Notícias
Cientistas brasileiros que participaram da Quarta Comunicação Nacional integram grupo de trabalho do IPCC
O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) que reúne cientistas de todo o mundo especializados em mudança do clima, lançou nesta segunda-feira (9) a contribuição do Grupo de Trabalho 1 (WG I) para o Sexto Relatório de Atualização (AR6). O ‘Sumário para Formuladores de Políticas sobre a Mudança do Clima 2021: A Base da Ciência Física’, entre outros documentos disponibilizados pelo WG I, apresenta informações atualizadas com evidências científicas acerca do aquecimento global. O trabalho contou com a participação de sete pesquisadores brasileiros, sendo seis como autores-líderes e um editor-revisor.
Dois desses cientistas participaram ativamente da elaboração do documento da Quarta Comunicação Nacional do Brasil (4CN) à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), que é coordenado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
Após vários anos atuando como autor-líder dos relatórios de avaliação do IPCC, José Marengo, coordenador técnico-científico da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede CLIMA) para os estudos de Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação da 4CN e pesquisador titular do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden/MCTI), foi editor revisor do capítulo 3 do WG-I/AR6, que aborda a influência humana no sistema climático; e Lincoln Alves, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE/MCTI), responsável pelas análises da seção clima da 4CN, é autor-líder do capítulo Atlas do WG-I/AR6.
O relatório do WG-I aborda itens como o sistema climático (atmosfera, oceano, superfície terrestres, criosfera), observações sobre o passado e presente, processos e interações; indutores da mudança do clima, ciclos bioquímicos; modelos climáticos regionais e globais, cenários e projeções, entre outros aspectos.
“A discussão do IPCC é toda sobre ciência. Ciência que é produzida para tomadores de decisão utilizarem em negociações climáticas, em políticas públicas. Essa é a contribuição da ciência, e ciência comprovada”, explica o professor José Marengo sobre as informações divulgadas pelo órgão das Nações Unidas.
Marengo explica que a função de editor-revisor foi criada a partir do AR5, publicado em 2014. Os cientistas mais experientes supervisionam o trabalho para garantir que todos os questionamentos apontados durante o processo de revisão de conteúdo tenham sido considerados e as informações contempladas sejam auditáveis. “De certa forma, somos responsáveis pelo conteúdo. Esse é o nosso papel”, afirma.
O processo de revisão é importante porque o IPCC não faz pesquisa diretamente, mas avalia a ciência disponível por meio da rede de cientistas de diferentes locais do mundo. A interação, o intercâmbio de experiências, a atualização de conhecimento e o acesso à literatura mais recente promovem um ambiente único. Para se ter uma ideia, a construção do relatório do WG-I contou com a participação de 234 autores de 65 países e foram citados 14 mil artigos científicos. De acordo com os dados apresentados na conferência de imprensa, o processo de revisão envolveu 78 mil comentários de especialistas e de governos. “A ideia do IPCC é justamente juntar todas as experiências para fazer uma revisão do estado da arte do clima”, avalia Marengo.
Para os cientistas brasileiros, integrar esses grupos de trabalho internacionais é um reconhecimento do trabalho desenvolvido no Brasil e uma oportunidade para estreitar relações entre pesquisadores e instituições de alto nível científico e tecnológico e manter-se atualizado com a fronteira do conhecimento produzido no mundo sobre mudança do clima, e aplicar o conhecimento no desenvolvimento de novas pesquisas. “É um privilégio estar trabalhando com pesquisadores do mais alto nível científico mundial e ao mesmo tempo um reconhecimento do trabalho que fazemos aqui no Brasil”, afirma Alves. “É a oportunidade de aplicar esse conhecimento adquirido no desenvolvimento de novas pesquisas no âmbito nacional para subsidiar políticas públicas”, complementa sobre como esse intercâmbio pode contribuir no desenvolvimento da ciência nacional sobre a mudança do clima no Brasil.
De acordo com dados da Quarta Comunicação Nacional, seis pesquisadores brasileiros participam da elaboração do Primeiro Relatório de Avaliação (AR1), publicado em 1990. No Quarto Relatório, (AR4) de 2007 foram 35 pesquisadores. Para o Sexto Relatório de Avaliação (AR6), a ser divulgado em 2022, estão envolvidos 21 cientistas do Brasil.
Os cientistas participantes dos ciclos do IPCC são, atualmente, indicados pelos governos nacionais. A medida busca equilibrar a participação de todas as regiões do globo e também de gênero. Neste link do MCTI há mais informações sobre as diferentes possibilidades de contribuir com os trabalhos científicos promovidos pelo órgão.
Sobre o IPCC: O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) foi estabelecido em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês) para oferecer aos líderes políticos atualizações científicas periódicas sobre mudança do clima, seus riscos e implicações, assim como disponibilizar estratégias de adaptação e mitigação. O IPCC possui 195 países membros, entre eles o Brasil, e dispõe de três grupos de trabalho (WG): o WG I lida com a base da ciência física da mudança do clima; o WG II aborda impactos, adaptação e vulnerabilidade; o WG III tem como foco a mitigação da mudança do clima. Também há uma Força Tarefa para Inventários Nacionais de Gases de Efeito Estufa, que desenvolve metodologias para mensurar emissões e remoções.
Assista aqui ao vídeo de lançamento global dos dados do Grupo de Trabalho I.
Acesse aqui o Atlas Interativo.
Acesse aqui as principais informações (fact sheet) para a região Sul-americana.
Saiba mais: O envio das Comunicações Nacionais à UNFCCC é um compromisso assumido pelo governo brasileiro em 1998, ao promulgar a adesão do país à Convenção do Clima. O envio dos dados atualizados deve ocorrer a cada quatro anos, conforme determina as regras do acordo internacional para países em desenvolvimento. O projeto executado pelo MCTI, por meio da Coordenação-Geral de Ciência do Clima e Sustentabilidade, conta com financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês), e tem o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) como agência implementadora.
Acesse aqui o documento da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à UNFCCC. Conheça o Sistema de Registro Nacional de Emissões (SIRENE).