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Melhora na produtividade do rebanho bovino brasileiro influencia redução per capita animal das emissões de metano, aponta estudo
A melhora na qualidade das forragens que alimentam o rebanho bovino no Brasil está entre os principais fatores que podem influenciar a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) liberados durante o processo digestivo animal, chamado de fermentação entérica. É o que indica um estudo que considera a emissão per capita animal de metano realizado por pesquisadores da Embrapa Pecuária Sudeste no âmbito da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), documento elaborado sob coordenação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
A fermentação entérica é um processo digestivo animal que libera gás metano. É também a denominação de um dos sete subsetores do setor Agropecuária, que, por sua vez, integra os cinco setores que compõem o Inventário Nacional de Emissões e Remoções Antrópicas de GEE.
“O esforço para conhecer melhor os fatores de emissão da pecuária brasileira representa a contribuição da ciência para a sustentabilidade de um importante setor produtivo”, analisa o diretor Nacional da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à UNFCCC e coordenador-geral de Ciência do Clima e Sustentabilidade do MCTI, Márcio Rojas.
O estudo demonstrou que a melhoria da digestibilidade dos ruminantes (bovinos de corte e de leite), proporcionada pela alimentação, favoreceu diretamente o ganho de peso em menos tempo, e, como cobenefício, diluiu as emissões de GEE.
De acordo com o coordenador técnico do subsetor de Fermentação Entérica do Inventário Nacional e pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, Alexandre Berndt, a digestibilidade animal é um fator relevante para calcular as emissões de GEE provenientes da pecuária, conforme a metodologia do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) de 2006. “A análise de sensibilidade do modelo do IPCC, de Tier 2, indicou que uma mudança no percentual da taxa de digestibilidade tem um impacto maior”, explica o pesquisador sobre a escolha em estudar a digestibilidade para encontrar fatores e parâmetros nacionais para serem adotados nos cálculos do subsetor.
Berndt e sua equipe consultaram cerca de 200 publicações científicas em busca de dados desde a década de 1970 sobre sistemas de pasto experimental brasileiro que foram implementados em escala produtiva e sua relação com a digestibilidade dos bovinos nas diferentes regiões do território nacional. A compilação das informações, incluindo o recorte por estado, foram aplicadas ao modelo matemático.
Por meio da avaliação das condições brasileiras de produção nos últimos 40 anos, os pesquisadores identificaram uma trajetória de implementação de tecnologias na pecuária. Entre as quais estão a introdução de forragens com melhoramento genético, o manejo do solo com adubação e aplicação de calcário para correção do pH, o pastejo rotacionado ou intermitente, a recuperação de pastagens degradadas, o uso de complementos minerais na alimentação dos animais, cuidados para o bem-estar animal, vacinação, manutenção da sanidade do rebanho, entre outras técnicas e tecnologias desenvolvidas e difundidas junto aos produtores brasileiros. Juntas, as iniciativas formaram um pacote de tecnologias que, aliadas a políticas públicas, contribuíram para o país alcançar a liderança em produção e exportação de carne bovina.
“É um indicador relativamente simples, mas que carrega uma série de tecnologias adotadas”, analisa o pesquisador.
Redução de emissões GEE por cabeça animal - A importância de conhecer melhor as condições e peculiaridades da pecuária no ambiente tropical está diretamente relacionada à relevância econômica da atividade para o país e à segurança alimentar mundial.
Detentor do maior rebanho comercial bovino do mundo, com uma produção anual média próxima de 9,1 milhões de toneladas de carne em 2016, o Brasil é o segundo maior produtor mundial e líder em exportações de carne.
Ao comparar as emissões de GEE por Fermentação Entérica ao longo de 26 anos, que compreende o período de 1990 a 2016, que é o mesmo da série histórica do Inventário Nacional da Quarta Comunicação Nacional, a análise da emissão de metano por cabeça de gado de corte indica uma redução de 8,2%. Ou seja, a taxa per capita animal de emissões reduziu. Logo, o aumento de emissões de GEE de 32% do subsetor registrado nesse período é decorrente do aumento do rebanho bovino, que cresceu 48% no mesmo período. Segundo dados do IBGE, o rebanho bovino do Brasil, somou 218 milhões de cabeças em 2016, sendo que cerca de 80% do rebanho tem finalidade de corte.
Essa redução está diretamente relacionada ao aumento de 7,6% da taxa de digestibilidade das forragens consumidas pelo rebanho, cuja taxa média nacional passou de 55,6% para 59,8%, e que exerce influência direta na intensidade das emissões expelidas pelo animal. “A redução de emissão per capita é resultado das tecnologias aplicadas”, avalia o pesquisador.
Outro aspecto metodológico relevante incorporado ao subsetor Fermentação Entérica foi a segmentação mais detalhada para calcular as emissões da bovinocultura de corte e de leite. Isso quer dizer que as fases e/ou etapas de produção foram caracterizadas de modo mais preciso, considerando o peso do animal, idade, machos e fêmeas. No caso da produtividade do rebanho de leite, também foram consideradas as divisões de alta e baixa produção de leite. Para a bovinocultura de corte, foram especificadas também a criação por meio de confinamento. “O confinamento é uma decisão tecnológica que encurta o ciclo de produção”, exemplifica o pesquisador sobre a redução das emissões por meio deste processo.
Acesse aqui o Relatório de Referência Setorial do setor Agropecuária, documentos técnicos que detalham a base de dados, metodologia e outros aspectos da elaboração do Inventario Nacional de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa.
Acesse aqui a Quarta Comunicação Nacional do Brasil à UNFCCC.