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MCTI apresenta experiência brasileira de diálogo entre ciência e política pública na elaboração da Comunicação à Convenção do Clima
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), por meio da Coordenação-Geral de Ciência do Clima, apresentou nesta segunda-feira (26) a experiência brasileira de diálogo entre ciência e política pública na elaboração da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês). O painel “A co-produção do conhecimento e mundos do Antropoceno: a perspectiva do Cone Sul’ integra a programação do seminário científico sobre pesquisa e inovação em sustentabilidade (SRI 2023), realizado a partir do Panamá.
De acordo com a moderadora, Laila Sandroni, fala-se muito da adaptação a partir da perspectiva do Norte global, e o painel é uma oportunidade para conhecer a perspectiva latino-americana. “Todas as experiências compartilhadas [no painel] são da América do Sul. Chile, Argentina e Brasil”, afirmou na abertura.
Sandroni também enfatizou a necessidade de se produzir novas perspectivas, caminhos e diferentes conhecimentos para gerar soluções conjuntas para problemas complexos.
O especialista em vulnerabilidade e adaptação à mudança do clima do MCTI, Diogo Santos, falou sobre os desafios enfrentados para construir o documento, entregue em 2020 à Convenção do Clima, sob as perspectivas científica, política e operacional, e sobre o arranjo institucional, que envolveu mais de uma centena de atores. “Houve muitos desafios ao longo do processo”, ressaltou durante a apresentação sobre a componente de Impactos, Vulnerabilidades e Adaptação à mudança do clima.
Ele enfatizou que houve ampla participação da comunidade científica, por meio da Rede CLIMA (Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais), e de outros atores da sociedade civil e instituições governamentais. Santos demonstrou que os desafios da componente envolveram questões de crescente complexidade, como o uso de conceitos e a incorporação de campos do conhecimento para além da ciência climática em si, onde foi possível avançar até as interfaces entre adaptação, mitigação e desenvolvimento sustentável e como migrar de ações incrementais para transformacionais, desafios que deverão ser abordados como um processo cíclico e contínuo.
“O próprio IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima] reconhece que não se pode isolar a adaptação. Essa agenda está relacionada ao desenvolvimento sustentável. Consideramos que estar atento a essa questão já é um primeiro passo”, explicou sobre os desafios mais complexos que são semelhantes a todos os países em desenvolvimento.
O especialista ponderou que as políticas públicas precisam apresentar as perguntas a serem respondidas pela ciência e a tomada de decisão, pressionada pelo tempo, precisa ocorrer com a melhor informação disponível naquele momento.
Segundo ele, há necessidade de as ciências e as políticas públicas ‘saírem das suas caixas’ e interagirem, dado que a mudança do clima é um desafio transversal. “Para além de falarmos em agricultura, começamos a falar em segurança alimentar. Se pensarmos apenas sob o conceito de agricultura podemos ver a adaptação sob a perspectiva da produção. Mas se olharmos sobre a perspectiva de segurança alimentar temos a oportunidade de incluir o combate ao desperdício, a produção mais próxima dos consumidores, o acesso aos produtos. É mais amplo”, exemplificou sobre a necessidade de envolver diferentes campos do conhecimento, como ciências sociais, ambientais, tecnológicas, para resolver questões de adaptação. “Conseguimos um passo importante de transdisciplinaridade para atender a Quarta Comunicação Nacional”.
Representantes de instituições científicas do Chile e da Argentina também apresentaram suas experiências. A antropóloga social da Universidade do Chile, Anahí Urquiza, apresentou o mapa de riscos climáticos desenvolvido pelo país. Segundo ela, havia muito conhecimento científico, mas havia a necessidade de conhecer as vulnerabilidades e articular as informações para a tomada de decisão. “Havia a necessidade de articular o conhecimento com os atores tomadores de decisão”, explicou na apresentação. Foram organizadas 62 cadeias de impacto e criados índices de risco climático.