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ENTREVISTA: Diretor do Departamento de Ciência, Tecnologia e Inovação Digital do MCTI, José Gontijo
Com a edição do Decreto nº 9.854, de 25 de junho de 2019, foi instituído o Plano Nacional de Internet das Coisas (IoT), dispondo sobre a Câmara de Gestão e Acompanhamento do Desenvolvimento de Sistemas de Comunicação Máquina a Máquina e Internet das Coisas. O Plano Nacional de Internet das Coisas tem por objetivos melhorar a qualidade de vida das pessoas e promover ganhos de eficiência nos serviços, por meio da implementação de soluções de IoT; promover a capacitação profissional relacionada ao desenvolvimento de aplicações de IoT e a geração de empregos na economia digital; incrementar a produtividade e fomentar a competitividade das empresas brasileiras desenvolvedoras de IoT, dentre outros. O artigo 4º do referido decreto, estipula que “Ato do Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações indicará os ambientes priorizados para aplicações de soluções de IoT e incluirá, no mínimo, os ambientes de Saúde 4.0, Indústria 4.0, cidades inteligentes e Agro 4.0
Dessa forma os Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), lançaram em 2019 a Câmara do Agro 4.0, por meio do Acordo de Cooperação Técnica (ACT), com a missão de integrar a iniciativa privada, universidades e institutos de Ciência e Tecnologia em ações de expansão da internet no meio rural e aquisição de tecnologias e serviços inovadores no ambiente rural.
Quais são os trabalhos do MCTI no setor Agro?
Atuamos conjuntamente com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). No âmbito da Câmara do Agro 4.0, em 2020, por exemplo, foi lançado o edital de Tecnologias 4.0 da ABDI. Foram destinados R$ 4.8 milhões para projetos voltados ao agronegócio. Foram recebidas 100 propostas, sendo 14 selecionadas. Tivemos, também, em 2020, o edital Tecnologias 4.0 que destinou R$ 15 milhões para projetos de desenvolvimento tecnológico no Agro, uma parceria FINEP/MCTI. Outro exemplo, foi a descentralização de recursos da ordem de R$ 3 milhões para a EMBRAPA, com o objetivo de criar, implementar e estruturar o Agtech Farm, um laboratório vivo no conceito Farm Lab, viabilizando um ambiente para descobrimento, experimentação e implementação de novas ideias, para a transformação de conceitos em valor e que impulsione a inovação aberta e o empreendedorismo no agronegócio brasileiro.
O que é a Câmara do Agro 4.0? Quem faz parte da iniciativa e qual o papel do MCTI na Câmara?
É um fórum coordenado conjuntamente entre os Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A iniciativa conta com ampla participação do setor privado, academia, institutos de ciência e tecnologia e demais atores relevantes do ecossistema de inovação no contexto do agronegócio nacional, cujo objetivo é aproximar os membros, elencar e discutir temas prioritários, buscar sinergias, alinhar ações, articular e propor iniciativas para alavancar as diretrizes básicas do ACT.
Poderia falar sobre o Plano de Ação 2021-2024 da Câmara do Agro?
O Plano foi apresentado ao Conselho Superior (MAPA, MCTI, CNA e OCB) da Câmara do Agro 4.0 e aprovado em reunião realizada em abril deste ano. O objetivo é ser um instrumento indutor do uso de conceitos e práticas relacionados à Agro 4.0, visando a promoção de ações voltadas à expansão da internet no campo e a aquisição de tecnologias e serviços inovadores no ambiente rural. Para alcançar este objetivo, o Plano lista ações e iniciativas para superar os desafios elencados pela Câmara Agro 4.0: introduzir o uso de tecnologias do Agro 4.0 nas pequenas, médias e grandes propriedades; garantir instrumentos para que soluções de empresas de base tecnológica, startups e integradoras possam ser ofertadas e disponibilizadas diretamente aos pequenos, médios e grandes produtores; assegurar estabilidade e volume de recursos a custo adequado para implementação de iniciativas para o Agro 4.0; identificar e desenvolver soluções para o Agro 4.0, adequadas ao agronegócio; e evitar a sobreposição de esforços individuais de instituições públicas e privadas para solucionar necessidades e demandas do Agro 4.0 no Brasil.
O Centro de Referência em IoT e Tecnologias 4.0 em Sorocaba também vai explorar as tecnologias do setor agro?
O Centro de Referência em IoT e Tecnologias 4.0 - CET 4.0 em Sorocaba (SP) visa conectar as empresas com a infraestrutura e a competência das instituições locais para o fomento à implementação de tecnologias 4.0, entre outros objetivos. Atua em todo o ciclo do produto - da produção ao descarte - com vistas a disponibilizar tecnologias que levem a melhoria de produtividade e de competitividade das empresas localizadas na região metropolitana de Sorocaba (SP). O CET 4.0 atuará como um hub para conectar todos os atores para solucionar desafios relacionados a tecnologias 4.0 em diversos setores, inclusive em tecnologias voltadas para o Agro 4.0. As instituições também capacitarão as empresas que necessitarem.
