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Nitazoxanida reduz carga viral em pacientes com sintomas iniciais da Covid-19, mostra prévia de estudo clínico do MCTI
Uma divulgação prévia do artigo científico do ensaio clínico com a nitazoxanida contra a Covid-19, publicada nesta sexta-feira (23) em um repositório de preprints, mostra entre outros resultados que o medicamento é eficaz em reduzir a carga viral em pacientes tratados na fase inicial da doença.
Para apresentar os dados e detalhar a pesquisa, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) realizou neste sábado (24), no Rio de Janeiro – RJ, uma coletiva de imprensa com o ministro Marcos Pontes, a professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do estudo, Patrícia Rocco, e o secretário de Pesquisa e Formação Científica do MCTI, Marcelo Morales.
O estudo clínico apoiado pelo MCTI é multicêntrico (voluntários provenientes de centros de pesquisa/hospitais diferentes), placebo-controlado (um grupo recebeu a medicação e outro placebo), randomizado (pacientes foram aleatoriamente escolhidos para compor o grupo de controle ou placebo) e duplo cego (nem o médicos nem o pacientes souberam quem recebeu nitazoxanida ou placebo). De acordo com a coordenadora do estudo, foram necessários 1.575 voluntários com sintomas gripais (tosse, febre, por exemplo) para alcançar o número de 475 pacientes que testaram positivo para o Sars-CoV-2.
“Queríamos nos certificar de que estávamos trabalhando com pacientes com diagnóstico positivo para Covid-19 em swab de nasofaringe”, explicou a professora, referindo-se ao método utilizado no teste do tipo RT-PCR, que detecta com precisão a presença do vírus. “Muitos voluntários apresentavam sintomas similares aos da Covid-19, mas eles não tinham a doença”. A coordenadora explicou ainda outras causas que levaram à exclusão de participantes, única e exclusivamente pelo fato de não terem concluído o estudo, por motivos diversos como desistência voluntária ou por terem interrompido o tratamento, chegando ao número total de 392 aptos a serem analisados, segundo critérios do estudo.
Os dados apresentados mostram que após 5 dias de tratamento houve uma redução da carga viral dos pacientes do grupo tratado com nitazoxanida quando comparado ao controle. Além disso, após 7 dias do fim do tratamento (5 dias de medicação), 78% dos pacientes do grupo que recebeu a nitazoxanida não apresentavam sintomas, contra 57% no grupo que recebeu o placebo.
Foi ressaltado ainda pela coordenadora que 30% dos pacientes apresentavam negativação quanto a presença do vírus pelo RT-PCR de naso-orofaringe quando tratados com nitazoxanida, contra apenas 18% no grupo que recebeu placebo.
A carga viral no estudo foi expressa em escala logarítmica, como preconizado na literatura científica (logaritmo na base 10 do número de cópias do vírus por mililitro) e concluiu a pesquisadora que “a diferença na carga viral não é tênue”.
A coordenadora destacou, ainda, que todas as análises da carga viral foram feitas em um único centro especializado, o CT Vacinas, da Universidade Federal de Minas Gerais, o que reduz o viés de análise.
O ministro do MCTI, Marcos Pontes, ressaltou a forma como o estudo foi construído, “de forma rigorosa, ética, precisa, pragmática e focada em objetivos” com pacientes voluntários em estágio precoce da doença. “A redução da carga viral observada no estudo em associação com dados já publicados anteriormente literatura médica podem indicar uma redução da probabilidade de contágio e de agravamento dos sintomas.”
O titular da pasta destacou que o resultado é mais uma ferramenta, “construída por adição sobre uma base sólida, um tijolo de cada vez”, para o combate e enfrentamento da Covid-19 e elencou uma série de ações imediatas e continuadas do ministério, em várias frentes, na pesquisa para entender o coronavírus, que incluem prevenção, testes diagnósticos e tratamento precoce e avançado, bem como a construção de conhecimento, imunização (vacinas nacionais) e melhoria da infraestrutura de pesquisa e saúde.
“Esse é o resultado que temos. Não podemos extrapolar”, lembrou o ministro, citando que o medicamento não funciona como profilático, por exemplo, esclarecendo aos jornalistas qual é a prescrição do Nitazoxanida e qual o objetivo do estudo.
O secretário de Pesquisa e Formação Científica, Marcelo Morales, apresentou os estudos preliminares (pré-clinicos) que levaram aos ensaios clínicos com a nitazoxanida e afirmou que cientistas de outros países já demonstraram interesse nos resultados. “O que é mostrado na literatura é que a nitazoxanida tem efeito contra alguns vírus, como a Hepatite C e o Rotavírus, inibindo sintomas desses pacientes”, explicou o secretário, ressaltando o efeito antiviral do fármaco.
Em apresentação realizada no Palácio do Planalto, em Brasília, na segunda-feira (19), o ministro Pontes, ao lado da coordenadora e do presidente da República Jair Bolsonaro já havia antecipado qualitativamente o resultado dos ensaios clínicos.
“O ministro Marcos Pontes chegou para mim com uma planilha mostrando os resultados de medicamento, a nitazoxanida. Em um primeiro momento, todos desconfiaram. Com muita coragem o ministro levou a proposta avante até que surgiu essa resposta através das observações, uso pelas pessoas e constatação da diminuição da carga viral”, destacou o presidente Jair Bolsonaro na ocasião.
Segundo a coordenadora do estudo, os detalhes não foram publicados anteriormente porque haviam sido submetidos a uma revista científica que não permitia o preprint. Foi necessário obter autorização do editor da revista para realizar o preprint publicado.
A apresentação deste sábado e a coletiva de imprensa estão disponíveis na íntegra no canal do MCTI no YouTube: www.youtube.com/mctic
Histórico
Utilizando inteligência artificial em testes com 2 mil fármacos, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), organização social vinculada ao MCTI, identificou cinco remédios com potencial para combater a replicação do novo coronavírus. Um deles, a nitazoxanida, reduziu em 94% a carga viral em células infectadas in vitro.
Em seguida, com aprovação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), o ministério deu início ao protocolo de testes com a nitaxozanida no tratamento de pacientes com sintomas iniciais de Covid-19, como febre, tosse e fadiga. Assim foi lançada a campanha #500VoluntáriosJÁ, que levou carretas para receber os participantes dos estudos nas cidades de Ceilândia (DF), Bauru, Sorocaba, Barueri, Guarulhos e São Caetano do Sul, em São Paulo, e Juiz de Fora (MG). Os estudos foram conduzidos no padrão “duplo cego”, em que nem os pacientes ou médicos tinham conhecimento da medicação usada e poderiam tanto receber a nitazoxanida ou o placebo.