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Aumento da temperatura pode elevar óbitos e internações por doenças cardiorrespiratórias, aponta estudo
Um estudo inédito conduzido por pesquisadores da Fiocruz nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal aponta que, conforme aumenta o nível médio de aquecimento global, maior é o número de óbitos e internações atribuíveis à temperatura, sobretudo ao calor, associados a doenças respiratórios e cardiovasculares no Brasil. Os resultados constam da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), documento cuja elaboração é coordenada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
Os dados detalhados do estudo, que estimou os impactos futuros na saúde associados à exposição a temperaturas elevadas, têm potencial de contribuir para a definição de prioridades para a gestão de risco, e estão disponíveis no artigo científico publicado pela revista da Universidade de Brasília, Sustentabilidade em Debate.
Os pesquisadores mensuraram qual o percentual que pode ser atribuível à temperatura nos desfechos de saúde (mortalidade e internações) de doenças cardiovasculares em adultos maiores de 45 anos e de doenças respiratórias em idosos acima de 60 anos.
Para calcular o risco relativo, os pesquisadores estabeleceram primeiramente o que é considerado temperatura de risco mínimo para cada região. “Foi necessário definir qual é a temperatura de risco mínimo para cada região e como essa temperatura está associada aos desfechos de saúde nas capitais”, esclarece a doutora em saúde coletiva, Ludmila da Silva Viana Jacobson que participou do estudo. As temperaturas médias regionais de risco mínimo para óbitos e internações estão descritas no documento da Quarta Comunicação Nacional (tabela 3.5 do capítulo 3).
Foram utilizados os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Datasus no período de 2000 a 2010. A partir disso, os pesquisadores calcularam as frações de óbitos e internações atribuíveis ao calor, considerando os cenários de aquecimento médio global, chamados de SWL: 1,5 ºC para o período de 2010 a 2039, 2 ºC para 2040 a 2069; e 4 ºC de 2070 até 2099.
Efeitos do aumento da temperatura – Os pesquisadores identificaram que conforme aumenta o nível de aquecimento global, maior é o número de óbitos e internações atribuíveis à temperatura, sobretudo ao calor, que varia de acordo com cada região.
Para as capitais da região Centro-Oeste, óbitos e internações poderão aumentar para pessoas com doenças cardiovasculares com 45 anos ou mais. Aproximadamente 8% do percentual de mortes e internações foram atribuíveis ao calor no SWL4, cenário no qual o aumento da temperatura média global estará em 4 ºC. Para as regiões Norte e Nordeste verificou-se aproximadamente 12% das internações atribuídas ao calor no SWL4, e uma redução dos óbitos.
Nas regiões Sul e Sudeste os pesquisadores observaram uma possível redução de internações e aumento nos óbitos atribuídos ao calor. Os óbitos atribuíveis ao calor no cenário SWL4 na região Sudeste poderá ser de 10%, enquanto na região Sul pode ser de 5%.
Quanto às doenças respiratórias nos idosos, observou-se aumento da fração de internações e óbitos atribuíveis ao calor em todas as regiões do pppaís, conforme aumenta o nível de aquecimento global.
Na região Norte, aproximadamente 30% das internações e 30% dos óbitos das capitais serão atribuíveis ao calor no cenário SWL4. Para a região Centro-Oeste, serão aproximadamente 40%, na região Sudeste estima-se 23% e na região Sul 9% de internações e óbitos. A região Nordeste foi a única que apresentou fração atribuível das internações maior do que dos óbitos nas capitais, com aproximadamente 15% das internações atribuíveis no SWL4.
Anos potenciais de vidas perdidos – A partir das curvas utilizadas para medir os óbitos associados ao aumento da temperatura, os pesquisadores também estimaram os anos potenciais de vidas que podem ser perdidas prematuramente, o chamado YLL (Years of Life Lost). “É um indicador mais completo porque considera a expectativa de vida do indivíduo. Se o indivíduo morre com 45 anos e a expectativa de vida dele era de 70 anos, ele perdeu muitos anos, significa que a morte foi muito prematura”, explica Jacobson. O YLL também considera a variável do sexo, pois diferencia a expectativa de vida entre homens e mulheres.
Ao estimar quantos anos de vida podem ser preservados caso a pessoa não seja exposta a altas temperaturas, os pesquisadores alertam sobre a alta probabilidade de os cenários futuros que indicam riscos à saúde se concretizarem e da necessidade de preparar a população e os sistemas de saúde para esses desafios.
“Como podemos evitar essa exposição? Com programas de vigilância, com cartilhas, índices que gerem alertas para a população, escolas, empresas. É importante ter essas informações disponíveis com linguagem fácil. Isso leva tempo para ser criado”, explica Jacobson.
A coordenadora do estudo e da Sub-Rede de Saúde da Rede CLIMA, Sandra Hacon, reforça que o trabalho demonstra que há necessidade de orientar a população sobre as altas temperaturas e cita como exemplo serviços regulares que já estão à disposição atualmente como a previsão meteorológica, sobre desastres, índice de radiação. “A população deve ser orientada para buscar essas informações. As secretarias de saúde poderiam, por exemplo, ter um boletim diário com dicas de como se cuidar. Mediante sinais de desidratação procurar um serviço de saúde, em especial para idosos”, alerta Hacon.
Saiba mais:
Acesse aqui os artigos científicos publicados na revista Sustentabilidade em Debate, editada pela Universidade de Brasília, que embasam as análises de Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação à mudança do clima da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção do Clima.
Acesse aqui o documento da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção do Clima e conheça em detalhes as análises de Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação à mudança do clima que envolvem os aspectos de saúde.