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Novo mapa de carbono caracteriza com mais detalhes o bioma Amazônia
Mapa de estoque de carbono dos diferentes reservatórios da Amazônia, (A) acima do solo, (B) abaixo do solo, (C) madeira morta e (D) serrapilheira.
A tecnologia mais atual e disponível para medir com precisão a quantidade de carbono em florestas foi utilizada para gerar um novo mapa para o bioma Amazônia, que responde por 49,5% do território brasileiro. O retrato mais atualizado serviu de base para calcular as emissões e as remoções de gases de efeito estufa (GEE) para o bioma no setor Uso da Terra, Mudança do Uso da Terra e Florestas (LULUCF, na sigla em inglês), um dos cinco setores que compõem o Inventário Nacional de GEE, cuja elaboração é coordenada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
O mapa de carbono indica a quantidade de biomassa, ou seja, a vegetação que há no bioma e, de acordo com a estrutura florestal encontrada, permite estimar quanto carbono está armazenado nela. O novo mapa substitui a referência utilizada anteriormente, que era baseada no inventário florestal da década de 1970, realizado pelo projeto Radam Brasil.
“Esse é mais um esforço do Brasil para atualizar as informações, buscando uma base de dados mais precisa sobre o bioma Amazônia”, analisa Márcio Rojas, diretor Nacional da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) e Coordenador-Geral de Ciência do Clima e Sustentabilidade do MCTI.
O Inventário Nacional permite incorporar novas informações, à medida que o conhecimento avança. Quando isso ocorre, a série história de emissões e remoções de GEE é recalculada. “Toda a vez que se muda [metodologia ou base de dados], a série histórica é recalculada, pois é importante haver consistência temporal”, explica a coordenadora técnico-científica do setor LULUCF, professora Mercedes Bustamante.
Tecnologia utilizada - O novo mapa de carbono do bioma Amazônia foi obtido pelo grupo de pesquisa de Estimativa de Biomassa na Amazônia (EBA), da Divisão de Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), unidade de pesquisa do MCTI. O grupo quantificou o carbono da vegetação do bioma Amazônia a partir da tecnologia de escaneamento a laser, que é considerada uma das tecnologias de sensoriamento remoto de maior precisão para estimar o carbono em florestas.
A tecnologia aerotransportada consegue detalhar melhor a estrutura florestal, identificando as variações espaciais, e sobretudo a altura do dossel (estrato superior das florestas), utilizado para caracterizar as florestas. Equipado com um sensor a laser Light Detection and Ranging (LiDAR), um avião sobrevoou a floresta a 600 metros de altitude, o que é considerado um voo a baixa altura. Os pontos de laser indicaram a distância entre a copa das árvores e o solo. A partir disso, o sistema calculou a altura das árvores, a dimensão da copa e a densidade dos troncos. Para a elaboração do mapa, foram usados dados de 836 transectos, que são as faixas de sobrevoo com o laser. A dimensão de cada faixa é de aproximadamente 400 metros de largura por 12,5 quilômetros de comprimento.
“A metodologia Lidar permite mapear a estrutura vertical da floresta, que associada a validações em solo e equações matemáticas, permite estimar com bastante precisão o conteúdo de biomassa. O carbono deriva dessa estimativa. Aproximadamente metade da biomassa da floresta é constituída de carbono”, explica o coordenador do projeto e pesquisador do INPE, Jean Ometto.
Segundo Ometto, o estudo cobre praticamente toda a região amazônica. Essa abrangência espacial torna o estudo inédito. Além disso, o conhecimento gerado a partir do mapeamento permitiu registrar variações regionais e locais dentro do bioma Amazônia. “Identificamos a maior árvore já reportada na região, um Angelim Vermelho de 88.5 metros de altura, mapeamos clareiras e degradação na floresta, e caracterizamos variáveis ambientais que contribuem à variação na altura média das árvores”, detalha o pesquisador.
Os voos foram realizados entre 2016 e 2017 e o estudo contou com apoio do Fundo Amazônia e recursos do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES). Além dos dados LiDAR, foram utilizadas outras duas camadas de informação, com as quais foram efetuadas correlações ou extrapolações da biomassa para toda a área de cobertura florestal do bioma: imagens de satélite e dados de inventários florestais em campo, estes obtidos por meio de parceria celebrada com instituições.
A precisão do sistema permite que os dados sejam utilizados para elaborar modelos digitais do terreno em alta resolução, o que contribui para identificação de irregularidades do terreno, altura da vegetação, variabilidade de condições e características florestais, como florestas protegidas, degradadas, florestas secundárias e alagáveis. “Uma maior precisão na quantificação de carbono é muito importante para as estimativas de emissões de gases do efeito estufa a partir do desmatamento, queimadas, degradação florestal e exploração madeireira. Da mesma forma, para identificar quanto o país deixa de emitir quando coíbe ações ilegais de supressão da vegetação, sendo esse ponto relevante aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil”, explica Ometto.
Além disso, o pesquisador destaca que a supressão da vegetação nativa é item importante para o perfil de emissões do Brasil. “É um setor crítico para ações do Estado na prevenção das emissões e um enorme recurso natural que o país detém e que pode contribuir à sua trajetória sustentável de desenvolvimento”, analisa o pesquisador. De acordo com os dados do Quarto Inventário Nacional de Emissões e Remoções de GEE – 2016, LULUCF permanece com papel importante na modulação das emissões brasileiras, contribuindo com 27,1%.
Acesse aqui o relatório de referência do setor LULUCF, documento técnico que apresenta o detalhamento da base de dados, da metodologia e de outras informações, do Inventário Nacional da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à UNFCCC.
Acesse aqui a Quarta Comunicação Nacional do Brasil à UNFCCC.