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Lições aprendidas na Coreia do Sul são compartilhadas no Bate Papo Ciência e Tecnologia
“Veja a Coreia do Sul o que eles não têm e o que eles são. Agora veja o Brasil, o que nós temos e não somos”. A frase foi dita pelo presidente da República Jair Bolsonaro ao ministro do MCTI Marcos Pontes. Desde então o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações gosta sempre de complementar a palavra “ainda” ao final da frase de Bolsonaro. E para aprender como a Coreia do Sul conseguiu nas últimas décadas se transformar numa das maiores potências mundiais nas áreas de educação, ciência e tecnologia, uma comitiva do MCTI viajou até o país asiático na última semana.
Os acordos firmados, o aprendizado adquirido e as principais impressões da delegação brasileira foram debatidos no já tradicional programa semanal, Bate Papo Ciência e Tecnologia. Participaram tanto da viagem quanto da conversa na terça-feira (23), os secretários do MCTI, de Pesquisa e Formação Científica, Marcelo Morales, de Empreendedorismo e Inovação, Paulo Alvim, além do diretor de Promoção e Difusão da Ciência, Tecnologia e Inovação, Daniel Lavouras.
“Viajamos com objetivos bem definidos. Realizar parcerias e trocas de conhecimento nas áreas de educação, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e formação profissional, empreendedorismo e inovações”, explicou Marcos Pontes. O ministro lembrou que a Coreia do Sul chegou aonde está hoje por conta de investimentos estratégicos em educação, ciência, tecnologia e inovações.
A Coreia do Sul é um país que não tem a riqueza de recursos naturais que o Brasil possui. “Eles ressaltaram muito que não possuem essa capacidade [recursos naturais]. Por isso queremos somar essa capacidade tecnológica deles com nossos recursos [naturais] como materiais avançados, nióbio, grafeno”, exemplificou Pontes.
Atualmente existe uma parceria com a Coreia do Sul estabelecida, segundo o ministro: um sistema de compartilhamento de soluções, um programa de cooperação. “Nossa equipe técnica do MCTI está trabalhando com esquipes de técnicos coreanos fazendo uma comparação da história do desenvolvimento da educação, ciência e tecnologia deles com a nossa história e situação atual. A ideia é que possamos ter estratégias que utilizem de todo o conhecimento que eles tiveram para que possamos traçar essa mesma trajetória de sucesso”.
Outra coisa que chamou a atenção do ministro foi um gráfico apresentado pelos sul coreanos sobre o histórico de investimentos públicos em ciência, tecnologia e inovações. No início dos anos 70 quase que 100% dos investimentos eram públicos. Com o passar dos anos a proporção foi sendo alterada até que atualmente são 22% de investimentos do setor público contra 78% do setor privado. “Os sul coreanos investem mais de 4% do PIB deles nas áreas de ciências, tecnologias e inovação. E apostam muito no que defendemos aqui no MCTI desde o início de minha gestão. Que o conhecimento adquirido nas universidades seja transformado em produtos e serviços para geração de nota fiscal, riqueza e melhoria na qualidade de vida das pessoas”.
Um dos locais visitados pela comitiva do MCTI foi a fábrica da Samsung. Habituado aos produtos tecnológicos da empresa, o secretário de Pesquisa e Formação Científica, Marcelo Morales ficou surpreso em saber que a gigante sul coreana também está atuando na área de biotecnologia. “Fizemos um link com tudo que estamos fazendo com Ciência para Amazônia e os biomas brasileiros. Discutimos possibilidades de parcerias para exploração sustentável desses novos insumos, fármacos, cosméticos que podem ser produzidos”, revelou Morales.
O secretário da SEPEF detalhou no encontro projetos do MCTI como o Ciência para Amazônia que inclui os Laboratórios Satélites da Amazônia (Projeto SALAS MCTI), toda a infraestrutura de laboratórios que vão processar insumos e transformá-los em produtos ativos para a produção de Insumos Farmacológicos Ativos (IFAS). “Atualmente o Brasil tem importando esse tipo de insumo, mas a ideia é começarmos a prospectar e produzir esses insumos aqui, inclusive para o desenvolvimento de vacinas”.
Morales ressaltou que a conversa com os executivos da Samsung foi no sentido de trabalhar em conjunto com a bioeconomia, biotecnologia e o desenvolvimento sustentável da Amazônia. “Não queremos apenas a transferência de tecnologias, queremos a parceria deles para produzir os IFAs a partir da nossa biodiversidade com toda essa infraestrutura que estamos formando na Amazônia e em outros biomas. Serão parcerias importantes para o Brasil não ficar mais dependente dos IFAs produzidos em outros países”, afirmou.
O secretário de Empreendedorismo e Inovação, Paulo Alvim destacou que teve a oportunidade de ver acontecer na Coreia do Sul o que o governo brasileiro quer fazer para acelerar o processo de geração de negócios, empreendimentos, de produtos e serviços intensivos em conhecimento científico e tecnológico. “Nas nossas visitas o ministro foi questionado frequentemente se os mestres e doutores do Brasil estão mais na academia ou no setor profissional. Ao contrário do que vemos atualmente no nosso país, na Coreia do Sul os pesquisadores e maiores detentores do conhecimento estão mais na iniciativa privada transformando todo o conhecimento adquirido em produtos, serviços, nota fiscal”, ressaltou.
Alvim lembrou também o Programa Bolsa Recursos Humanos em áreas estratégicas (RHAE) do CNPq que busca justamente isso. “Queremos levar mestres e doutores para a iniciativa privada e mais do que isso, que eles trabalhem atendendo demandas do setor produtivo”, reforçou.
Segundo o secretário da SEMPI o papel do poder público é investir na geração de conhecimento com o fortalecimento da infraestrutura de pesquisas científicas e tecnológicas. Neste contexto o setor empresarial em contrapartida entra para viabilizar a transformação deste conhecimento em negócios e produtos. “Me marcou a intensidade do uso das tecnologias digitais na Coreia do Sul em benefício da qualidade de vida dos coreanos. Eles trabalham sempre para melhorar a mobilidade, a segurança, o acesso a saúde, o acesso à educação, ou seja, criando condições mais favoráveis para a melhoria da qualidade de vida do cidadão. E é exatamente isso que queremos replicar no Brasil”, afirmou.
Para o diretor do Departamento de Promoção e Difusão da Ciência, Tecnologia e Inovação, Daniel Lavouras a grande inspiração que a delegação brasileira trouxe da Coreia do Sul foi saber que todas essas competências, e a capacidade do país de produção de tecnologia avançada começou com investimentos substanciais em educação. “Para ter uma geração de massa crítica devemos começar na origem. Despertar o interesse científico nos nossos jovens, capacitar os professores desde o ensino básico até a universidade. Isso passa pela pauta do MCTI e temos muito o que aprender com a Coreia do Sul”, finalizou.
Veja como foi o Bate Papo dessa terça (23).