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MCTI produz novos mapas de uso e cobertura da terra para o bioma Mata Atlântica
Novos mapas de uso e cobertura da terra para o bioma Mata Atlântica produzidos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) foram utilizados para conferir mais precisão às estimativas da série histórica de emissões e remoções de gases de efeito estufa (GEE) para o setor Uso da Terra, Mudança do Uso da Terra e Florestas (LULUCF, na sigla em inglês). Este é um dos cinco setores que compõem o Inventário Nacional de Emissões e Remoções de GEE da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês).
“Identificamos uma oportunidade de melhoria para termos uma base de dados, considerando a série histórica, mais precisa e, a partir desse novo mapeamento, estimar emissões do bioma com menos incertezas associadas”, explica Márcio Rojas, diretor Nacional da Quarta Comunicação Nacional e coordenador-geral da Ciência do Clima e Sustentabilidade do MCTI, sobre o esforço empreendido pela pasta em conjunto com especialistas para ajustar as emissões da série histórica.
O bioma Mata Atlântica responde por 13% do território brasileiro e ocorre ao longo da faixa litorânea, na qual concentra-se a maior parte a população brasileira. De acordo com dados do Inventário Nacional, cerca de 68,5% do bioma é antropizado, ou seja, sofreu ação humana.
Produzidos a partir de imagens de satélite, os mapas de uso e cobertura da terra indicam as áreas de florestas, pastagem, agricultura, área urbana etc. A comparação da série histórica permite identificar as mudanças de uso e cobertura da terra ocorridas. Aos mapas são associados fatores de estoque de carbono específicos para cada bioma. Como resultado, têm-se as estimativas de emissões e remoções de GEE. “Quanto maior a precisão do mapeamento, maior será a acurácia das estimativas de emissões e remoções de CO2 associadas à dinâmica de uso e cobertura da terra”, afirma Rojas.
Avaliação externa independente - A necessidade do novo mapeamento foi detectada a partir da identificação de que áreas de floresta deste bioma haviam sido convertidas para pastagem em período anterior à série história do Inventário Nacional, que se inicia em 1990. Outro aspecto que mereceu a atenção dos especialistas foi a padronização dos critérios para a elaboração do mapeamento para os anos de 1994, 2004, 2010 e 2016, anos mapeados nos Inventários Nacionais do Brasil, e a diferenciação das variações naturais de sazonalidade no bioma (períodos secos/chuvosos).
Para se ter uma ideia do grau de precisão, as amostras dos polígonos de desmatamento avaliadas para validar a metodologia garantiram um nível de confiança superior a 95% e uma margem de erro inferior a 5%. Durante o processo de validação dos mapas gerados até o 3º Inventário Nacional (2010), no período de 1994 a 2002, foram identificados 217.771 polígonos de desmatamento, com uma área total de 2,8 milhões de hectares. Entre 2002 e 2010, foram identificados 455.518 polígonos de desmatamento, com uma área total de 6,3 milhões de hectares.
A nova metodologia que padronizou a produção dos mapas e os novos mapas elaborados por meio da interpretação das imagens de satélite para os anos de 1994, 2002 e 2010 foram também validados por um comitê externo formado por especialistas brasileiros no assunto, e que não integraram a equipe de elaboração do Inventário Nacional. Essas medidas atendem aos processos de controle e garantia de qualidade das informações geradas, conforme orientações do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).
A revisão dos mapas considerou as características específicas da Mata Atlântica, como o relevo diversificado e caracterizado por planaltos e serras, as variações de latitude, o grau de antropização por diferentes históricos de ocupação e uso do território brasileiro, para garantir um maior detalhamento na delimitação dos polígonos analisados. As diversas iniciativas de mapeamento já existentes para o bioma também foram consideradas a título de comparação.
“Fazer uma verificação dupla dos resultados sempre é importante”, avalia o engenheiro florestal, Carlos Roberto Sanchetta. O professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi o especialista externo responsável pela validação dos valores de estoque de carbono da vegetação natural pretérita do bioma Mata Atlântica.
O estoque de carbono da vegetação é estimado a partir dos diferentes componentes da biomassa, viva e morta, abaixo e acima do solo. Esse estoque é utilizado para os cálculos de emissões e remoções de GEE do setor LULUCF. Houve um esforço do governo brasileiro para a atualização desses dados para o bioma Mata Atlântica. A revisão dos números considerou também os dados mais recentes do Inventário Florestal Brasileiro, elaborado pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB).
Na avalição do especialista, esse processo de validação externa e independente é fundamental para a credibilidade dos resultados. “À medida que são valores importantes, que terão repercussão, é importante que pessoas e instituições participem desse processo externo para dar credibilidade e aferir os números. Ao final, o que queremos é um inventário de boa qualidade e essa participação externa é importante”, explica.
Sanchetta, que colabora com o IPCC desde 2010 e acompanha relatórios produzidos por outros países, afirma que realizar um inventário nacional de emissões GEE com grandes dimensões territoriais e variações de ecossistemas sempre é um desafio. No entanto, a utilização correta das ferramentas disponibilizadas, como as guias metodológicas do IPCC, associadas à uma consistente base de dados específicos para cada bioma e literatura científica nacional, apresentam à sociedade brasileira e à comunidade internacional informações qualificadas.
“Ter fatores de emissão específicos denotam um trabalho de qualidade e premiam a ciência, porque estamos à serviço da sociedade. Os especialistas das organizações internacionais vão enxergar que o trabalho foi feito com competência pelo Brasil, gerando qualidade da informação para o inventário”, analisa.
Com a nova base de dados, foi possível ajustar as emissões da Mata Atlântica ao longo da série histórica, refletindo mais fidedignamente a trajetória de emissões, que estavam superestimadas, especialmente para o período entre 2002 e 2010.
Acesse aqui os Relatórios de Referência Setorial, documentos técnicos que detalham a base de dados, metodologia e outros aspectos da elaboração do Inventario Nacional de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa.