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JORNADA DA DIVERSIDADE
MCom promove debate sobre racismo e consciência religiosa no ambiente de trabalho
(Foto: Amanda Vieira/MCom)
A programação do segundo e último dia da Jornada da Consciência Negra, Respeito e Diversidade iniciou com uma palestra sobre as origens históricas do racismo no Brasil, proferida por Elizeu Soares Lopes, chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do Ministério da Justiça e Segurança Pública. O evento, promovido pelo Ministério das Comunicações (MCom), começou na quinta (28/11) com a participação do ministro Juscelino Filho e o lançamento da cartilha da diversidade, além de debates e diversas atrações, e foi finalizado nesta quarta (29/11).
“As riquezas no Brasil foram construídas sobre os ombros dos escravos, pela escravidão, com o propósito de enriquecer as metrópoles e os países europeus. Todos, quase sem exceção, viveram da escravidão, das riquezas construídas pelo tráfico, pela subjugação do povo negro”, destacou Elizeu Lopes. Na avaliação dele, é preciso resgatar esse histórico para que possamos combater as diversas formas de racismo que ainda perduram atualmente e que colocam a população negra - 53% da população do país - em vulnerabilidade.
“O Estado Brasileiro em 1500 se fundou numa lei de cotas, uma ação afirmativa para os não negros. O principal ativo da apropriação da riqueza era a terra. Na medida em que nós, negros, éramos maioria da população brasileira, nós fomos impedidos de participar desse ativo, o que é pior: nós não fomos indenizados”, explicou Elizeu Lopes, lembrando que o Brasil, ao contrários dos Estados Unidos, indenizou os proprietários de escravos, e não as pessoas que foram escravizadas.
Elizeu Lopes pontuou que o racismo foi legitimado pela ciência (pseudociência que pregava a inferioridade racial dos negros) e pela religião (que dizia que negro não tinha alma) durante o colonialismo. Além disso, a segregação da população negra e sua cultura avançou institucionalmente no Brasil a partir de normativas e debates legislativos como por exemplos a lei contra feiticeiros (1805); a Lei de Terras (1850); o código penal de 1890; a criminalização do curandeirismo (1947), dentre outras.
Ao final da palestra, Elizeu Lopes conclamou os participantes a refletirem sobre a atual tarefa de desconstruir esse projeto político que constitui o racismo. Para isso, mencionou Paulo Freire: “O que quero dizer é o seguinte: que alguém se torne machista, racista, classista, sei lá o quê, mas se assuma como transgressor da natureza humana. Não me venha com justificativas genéticas, sociológicas ou históricas ou filosóficas para explicar a superioridade da branquitude sobre a negritude, dos homens sobre as mulheres, dos patrões sobre empregados, qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é um dever”.
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Consciência religiosa no ambiente de trabalho
A mesa redonda que debateu consciência religiosa no ambiente de trabalho contou com a moderação de Mariana Braga, chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do Ministério da Cultura, e dos participantes Wdson Lyncon Correia de Oliveira, coordenador de participação do Ministério da Igualdade Racial; Adriana Carla, representante do movimento Evangelics; e Anna Karla Pereira, chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.
“A minha realidade enquanto cristã explica porque eu deveria ser uma das pessoas que estaria praticando intolerância religiosa. As pessoas nas igrejas, infelizmente, são criadas, são ensinadas a crescer e pensar que elas estão no lugar da verdade”, relatou Adriana Carla. Na avaliação de dela, o desafio para fazer com que o estado seja laico é começar a se questionar e a se desconstruir.
“A intolerância religiosa não nasce, ela te foi ensinada. Fui ensinada a passar na frente do terreiro de Umbanda, ao ver um despacho e dizer, ‘está repreendido em nome de Jesus’. E é por isso que a intolerância continua a se perpetuar nos espaços de trabalho, de amizade, de faculdade, porque nós não queremos falar sobre isso. E nós precisamos falar sobre isso”. Ela encerrou sua fala alertando para a importância de quebrar o silêncio. “Nós estamos aqui. Se acontece [uma discriminação] no nosso ambiente, não podemos ficar calados. A lei precisa ser aplicada. E isso começa com a gente”.
O coordenador de participação do Ministério da Igualdade Racial, Wdson Lyncon Correia de Oliveira, disse que é doloroso constatar que ainda estamos enfrentando esse cenário de racismo, mas ao mesmo tempo existem conquistas que precisam ser celebradas. “No âmbito do Ministério da Igualdade Racial, a gente instituiu recentemente, em março deste ano o grupo de trabalho interministerial, instituído pelo Decreto 11.446, de enfrentamento ao racismo religioso, que tem como objetivo elaborar um programa de enfrentamento e superação do racismo religioso e fortalecimento dos povos de matriz africana e de terreiro. Porque a intolerância religiosa sobre os povos de terreiro e de matriz africana não é pela religiosidade é por tudo que constitui esse povo enquanto um povo negro”, destacou.
A chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, Anna Karla Pereira, falou sobre a importância de fazer valer o estado laico e não fechar os olhos para o racismo que perpassa as questões religiosas que estão postas na sociedade. “O meu papel enquanto gestor é reconhecer, através dos dados, da ciência, das informações que a gente tem disponível, as desigualdades e as violências que nos atravessam. A partir disso, a gente constitui política intencionalmente para minimizar a desigualdade e enfrentar as violências”.
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