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Declínio na aplicação das leis de proteção ambiental dobra emissões de carbono na Amazônia, aponta estudo
Rodrigo Cabral (Ascom/MCTI)
O declínio na aplicação das leis de proteção ambiental, como as políticas públicas de controle do desmatamento, na Amazônia nos anos de 2019 e 2020 resultou no aumento das emissões de carbono. Entre os principais fatores estão o desmatamento, a queima de biomassa e a degradação florestal que dobraram a emissão de carbono e intensificaram seca e aquecimento da floresta úmida. Esse é o principal resultado do artigo publicado pela revista Nature nesta quarta-feira (23).
A perda de carbono no período analisado é comparável com o recorde de aquecimento registrado nos anos de 2015 e 2016, quando ocorreu o fenômeno El Niño e provocou uma seca extrema na região.
O estudo liderado pela pesquisadora Luciana Gatti, do Laboratório de Gases de Efeito Estufa do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), é assinado por 30 cientistas, incluindo profissionais especializados no monitoramento de desmatamento e queimadas do próprio Inpe. Também participaram pesquisadores da área de monitoramento de políticas públicas no controle do desmatamento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), além de outras instituições brasileiras e internacionais (Universidade do Colorado, NOAA e Universidade de Leeds).
Os pesquisadores realizaram 742 voos entre 2010 e 2020, em aeronave de pequeno porte, para coleta de amostras para avaliar o dióxido de carbono presente na atmosfera. Com a frequência aproximada de duas vezes por mês. Compuseram ainda a base de dados analisados as informações sobre desmatamento e queimadas nas áreas de influência das regiões coletadas e quantificadas as ações de controle e punição do desmatamento, por meio dos autos de infrações de desmatamento ilegal. Além disso, os pesquisadores determinaram quais atividades econômicas foram responsáveis pela perda florestal. As principais foram a exportação de madeira bruta, área plantada de soja e milho e rebanho bovino.
Os voos foram realizados em quatro localidades da Amazônia, representando em torno de 80% da Pan-Amazônia. Os pontos de coleta são sobre a floresta e estão distantes das cidades. As referências são Tefé (AM), Santarém (PA), Alta Floresta (MT) e Rio Branco (AC). Os voos em perfil vertical descendente significam que a coleta de ar é realizada entre 4,4 quilômetros de altitude e 150-200 metros do solo.
De acordo com o artigo, nos anos de 2019 e 2020 houve aumento nas emissões de dióxido de carbono (CO2) de 89% em 2019 e de 122% em 2020, quando comparado com o período de 2010-2018. O índice de confiança dos dados é de 95%
Segundo os pesquisadores o aumento é decorrente, principalmente, das emissões na região oeste da Amazônia, região que deixou de ser um sumidouro para ser fonte de emissões. As razões estão diretamente conectadas ao desmatamento na região. Uma análise detalhada dos dados do PRODES (informação oficial do governo brasileiro sobre taxas de desmatamento) indicou que a região registrou crescimento de 82% no desmatamento em 2019 e 77% em 2020 comparado ao período 2010-2018. Nessa região também houve aumento de 14% na área queimada em 2019 e 42% em 2020.
No ano de 2020 houve o agravante de seca na região durante o inicio do ano, com registro de redução de 26% na precipitação e aumento de 0.6 o C nas temperaturas, o que já pode ser um efeito do aumento do desmatamento e das emissões.
Contudo, nessa mesma área as multas emitidas pelos órgãos de fiscalização reduziram 30% e 54%, e os pagamentos das multas reduziram em 74% e 89%, em 2019 e 2020 respectivamente.
Em relação às principais atividades econômicas, os pesquisadores apontam que no período e regiões analisados foram registrados aumentos de: 80% no desmatamento; 42% nas áreas queimadas; 693% na exportação de madeira bruta saindo da Amazônia; 68% na área plantada de soja; 58% na área plantada de milho; e 13% do rebanho bovino dentro da Amazônia, enquanto diminuiu no resto do Brasil.
Confira o artigo em: https://www.nature.com/articles/s41586-023-06390-0