizar estratégias de adaptação e mitigação. O IPCC possui 195 países membros, entre eles o Brasil, e dispõe de três grupos de trabalho (WG): o WG I lida com a base da ciência física da mudança do clima; o WG II aborda impactos, adaptação e vulnerabilidade; o WG III tem como foco a mitigação da mudança do clima. Também há uma Força Tarefa para Inventários Nacionais de Gases de Efeito Estufa, que desenvolve metodologias para mensurar emissões e remoções.
Assista aqui ao vídeo de lançamento global dos dados do Grupo de Trabalho I.
Acesse aqui o Atlas Interativo.
Acesse aqui as principais informações (fact sheet) para a região Sul-americana.
Saiba mais: O envio das Comunicações Nacionais à UNFCCC é um compromisso assumido pelo governo brasileiro em 1998, ao promulgar a adesão do país à Convenção do Clima. O envio dos dados atualizados deve ocorrer a cada quatro anos, conforme determina as regras do acordo internacional para países em desenvolvimento. O projeto executado pelo MCTI, por meio da Coordenação-Geral de Ciência do Clima e Sustentabilidade, conta com financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês), e tem o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) como agência implementadora.
Acesse aqui o documento da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à UNFCCC.
Conheça o Sistema de Registro Nacional de Emissões (SIRENE).