Poderia falar sobre o Acordo de Cooperação Técnica assinado pelo MCTI, MAPA e Finep para o desenvolvimento tecnológico do setor Agro?
O Acordo de Cooperação Técnica (ACT) visa a implementação de ações conjuntas voltadas ao fomento da pesquisa, desenvolvimento e inovação em empresas e ICT’s no setor agropecuário. O objetivo é elevar os investimentos em PD&I, por meio de financiamento reembolsável (crédito) e não reembolsável da Finep, de forma a atender diretrizes estabelecidas pelos dois ministérios. As propostas deverão contemplar temas prioritários do MCTI, como tecnologias habilitadoras nas áreas de inteligência artificial, internet das coisas, biotecnologia e nanotecnologia; tecnologias de produção (indústria e agronegócio); segurança hídrica; e tecnologias para o desenvolvimento sustentável (bioeconomia, poluição e preservação ambiental). Também deverão estar alinhadas com os eixos estratégicos e de impacto do MAPA, que englobam tecnologias nas áreas digital, de sustentabilidade, segurança alimentar, inovação aberta, entre outras.
O senhor poderia citar exemplos de novas tecnologias que já estão no campo e tem o apoio do MCTI?
Os projetos abaixo são apoiados pelo MCTI por TED e pelo edital Finep de Tecnologias 4.0
I - Plataforma de Inteligência Artificial para o Agro, que foi desenvolvida pelo CPqD e será entregue ainda este ano;
II - Modem 5G-IoT para áreas remotas, desenvolvido pelo INATEL, com capacidade de conectividade para longas distâncias;
III - Supercomputador com software dedicado para previsão climatológica com antecedência de seis meses, que será utilizado pelo INMET;
IV - Tecnologia 4.0 biodigital para processos, máquinas e equipamentos da produção de bioinsumos para a agricultura.
V - Pesagem de bovinos por imagem, utilizando câmera 3D portátil.
VI - Implantação de automação, controle, monitoramento e gestão do plantio de cana picada com difusão do conhecimento e tecnologia 4.0.
VII - Implementação de Inteligência Artificial para realizar mapeamento autônomo do pomar através de um sistema de Visão Computacional.
VIII - Sistema de suporte a decisão para controle da ferrugem da soja utilizando analytics da interação entre a favorabilidade ambiental e monitoramento semanal do inóculo.
IX - Implementação de um sistema de monitoramento da umidade do solo através de sensoriamento remoto e IoT, para controle da irrigação.
X - Implantação de uma plataforma/aplicativo que permita quantificar o nível tecnológico e grau de informação dos produtores rurais em uma escala nacional, ao mesmo tempo que indique caminhos sólidos para adoção de tecnologias 4.0, respeitando a curva de aprendizagem e aumentando a eficiência da adoção destas tecnologias.
XI - Pulverização Inteligente (implantação de sensores adaptáveis a qualquer tipo de pulverizador, que identificam plantas vivas e pulverizam somente sobre as mesmas, podendo reduzir em até 95% o uso de defensivos agrícola).
XII - AvIoT: Avicultura Conectada, Inteligente e Otimizada (Implantação de solução para monitoramento constante da produção e aplicação de técnicas de Inteligência Artificial (IA) e aprendizagem de máquina para que se obtenha os melhores parâmetros para produção de aves de corte e que deverão proporcionar melhorias constantes na qualidade e rentabilidade do produtor e da cooperativa, com identificação de correlação de eventuais doenças nas aves-ambiência-homogeneidade de peso e qualidade).
XIII - Implantação de rastreamento, monitoramento e controle remoto, em tudo que se refere à aplicação de aditivos voltados para a nutrição animal em uma plataforma online, com relatórios de consumo, relatório de falhas de dosagem com uma linha do tempo até a sua resolução, alertas de manutenção preditiva e corretiva dos equipamentos utilizados para este fim, verificação de estoques de produto, calculadoras de dosagem para conferência das dosagens.
XIV - Implantação de solução, incluindo equipamento que classifica diversos tipos de grãos automaticamente e torna o processo de classificação mais ágil e transparente para todos os envolvidos na cadeia de comercialização de grãos.
XV - Automatização do processo de revolvimento de grão de café no terreiro de secagem e acompanhamento em tempo real de possíveis problemas e desigualdades nas temperaturas de secagem do café.
XVI - Implantação de solução para digitalização e integração da cadeia do peixe da Amazônia.
XVII - Implantação de plataforma de inteligência de informações de mercado para a maximização do lucro de produtores e da indústria frigorífica (inclui soluções para monitoramento da origem do animal, monitoramento da cadeia, monitoramento da qualidade, previsão de demanda e marketplace).
Qual é a importância de levar a tecnologia 4.0 para toda cadeia agrícola?
Essa iniciativa visa estimular o ambiente de inovação digital no agronegócio por meio de soluções práticas e aplicadas às cadeias de valor nos segmentos dentro e fora da porteira, como também em ecossistema de cadeias produtivas. Estamos alavancando o futuro do agronegócio com soluções digitais, com foco em aumento de eficiência, produtividade e redução de custos junto a produtores e indústrias.