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Número de dias com altas temperaturas no Brasil aumentou 30% e padrões regionais de chuva sofreram alterações nos últimos 40 anos
Tendências climáticas observadas (1980-2018): temperaturas mínima e máxima, precipitação anual, dias com temperatura máxima, chuva acumulada em 5 dias e dias secos consecutivos
Uma inovação foi incorporada às análises de Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação (IVA) à mudança do clima no Brasil presentes na Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção do Clima (4CN), documento cuja elaboração é coordenada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Além das projeções climáticas que o documento apresenta regularmente para o país, os especialistas organizaram informações sobre tendências de mudança do clima observadas nas últimas quatro décadas, considerando o período entre 1980 – 2018. Isto é, os padrões de clima para o país não são mais os mesmos. Foram considerados no estudo todo o território nacional e fatos associados com os eixos estratégicos contemplados pelas seguranças hídrica, energética, alimentar e socioambiental.
“A ideia de apresentar um ‘raio-X’ de quais mudanças estão sendo observadas no território brasileiro evidencia as vulnerabilidades dos diferentes setores ou de aspectos relacionados à mudança do clima”, explica Lincoln Alves, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE/MCTI) que coordenou os estudos envolvendo tendências climáticas para a 4CN.
De acordo com o pesquisador, que também é autor líder do Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do Grupo de Trabalho I do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês), por meio da observação de dados históricos das últimas décadas foi possível identificar ‘padrões de mudanças’, especialmente aqueles relacionados ao aumento ou diminuição na frequência e intensidade de determinados eventos, como secas, chuvas concentradas e ondas de calor. “Isso já apresenta evidências de que o clima não é mais o mesmo”, sintetiza o pesquisador.
“Essa é uma abordagem interessante da Quarta Comunicação Nacional ao revelar quais as regiões do País já indicam sinais de mudanças de certas variáveis climáticas que interferem nos setores que são abordados”, explica Alves.
Os estudos envolveram, principalmente, as variáveis meteorológicas que têm impacto direto nos eixos estratégicos das seguranças: chuvas e temperaturas. Segundo Lincoln, essas duas variáveis apresentam maior grau de importância. “A agricultura, por exemplo, é muito dependente de água, por outro lado as culturas são sensíveis à variação da temperatura, saúde e o setor energético tem essa mesma relação”, exemplifica o pesquisador. Além disso, as variáveis selecionadas têm mais dados disponíveis, incluindo série histórica, para todo o território nacional.
Aumento de temperaturas e mudanças no padrão de chuvas - Entre os principais resultados de dados observacionais, os especialistas indicam um aumento, em todas as regiões do país, de 0,5 oC por década nas temperaturas mínima e máxima médias. O aumento atinge 1 oC em certas regiões no inverno e primavera. Essa tendência de aumento de temperatura é acompanhada de um aumento no número de dias com temperatura máxima extrema, com incremento superior a 30% em praticamente todo o país. “Ou seja, de 1980 a 2018, houve aumento tanto nas médias de temperatura, como na ocorrência de dias com temperatura extrema, sendo que o que é considerado temperatura máxima extrema varia de acordo com a localidade”, detalha o supervisor de IVA para a 4CN, Diogo Victor Santos.
Quanto às chuvas, o documento indica que foram observadas mudanças regionais no padrão de chuvas, tanto em relação à redução quanto ao aumento da precipitação anual. No sudoeste da região Norte, no leste da região Centro-Oeste, e nas regiões Nordeste e Sudeste foram identificadas reduções de até 20 mm por década no acumulado anual. Para compreender a importância dessa quantidade de chuva é preciso observar o acumulado anual da região. “Se for menor que 1.000 mm a situação pode ser mais grave do que em regiões onde o acumulado é de 2.500 mm, por exemplo”, compara Santos.
Por outro lado, o documento aponta aumento na precipitação anual em algumas regiões. No extremo norte da região Norte (de até 40 mm por década), na região Sul (de até 20 mm por década) e em áreas nas regiões Nordeste e Centro-Oeste. As observações também indicam aumento na frequência e intensidade de eventos extremos de precipitação, tais como aumento de secas em extensa área da porção central do país.
Os reflexos de todas essas mudanças observadas são abordados nas análises das seguranças que correlacionam os padrões de mudança do clima com os impactos que essas alterações estão causando em diferentes áreas, como nos setores agrícola, hídrico, na saúde, nas cidades etc. Além de reforçar o entendimento de que a mudança do clima já está acontecendo no território nacional, aborda quais são os setores que podem ser mais afetados.
Para facilitar a compreensão do leitor, o documento apresenta ainda infográficos que resumem os principais impactos observados em relação à mudança do clima atrelados às seguranças hídrica, energética, alimentar e socioambiental e aos biomas Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal.
Acesse aqui o documento da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção do Clima e conheça em detalhes as tendências climáticas observadas no Brasil.
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