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Relatório da OMM aponta necessidade de mais investimentos em serviços meteorológicos e hidrológicos para enfrentar extremos climáticos
Seca no Amazonas em 2023. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
O Relatório do Estado do Clima para América Latina e Caribe publicado, nesta quarta-feira (8), pela Organização Meteorológica Mundial (OMM ou WMO, na sigla em inglês) enfatiza a importância de mais investimentos em serviços meteorológicos e hidrológicos. A medida tem por objetivo reforçar as previsões e os alertas precoces, em especial por conta da rápida intensificação dos eventos extremos.
“Essa seria mais uma medida de adaptação, porque o desastre gerado por extremos precisa de informação meteorológica e de previsão. Tudo isso é feito com dias de antecedência, não é feito no dia anterior”, explica o pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), José Marengo.
Segundo a WMO, dos 32 membros da entidade na América Latina e no Caribe 16 prestam serviços meteorológicos “básicos ou essenciais”. Apenas 6% prestam serviços “completos ou avançados” para apoiar a tomada de decisões em setores sensíveis ao clima. De acordo com os parâmetros da OMM, que não foram detalhados, o Brasil se enquadra como provedor de serviços básicos.
“Os serviços meteorológicos em todos os países estão sofrendo cortes de orçamento e os serviços climáticos que oferecem, como previsão de tempo e clima para saúde, agricultura, estão cada vez mais escassos. Por isso, aparece essa necessidade de melhora a infraestrutura e a formação profissional”, analisa Marengo sobre a região em relação à recomendação da OMM.
O pesquisador brasileiro, ao lado do mexicano Jorge Vázquez, liderou mais de 60 cientistas na elaboração da terceira edição do documento. Houve contribuição de cerca de 30 serviços meteorológicos e hidrológicos, 15 agências internacionais e três agências da ONU. Além dos indicadores climáticos, as análises desta edição envolvem a aplicação para a saúde.
Eventos extremos – Consistente com a tendência global, a América Latina e Caribe 2023 também foi o ano mais quente já registrado. No primeiro semestre do ano, a região foi impactada pelo fenômeno La Niña e no segundo semestre pelo fenômeno El Niño. O relatório aponta que a região registrou 67 eventos extremos, sendo 55% relacionados com enchentes e 22% tempestades. Segundo Marengo, “os extremos estão se tornando mais extremos”.
Entre os exemplos destacados na apresentação do relatório estão o ciclone tropical que devastou a cidade de Acapulco, no México, em 25 de outubro. O fenômeno apresentou uma rápida intensificação e em apenas 15 horas atingiu a categoria 5, com ventos de 260km por hora. Houve danos em 80% da infraestrutura e afetou 96% dos negócios da região, baseada no turismo. Os deslizamentos de terra em São Sebastião, na costa de São Paulo, decorrentes de 683mm de chuva concentradas em 15 horas foi outro exemplo apresentado. O desastre registrado em 15 de fevereiro matou 65 pessoas.
O relatório também aborda a seca severa e extrema que atingiu 60% do território mexicano e as ondas de calor com temperaturas que ultrapassaram 45ºC e provocaram 421 mortes. Na Argentina foi registrada a onda de calor mais intensa desde 2013. No Brasil, o rio Negro atingiu o menor nível em 40 anos.
“Os extremos estão virando mais extremos e os impactos na população, na economia e nos ecossistemas estão cada vez mais intensos”, avalia Marengo sobre o conjunto de eventos registrados em 2023.
Segundo os autores líderes, a rápida intensificação dos eventos extremos exige que os sistemas de previsão e de alertas sejam aprimoramentos, com revisão de procedimentos. Os impactos dos desastres e da mudança do clima provocaram choques socioeconômicos e são os principais fatores para a insegurança alimentar aguda na região.
A diretora-geral da OMM, Celeste Saulo, expressou a profunda solidariedade ao povo brasileiro por conta da enchente histórica que atinge o Rio Grande do Sul desde a semana passada. Saulo destacou a importância da colaboração de todos os membros da OMM na região para a elaboração do relatório, que provê subsídios para a tomada de decisão em níveis nacional, regional e global, e lembrou que o ano de 2023 foi o mais quente já registrado, quebrando todos os recordes dos indicadores climáticos e ambientais. “A América Latina e Caribe foram gravemente afetados”, disse. Segundo Saulo, o reforço nos serviços meteorológicos “é vital para adaptação e resiliência para eventos extremos. Toda a região está exposta”. Entre as recomendações está o incremento na infraestrutura, para suprir lacunas, e profissionalização.
Investimentos brasileiros – O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) anunciou em 2023 o investimento de R$ 200 milhões, por meio de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), para atualizar as capacidades de infraestrutura Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para previsão de tempo e clima, principalmente sobre eventos extremos. O Cemaden está trabalhando para expandir o sistema de monitoramento de desastres e já ampliou de 1.038 para 1.133 municípios. O plano de expansão foi incluído no Novo PAC do governo federal para receber R$ 50 milhões em investimentos. A pasta ministerial também espera recompor o quadro de profissionais dos dois órgãos com a realização do concurso público. O certame previsto para ser realizado no último domingo (5) foi adiado devido à catástrofe climática no Rio Grande do Sul. A nova data ainda não foi informada.
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